Thais Carvalho, acadêmica do 1° semestre de Relações Internacionais

   Sendo reconhecida como uma das mulheres mais influentes no hip hop e no rap, Lauryn Hill nasceu em 26 de maio de 1975, na cidade de Newark, Nova Jersey, EUA. Conhecida por ser uma das melhores rappers no contexto mundial, a cantora teve, desde a sua infância, a vida constantemente influenciada pela música. 

  Em 1996, após vencer o Grammy de Melhor Álbum de Rap com o grupo The Fugees –  o qual a cantora participava desde o colegial – com os seus amigos Pras Michel e Wyclef Jean, o grupo chegou ao fim devido a problemas pessoais entre os membros.

  Após isso, Lauryn Hill seguiu carreira solo, e em agosto de 1998, lançou o seu primeiro e único álbum de estúdio, The Miseducation of Lauryn Hill. O álbum mesclou diversos gêneros, a citar, o Hip Hop, R&B e Soul, conquistando os fãs através das melodias e letras críticas e sentimentais. Deste modo, a cantora se tornou a primeira artista feminina a receber 10 indicações ao Grammy do mesmo ano, tornando-se a ganhadora em 5 categorias, incluindo as principais: Melhor Álbum do Ano e Melhor Artista Estreante.

  O álbum Miseducation of Lauryn Hill apresenta letras sobre autoconhecimento, representatividade e amor, modificando a visão distorcida e preconceituosa do hip hop, que era duramente vinculado à violência nos bairros mais pobres dos EUA. Nesse viés, a cantora norte-americana se tornou a precursora do hip hop feminino nos anos 90, com suas críticas sobre o mercado musical –mainstream-, a objetificação e a opressão da mulher negra na sociedade americana e o modo como os estilos musicais criados no bairros periféricos eram distorcidos e considerados inválidos.

Doo Wop (That Thing) 

Agora, a Lauryn é apenas humana

Não pense que eu já não passei pela mesma coisa

Mude de mentalidade, como as milhões na marcha das mulheres que houve em Philly Penn

É uma estupidez ver meninas vendendo a alma porque tá na moda

(HILL; Lauryn, 1998)

   Devido as suas letras feministas e denunciativas sobre o racismo, o preconceito e a objetificação do corpo feminino, tal álbum pode-se relacionar com a teoria feminista nas Relações Internacionais (RI), vertente que apresenta, como núcleo de estudos, questões relacionadas a identidade, como por exemplo, cultura, raça e gênero. Apresentando, desse modo, um viés que estuda o cenário político internacional por intermédio da análise dos indivíduos, utilizando-se de casos empíricos ao buscar uma maior visibilidade às questões de gênero e a vida das mulheres (VIANA, 2016).

  Um exemplo de autora da teoria feminista negra é Bell Hooks, que afirma em sua obra “Ain’t I a Woman?: Black Women and Feminism” (1981) que o único modo de modificar a visão social acerca da mulher negra seria a desconstrução da caracterização de não-mulher, haja vista que, segundo Hooks, as instituições de ensino, devido a falta de debates raciais, validava o tratamento – o qual era fundamentado desde a escravidão -, de opressão, dominação e sexismo diante as mulheres negras estadunidenses. Assim, de acordo com a autora, a teoria feminista negra deve desatar os nós da hegemonia opressora e reconstruir o pensamento em relação ao conceito de mulher, sem qualquer categorização (HOOKS, 2019).

   Por fim, conclui-se que o álbum “The Miseducation of Lauryn Hill” é de imensa influência para a luta feminina no meio musical e para a cultura estadunidense. Tornando-se, assim, uma representação cultural e precursor da inserção feminina no mundo do hip hop e do rap mundial.

Referências:

POR QUE Lauryn Hill não lançou nenhum álbum após Miseducation?. Rolling Stone, 2021. Disponível em: <https://rollingstone.uol.com.br/noticia/por-que-lauryn-hill-nao-lancou-nenhum-album-apos-miseducation/>. Acesso em: 02 de mai. 2022.

TIDAL. 10 ways “The Miseducation of Lauryn Hill” changed everything. Tidal, 2018. Disponível em: <https://tidal.com/magazine/article/miseducation-lauryn-hill-20-years/1-52233/>. Acesso em: 02 de mai. 2022.

HILL, Lauryn. Doo Wop (That Thing). The Miseducation of Lauryn Hill,1998. Disponível em: https://music.youtube.com/watch?v=71rs8r5GXzY&feature=share. Acesso em: 03 de mai. 2022.

VIANA, R. Raça, gênero e classe na perspectiva de bell hooks. Sociedade e Cultura, Goiânia, v. 24, 2021. Disponível em: <https://www.revistas.ufg.br/fcs/article/view/66604/> . Acesso em: 3 mai. 2022.

VIANA, Laila Gleyce Santos. O pessoal é internacional: feminismo negro e relações internacionais. Orientador: Gabriel Fonteles. 2016. 73 f. TCC (Graduação) – Curso de Relações Internacionais, Faculdade de Ciências Jurídicas e Sociais, Centro Universitário de Brasília, Brasília, 2016. Disponível em: https://repositorio.uniceub.br/jspui/handle/235/10853. Acesso em 03 de mai. 2022.

HOOKS, B. E eu não sou uma mulher?: mulheres negras e o feminismo. Rosas dos Tempos, 2019.