
Maria Bethânia Galvão (acadêmica do 4º semestre de RI da UNAMA)
Keity Silva de Oliveira (acadêmica do 2º semestre de RI da UNAMA)
A agroecologia familiar e a sua relação com a sustentabilidade socioambiental na Amazônia ganham destaque nacional e internacional nas discussões de preservação da fauna e flora, tendo em vista que funcionam como um mecanismo de proteção do meio ambiente, em razão da produção alimentar possuir um modus operandi sustentável, o que coloca em xeque o modo de produção capitalista predatório secular.
Em primeira análise, o atual modelo de crescimento econômico, norteado pelos avanços tecnológicos e baseado no desenvolvimento do modo de produção capitalista, promoveram, por um lado, a elevação dos indicadores econômicos, e por outro, contribuiu para a degradação ambiental, na medida em que o uso dos recursos naturais, ultrapassou os limites até então invisíveis da natureza.
No cenário agrário, o modelo agrícola dominante, provocou a dinamização do mundo, de uma forma hegemônica e predatória e apesar de ter aumentado a capacidade de produtividade alimentícia, desencadeou-se sérias problemáticas no âmbito ambiental, desde desmatamento, contaminação de solos, erosão, entre outros. Diante disso, surge a necessidade de se buscar um novo paradigma de desenvolvimento, que pudesse ser feito de maneira sustentável e que conciliasse o desenvolvimento econômico e a preservação ambiental, buscando também, “desenvolver uma relação harmônica das limitações ecológicas do planeta com as gerações futuras para que estas tenham a chance de existir e viver bem, de acordo com as suas necessidades” (Santos & Cândido, 2013, p. 5).
No final da década de 1960, devido a busca por novos modelos agrícolas sustentáveis, foi desenvolvimento e implementado a chamada Revolução Verde. Segundo Santos & Cândido (2013), este modelo baseou-se na intensificação e na especialização da produção, ou seja, no aumento do rendimento da terra, assim como, na mão de obra e na monocultura de produtos vegetais onde se usava sementes geneticamente melhoradas, fertilizantes químicos, pesticidas, moto-mecanização e outros.
Porém, apesar de ter alavancado a produtividade e rendimento econômico de algumas culturas, a Revolução Verde agravou as problemáticas sociais, devido a concentração de riquezas e acelerou o processo de degradação ambiental por conta do consumo energético excessivo nos agroecossistemas (Pereira Filho, 2007 apud Santos & Cândido, 2013), o que demonstrou que esse modelo de desenvolvimento agrícola não levava em conta os impactos ambientais que surgiriam.
Nessa conjectura, surge o modelo da agroecologia, voltado para um sistema de produção agrícola que têm bases ecológicas e é baseado no trabalho de tipo familiar camponês (Gonçalves, 2008), sendo um importante processo de construção social aplicado ao desenvolvimento sustentável no meio rural, onde a integração e articulação de conhecimentos de diferentes ciências, como os saberes de cada povo, permitem o desenho de estratégias que combinem essas duas esferas em uma abordagem multidisciplinar.
Dentro da região amazônica, a agroecologia se estabelece como uma “ferramenta social importante para a transformação das realidades rurais através de ação coletiva e se constitui numa peça estratégica na construção da soberania alimentar” (ALMEIDA, 2019, 129), evidenciando a garantia do direito fundamental da alimentação através da soberania alimentar e o respeito pela cultura e modos de comer dos povos. Nesse sentido, a agroecologia familiar é a principal produtora dos alimentos que vão para a mesa dos brasileiros, garantindo cerca de 70% dos alimentos dentro do âmbito interno do país (Correio Braziliense, 2020) e que são a principal fonte de sustento das famílias que produzem.
Apesar da grande importância dessa ciência para população brasileira, ainda há a agudização de problemáticas como a distribuição desigual de terras, assim como a concentração fundiária que implicam no destino da maior parte das terras no Brasil, onde 63 milhões de hectares de terras são destinados apenas a agropecuária, segundo dados levantados pelo Embrapa e o Censo Agrícola de 2017 (Politize, 2020), atraindo grandes investimentos para o agronegócio e deixando de lado os pequenos agricultores e sua produção. Ademais, há o choque de interesses entre ambos por conta do forte lobby de produção agrícola no país, tendo grandes incentivos por parte do governo federal e que privilegiam apenas os grandes latifundiários, assim como conglomerados de empresas transnacionais que atuam nesse âmbito e que favorecem os interesses do Estado. Diante disso, o avanço do agronegócio favorece a diminuição de investimentos financeiros e de reforma agrária para a agroecologia familiar, expondo a situação da agroecologia no país, como sintetiza Heinrich Böll, em seu livro “Isso não é apenas um livro de receitas”:
“Os camponeses e camponesas do Brasil fazem muito com pouco: carregam a soberania alimentar nas costas, produzem em diversidade e qualidade alimentos […]” para a mesa dos brasileiros. Sua produção é feita com respeito ao meio ambiente e a biodiversidade.” (Politize, 2020)
Em acordo com o que foi explicitado ao longo do texto, a agroecologia familiar é uma alternativa sustentável de produção que possui capacidade produtiva relevante para o cotidiano dos brasileiros, assim como diminui uma problemática bastante presente: a fome. No entanto, a agroecologia familiar possui desafios em se manter como a principal fonte produtiva nacional, em razão dos problemas estruturais relacionados à terra.
Diante o tema exposto no texto, cabe destacar o trabalho já mencionado anteriormente no Amazônia em Foco, do Núcleo de Estudos em Agroecologia e Produção Orgânica da Universidade Brasília (NEA-UNB) que por meio do ensino, pesquisa e extensão, estimula a construção de espaços de conhecimento agroecológico e que mobilizam interações entre a agricultura de base ecológica e a sociobiodiversidade nos territórios. Para mais informações, acesse o site: < http://www.nea.unb.br/index.php?option=com_content&view=article&id=5&Itemid=592 >
Instagram do NEA-UNB: < https://www.instagram.com/neaunb/ >
Facebook do NEA-UNB: < https://www.facebook.com/AgroecologiaUnB/ >
Ademais, destaca-se a importância e trabalho do Movimento dos Pequenos Agricultores – MPA, sendo um movimento camponês, de caráter nacional e popular, de massas, autônomo, de luta permanente, cuja base social é organizada em grupos de famílias nas comunidades camponesas. O MPA busca resgatar a identidade e a cultura camponesa, na sua diversidade na construção de um projeto popular baseado na soberania e nos valores de uma sociedade justa e fraterna. Possui 22 anos de existência, apresentando um expressivo histórico de luta e organização do campesinato brasileiro, organizando aproximadamente 100 mil famílias camponesas de forma direta em todo o território nacional. Para mais informações, acesse:
Site Oficial do MPA: < https://mpabrasil.org.br/ >
Instagram do MPA: < https://www.instagram.com/mpa.brasil/ >
Facebook do MPA: < https://pt-br.facebook.com/mpacampesinato/ >
Por fim, cabe-se destacar o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), sendo um movimento social e de ativismo político que visa a luta pela reforma agrária, a democratização do acesso à terra para a produção de alimentos saudáveis por meio da agroecologia e a luta por mudanças sociais no Brasil. Assim, é um projeto popular que articula a luta pelo direito à terra, o debate das questões ambientais, as sementes como patrimônio coletivo dos povos, a produção de alimentos saudáveis, a educação e a cultura na busca e defesa dos direitos sociais e condições de vida digna para todos. Para mais informações, acesse:
Site Oficial do MST: < https://mst.org.br/ >
Instagram do MST: < https://instagram.com/movimentosemterra?utm_medium=copy_link >
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Mário Tito Barros. A dinâmica eco-geopolítica da fome e as relações de poder na governança global da segurança alimentar: a soberania alimentar como resistência. 2019. 305 p. Tese (Doutorado em Relações Internacionais) Universidade de Brasília, Brasília – DF. Disponível em: < https://repositorio.unb.br/handle/10482/39367 > Acesso em: 05 de dezembro de 2021.
Correio Braziliense – Agricultura familiar garante 70% da mesa do brasileiro, mas está longe do agro 4.0. Publicado em: 28 de setembro de 2020. Disponível em: < https://www.correiobraziliense.com.br/economia/2020/09/4878333-desigualdades-no-campo.html > Acesso em: 05 de dezembro de 2021.
GONÇALVES, Sérgio. Campesinato, Resistência e Emancipação: o modelo agroecológico adotado pelo MST no Estado do Paraná. 2008. 308 p. Tese (Doutorado em Geografia) Universidade Estadual Paulista, São Paulo – SP. Acesso em: 05 de dezembro de 2021.
PEREIRA FILHO, O. P. Implicações ecológicas da utilização de energia em agroecossistemas. Santa Maria, 1991. 132p. 2007. Tese de Doutorado. Dissertação de Mestrado) Curso de Pós-Graduação em Extensão Rural, UFSM. Acesso em: 05 de dezembro de 2021.
POLITIZE – Qual a situação da agricultura familiar no Brasil? Publicado em: 20 de fevereiro de 2020. Disponível em: < https://www.politize.com.br/agricultura-familiar/ > Acesso em: 05 de dezembro de 2021.
SANTOS, Jacqueline Guimarães; CÂNDIDO, Gesinaldo Ataíde. Sustentabilidade e agricultura familiar: um estudo de caso em uma associação de agricultores rurais. Revista de Gestão Social e Ambiental, v. 7, n. 1, p. 70-86, 2013. Acesso em: 05 de dezembro de 2021.