Maria Clara Montenegro – Acadêmica do 6º semestre de Relações Internacionais da Unama

Em um mundo cada vez mais globalizado após as mudanças advindas com o fim da Guerra Fria, reconheceu-se a necessidade de cooperação entre os agentes estatais, em sua maioria, pela resolubilidade de temas globais. Desse modo, a América Latina, como região, forma uma integração a partir de blocos e instituições que permitem o potencial de projeção internacional da área.
Tratando-se especificamente do Brasil, o qual é o país com maior extensão territorial da América Latina, e, além disso, indicadores revelam possuir a maior economia da região (PCC -IBGE,2017), possui em sua história um papel diplomático e protagonismo extremamente importante, precursor de prestígio e desenvolvimento do continente, porém essa presença está se deteriorando rapidamente.
Destarte, consoante ao pensamento dos neoliberais Joseph Nye e Robert O. Keohane, partindo-se do conceito de interdependência complexa – dependência mútua e recíproca, a relevância de cooperações entre diferentes atores pressupõe uma quebra de paradigma imposta anteriormente sobre as relações de poder, favorecendo assim, o surgimento de instituições internacionais capazes de reduzir riscos de guerra e oferecendo ajuda mútua para ordenamento e resolução de questões de forma eficaz ( KEOHANE, NYE JR,1988).
A conjuntura do sistema de coordenação de esforços depreende a geração de ganhos e vantagens por meio da criação e manutenção de instituições e regimes (KEOHANE,1984). Por conseguinte, a América Latina possui diversos desafios para introduzir seu poder por meio da nova percepção de política mundial de interdependência. Nesse sentido, atualmente ocorre um entrave por parte do Brasil para a evolução da região, tendo um exemplo disso é a retomada do Fórum Latino-Americano, com a presença de apenas 15 presidentes, sem a presença de Jair Bolsonaro (O GLOBO,2021). Essa desarticulação demonstra o dano diplomático advindo da falta de cooperação e desestruturação das instituições capazes de formar a integração regional da América Latina, dificultando a sua inserção internacional.
Haja vista que, em comparação com o Brasil de 2003 a 2011, no auge do fortalecimento do vínculo dos países da região, faz-se necessário o questionamento do papel do país no sistema internacional global e na integração regional da América Latina, bem como analisar as abordagens e possibilidades de futuro.
Em face ao apresentado, considerando as políticas unilaterais do governo Bolsonaro, juntamente com as implicações e heranças consequenciais, de acordo com a interdependência complexa, o Brasil perde a sua condição de protagonista e em vez disso se posiciona como antagonista às instituições e à integração regional, tornando-se, assim, um empecilho para o processo, perdendo também a sua credibilidade, no qual o dano ficará perdurado para governos seguintes.
Portanto, admite-se que a situação da integração regional da América Latina está danificada, a projeção internacional dificulta a cooperação sólida entre os países da região, considerando a constante desconfiança e falta de credibilidade na conjuntura, cujas consequências tendem a permanecer, mas que podem ser mitigadas com a mudança de práticas operacionais e comportamentais. Diante disso, é possível afirmar que atualmente o Brasil possui baixa identidade regional e arruína sua capacidade de ação coletiva.

REFERÊNCIAS:


IBGE. 2017. Disponivel em https://www.ibge.gov.br/explica/pib.php


FIGUEIREDO, Janaína. Sem Bolsonaro, fórum latino-americano com 15 presidentes tenta retomar integração. O Globo, 2021. Disponível em: https://oglobo.globo.com/mundo/sem-bolsonaro-forum-latino-americano-com-15-presidentes-tenta-retomar-integracao-regional-25202860?versao=amp

KEOHANE, Robert O. After hegemony: cooperation and discord in the world political economy. Princeton University Press, Princeton, 1984.

KEOHANE, Robert O; NYE JR, Joseph. Poder e interdependência: a política mundial em transição. Grupo Editor Latinoamericano, 1988.