
No Século XVIII, um marco fundamental para o desenvolvimento e para a evolução da raça humana foi criado: a chamada Revolução Industrial, que trouxe avanços fenomenais para todos os campos de estudo. O principal marco desse período foi a invenção da máquina a vapor, que otimizou principalmente os setores de produção e transporte. Com isso, novas tecnologias surgiram e se desenvolveram, ao longo do tempo, até o presente momento. Três séculos depois, a humanidade se encontra novamente à beira de mais um advento tecnológico impactante para toda a sociedade, a evolução da internet 5G, trazendo impactos que já estão sendo denominados de “4° Revolução Industrial”.
Em um âmbito mais geral, o que difere a internet 5G da sua irmã mais velha, a 4G, é nada mais que a velocidade em que as informações percorrem o caminho, por exemplo, a latência (que seria a velocidade de transmissão desses dados) no 4G fica entre 60 e 90 milissegundos, já no 5G, essa latência cai para menos que 1 milissegundo, aumentando de 10 vezes a 20 vezes o tempo de resposta. Com tamanha velocidade, será possível conectar uma gama maior de equipamentos e otimizar as relações entre homem e máquina.
No entanto, um jogo de interesses se movimenta por trás dessa maravilha tecnológica, de um lado, temos a China, e de outro, temos os Estados Unidos, esses que hoje são os maiores atores quando se fala da disseminação do 5G ao redor do Globo. O cenário todo não se restringe apenas a fatores econômicos, mas abrange também o setor de segurança, levantando questionamentos sobre essa guerra de interesses (PROXXIMA, 2019).
Para entender melhor como se formou essa batalha de titãs, é preciso recordar um pouco o caminho que a China precisou percorrer para poder bater de frente com uma das maiores nações do mundo.
Após lutar ao lado dos EUA na Segunda Guerra Mundial, a China se encontrou dividida por uma guerra civil, em que um lado estavam os nacionalistas apoiados pelos EUA, liderados por Chiang Kai-shek e, do outro lado do conflito, o exército comunista liderado por Mao Zedong. Com a vitória de Mao, originou-se a República Popular da China, onde toda a população detém o dever de compartilhar seus bens, na qual essa comunidade será representada pelo Estado. Além disso, essa mesma China deve ser autossuficiente em finanças, alimentos e bens (History 101, 2020).
No entanto, esse brilhante plano cai totalmente por terra e a grande nação encontra-se com fome e pobre.
A reviravolta chinesa ocorreu, basicamente, a partir de 1976 com a morte de Mao e com a ascensão, em 1978, de Deng Xaioping, o qual subiu ao poder através de uma drástica reforma econômica das quatro primeiras zonas de comércio especiais (ZEEs), zonas essas que seguem caminhos diferentes do restante da China comunista, restabelecendo novamente o contato entre a China e o ocidente. A partir disso, a China não parou de crescer e hoje é possível ver os reflexos desses investimentos nos setores econômicos, criando margem para que aquela nação que outrora era rural, possa ir de encontro contra o maior país capitalista do mundo e, na melhor maneira, jogando dentro de suas regras.
Nesse cenário, o neorrealista Robert Gilpin em seu livro “Global Political Economy” (2011) aborda bem a questão do Estado mediante ao âmbito da economia, expondo bem a sua visão ‘’realista’’. Para o autor, o cenário ainda gira entorno dos Estados, contudo, ele afirma que para ocorrer esse domínio hegemônico e manter uma estabilidade no sistema internacional, além dos fatores bélicos serem necessários para essa manutenção, também se faz importante fatores econômicos. Então, o interesse dos Estados deve se encontrar tanto no poder militar quanto por meio da economia.
Com isso, é possível ver uma leve transição desse poder que pode estar passando de uma mão para a outra e, desta forma, conseguimos entender melhor a importância dessa influência no livro ‘’O Desafio do Capitalismo Global’’ (2004), na qual a teoria da Estabilidade Hegemônica de Gilpin pontua, ‘’para que exista uma economia liberal estável, é necessário um estabilizador”(47,2000). Nesse contexto, a hegemonia, que outrora pertencia aos Estados Unidos, começa a ser sutilmente ameaçada pelo desenvolvimento chinês
Trazendo para o assunto em pauta, a batalha do 5G além de girar por fatores econômicos, é possível pontuar também a influência que esses Estados terão sobre os países usuários de suas tecnologias. Não se restringindo a isso, mas o poder de cada uma dessas nações também está em jogo para poder ditar quem será o vitorioso.
Por fim, pode-se enxergar que a batalha pelo 5G foge do âmbito tecnológico e, sutilmente, toma outras formas ao longo do caminho, mas para existir uma resolução definitiva para o assunto, será preciso esperar para ver até onde as influências de cada país irão impactar na evolução da humanidade e na nova grande nação que exercerá sua hegemonia econômica no sistema internacional.
Referências bibliográficas:
E-COMMERCEBRASIL. 5G: a 4ª Revolução Industrial já chegou e voce nem percebeu. Dinsponível em: 5G: a 4ª Revolução Industrial já chegou e você nem percebeu (ecommercebrasil.com.br). Acesso em: 26 abr. 2022.
DANSPECKGRUBER, Wolfgang. Robert Gilping and International Relations Reflections: Volume 2. Lynne Rienner, Alemanha.
History 101. Direção: ITN Production. Netflix. Reino Unido: Netflix, 2020.
PROXXIMA. 5G promove guerra tecnocomercial China/EUA. Troféu: o mercadoglobal e a Internet das Coisas.. Disponível em: https://www.proxxima.com.br/home/proxxima/blog-do-pyr/2019/02/25/5g-promove-guerra-tecnocomercial-china-eua-trofeu-o-mercado-global-e-a-internet-das-coisas.html. Acesso em: 28 abr. 2022.
Gilpin, Robert. The Challenge of Global Capitalism: The World Economy in the 21st Century. Estados Unidos: Princeton University Press, 2000.