
Escrito por Leônidas Barbosa e Peter Wesley ( Quarto Semestre) , e Matheus Virgulino (Sexto semestre)
O processo de descolonização da África no início dos anos 1960 abriram diversos processos de libertação e independência por todo o continente. No entanto, com a recusa de Portugal em consentir na emancipação de Angola, culminou na guerra civil de Angola que se destaca no cenário internacional pelos seus interesses e a participação de Cuba nesse conflito, que se iniciou em 1975 e termina em 2002.
Devido as suas potencialidades econômicas e minoria branca, junto a presença de petróleo, ferro, diamantes e outros minerais valiosos na Angola, o processo de independência adquire grande impacto devido a essas razões. Desse modo, após a recusa de Portugal no processo de independência, o conflito se divide em várias partes que lutavam pela independência como a Frente Nacional de Libertação, com vínculo dos EUA, para invadir Luanda, que tinha forte presença do Movimento Popular para a Libertação de Angola (MPLA), os quais derrotaram a Frente Nacional com ajuda de cubanos que começavam a chegar no país (VISENTINI, 2008).
No entanto, os grupos da União para Independência Total de Angola (UNITA) e o exército sul-africano desencadearam repentinas guerras contra o MPLA, fazendo surgir uma ponte área entre Havana e Luanda com envio de armas e soldados por parte do Movimento Popular para a Libertação de Angola contra o levante do exército sul-africano. Assim, em 1988, as tropas regulares sul-africanas e o UNITA foram derrotados pelas tropas cubanos–angolanas e o ataque da aviação cubana na represa que fornecia energia ao norte da Namíbia (VISENTINI, 2008).
Assim, com o desgaste causado pelos conflitos, os estados em guerra civil entraram em processos de acordo. Com isso, em 1989 os cubanos se retiraram da Angola e resto da África e em maio de 1991, Angola assinou o acordo de Paz, que posteriormente não seria respeitado, com a persistência da guerra. Por fim, a guerra civil se encerra em fevereiro de 2002 após a morte do líder da UNITA, Jonas Savimbi, que controlava as minas de diamante e devastava o país, fazendo com que desestabilize as últimas facções da União para Independência Total de Angola (VISENTINI, 2008).
A entrada cubana e sul-africana na guerra civil angolana trouxe consigo reflexões e questionamentos acerca dessa intervenção estatal, visto que as mesmas podem ter sido responsáveis pela escalação do conflito e pela prolongação do mesmo. O autor Barry Buzan em seu livro People, States and Fear (1983), comenta o efeito que as forças armadas podem trazer ao cenário da segurança, identificando estas como o primário instrumento da ordem mas também como aquele que representa, principalmente, ameaça à segurança; assim como a implementação de instrumentos militares ajudam para a ascensão de uma guerra (BUZAN, 1983).
Portanto, ao se usar o pensamento de Buzan, podemos identificar a intervenção externa cubana e sul-africana como fatores que ajudaram a escalar e ascender a guerra civil angolana. A implementação cubana de 40 a 50 mil soldados é um perfeito exemplo, onde estas, apesar de ajudarem como forças de estabilidade e construção de infraestruturas novas (BRITANNICA, 2021), também trouxeram consigo a incerteza e medo, de outros países, de uma expansão militar comunista na África, assim, países como a África do sul, que já vinha implementando forças na áreas, intensificaram ainda mais seus esforços e assim aumentaram a intensidade do conflito.
A guerra civil Angolana mostra de forma bastante sucinta as dinâmicas de poder no cenário internacional durante a guerra fria, em especial nos âmbitos de segurança regional e interesse ideológico. O envolvimento direto ou indireto da África do Sul, Cuba e os Estados Unidos ocorreram tanto por motivações de influência política quanto por um asseguramento geopolítico na região. De tal forma que pudesse ocorrer para incrementar ou seu poder relativo regional ou como um gancho de seus alcances internacionais.
Guerras civis tem um impacto profundo na economia, política e sociedade de um país, e a Angola sofreu mais que outros os efeitos desse tipo de tragédia. A destruição das instituições de Estado e as centenas de milhares de mortos causaram impactos demográficos e sociais devastadores para o país. Outro problema gerado pela guerra foi o brain drain de 500 mil pessoas que fugiram do país, a perda da maior parte de sua mão de obra especializada fez com que a reconstrução do país ocorresse, em boa parte, por investimentos e ajuda estrangeira. O impacto demográfico é o mais severo, com cerca de metade da população tendo menos de 15 anos de idade, o que faz com que não haja profissionais o suficiente para suprir as demandas da população e sem uma população economicamente ativa para manter a economia de pé. De tal forma, a Guerra civil de Angola gerou um círculo auto perpetuante de pobreza, que é uma adversidade que a Angola tem que lutar até o presente (MCGIL, 2018).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BUZAN, Barry. People, states, and fear: The national security problem ininternational relations.1983
Clarence-Smith, William Gervase and Thornton, John Kelly. “Angola”. Encyclopedia Britannica, 10 Mar. 2021, https://www.britannica.com/place/Angola. Accessed 22 November 2021.
Mcgill International Review. FLASHBACK : THE IMPLICATIONS OF ANGOLA’S CIVIL WAR. Mcgill International Review, 2018. Disponível em : https://www.mironline.ca/angola-civil-war-lourenco/ Acesso em 22 de Novembro de 2021.
VISENTINI, PGF. Independência, marginalização e reafirmação da África (1957-2007). In: MACEDO, JR., org. Desvendando a história da África [online]. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2008. Diversidades series, pp. 123-137. ISBN 978-85-386-0383-2. Available from: doi: 10.7476/9788538603832. Also available in ePUB from: http://books.scielo.org/id/yf4cf/epub/macedo-9788538603832.epub.