Gabriel Micael Contreira Ferreira

3º semestre de Relações Internacionais da Unama

A “Era do Imperialismo” é um conceito denominado pelo historiador Eric Hobsbawm, no qual caracteriza o período conhecido entre 1875 a 1914, como a busca de domínio econômico dos países mais desenvolvidos no continente africano. Sob essa ótica, é importante citar o Congo Belga, região controlada exclusivamente pelo imperador Leopoldo II, monarca famoso por suas políticas sanguinárias, no qual direcionava grande parte dos recursos congoleses para o setor industrial belga.

Em 1908, o território é oficializado como colônia do país, deixando de ser uma propriedade privada de Leopoldo II; 52 anos depois, o atual país africano conquista sua independência sendo chamado agora de República Democrática do Congo (RDC). Entretanto, um ano depois, o primeiro ministro Patrice Lumumba é sequestrado e assassinado, instaurando um Golpe de Estado no país. 

Ao assumir o poder, Mobutu Sese Seko, muda o nome do território para Zaire e começa a sustentar grupos rebeldes nas regiões vizinhas. Incomodados com os subsídios financeiros ofertados pelo Governo “Zairiano”, Uganda, Ruanda, Burundi e Angola se reuniram para derrubar Mobutu do poder criando a Aliança das Forças Democráticas para Liberdade do Congo (AFDL), resultando na Primeira Guerra do Congo, matando cerca 200 mil pessoas. Na ascensão de Laurent Kabila ao poder, seu governo foi marcado por instabilidades e pela grande presença de forças rebeldes e externas levando a Segunda Guerra do Congo ou “Guerra Mundial Africana” (PRUNIER,2009), conhecida assim, por conta alta quantidade de mortes, 3,8 milhões de mortos, sendo apenas superada pela Segunda Guerra Mundial (TURNER, 2007). 

É possível compreender o conflito do Congo a partir de uma análise Waltzniana, no qual o autor estabelece uma relação entre os três níveis de sua análise, o Homem, o Estado e a Estrutura, resultando numa constante que é a Guerra, essa tríade se relaciona a partir do momento em que Kenneth Waltz defende que o Homem Hobbesiano, aquele que é interesseiro por uma questão antropológica e que o Estado de Hans Morgenthau, sempre pronto para o uso da força, não são componentes suficientes para explicar o cenário incessante de Guerra, introduzindo em sua análise a Estrutura Anárquica, no qual, controla a atuação dos Estados e do Homem no Sistema Internacional. 

Tal perspectiva se torna presente ao longo da narrativa congolesa, desde o seu domínio belga, em que o território viveu períodos sangrentos, até a sua independência na qual a nação passou por duas Guerras violentas, essa sequência de acontecimentos acaba por colocar o sujeito em um plano de conflito sem fim. Em uma perspectiva internacional, a Anarquia surge determinando a atuação dos Estados presentes nessa região, colocando-os em um conflito que está fadado a ocorrer. “A guerra geralmente promove a unidade interna de cada estado envolvido. O estado atormentado por conflitos internos pode então, em vez de esperar pelo ataque acidental, buscar a guerra que trará a paz interna.” (WALTZ, 2013) Dessa forma, é possível notar que a região ainda sofre consequências da guerra e da violência endêmica, além de uma construção estatal e social instável que perdura até os dias de hoje. 

Referências: 

DA SILVA, Igor Castellano. Congo, a Guerra Mundial Africana: conflitos armados, construção do estado e alternativas para a paz. Leitura XXI, 2012. Disponível em: <https://books.google.com.br/books?hl=pt-BR&lr=&id=Be7d0W71YLgC&oi=fnd&pg=PA17&dq=guerra+do+congo&ots=IlUBhF7J_X&sig=RSPIDpP09oxRbGv-gW9w98q3Y6U#v=onepage&q=congo%20belga&f=false> Acessado em: 25/05/2022

WALTZ, Kenneth. The Man, The State and War. Columbia University Press. 2018. Disponível em: <https://cup.columbia.edu/book/man-the-state-and-war/9780231188050> Acessado em: 25/05/2022

JUNIOR, Mauro Kiith Arima. Colonialismo e genocídio no Congo Belga. Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 24, n.5776, 25 abr. 2019. Disponível em: <https://jus.com.br/artigos/72711/colonialismo-e-genocidio-no-congo-belga> Acessado em: 25/05/2022

HOBSBAWM, Eric. A Era dos Impérios: 1875 – 1914. Paz e Terra, 2012. Disponível em: <https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/4018951/mod_resource/content/1/A%20Era%20dos%20Imperios%201875-1914%20-%20Eric%20J.%20Hobsbawm.pdf> Acessado em: 25/05/2022

BERRINGER, Tatiana. O conceito de Estado para os estudos realistas das relações internacionais: uma análise sobre a obra A política entre as nações de Hans Morgenthau. Plural, Revista do Programa de Pós Graduação em Sociologia da USP, São Paulo, 2017. Disponível em: <https://www.revistas.usp.br/plural/article/view/142992> Acessado em: 25/05/2022