Keity Oliveira (acadêmica do 2º semestre de RI da UNAMA)
Em 25 de março de 2021, o Comitê Internacional do Fórum Social Pan-Amazônico nomeou a cidade Belém do Pará como palco de sua décima edição em 2022 (Foro Social Panamazónico, 2021) e, portanto, é imprescindível a discussão sobre a importância histórica do movimento para os povos amazônidas com sua realização.
O Fórum Social Pan-Amazônico (FOSPA) teve sua primeira edição ocorrida em 2002, em Belém do Pará (Brasil) e seu surgimento se deu a partir de iniciativas de movimentos sociais da região denominada Pan-Amazônica, que engloba nove países da América do Sul (BASTONE, 2017, p. 04). Diante da consciência da violência sofrida pelos povos tradicionais, eles se articularam para criar um fórum em que suas vozes pudessem ser ouvidas, promovendo um diálogo sobre suas lutas e demandas com outros movimentos ao redor do mundo.
Em primeira análise, os povos étnicos que se encontram agrupados nesses países da região Pan-Amazônica, possuem uma troca cultural muito grande, indo além de uma fronteira política e nacional e exercendo um internacionalismo entre seus movimentos sociais. De acordo com Carvalho (2019), através do exercício da diplomacia entre os povos tradicionais, eles buscam a força social necessária para expor suas demandas e pautas no âmbito internacional e doméstico, almejando uma integração regional. Logo, observa-se que esses povos se unem diante as diversas problemáticas existentes, buscando participação e emancipação em espaços de articulação internacional.
A vivência dos povos tradicionais amazônidas é marcada por diversas lutas de resistência, onde denunciam os impactos socioambientais dentro do processo de globalização hegemônica, a marginalização sofrida e a defesa do saber ancestral, sendo historicamente rejeitado enquanto conhecimento pela colonialidade do saber (CARVALHO, 2019, p. 10 apud QUIJANO, 2005).
Nesse viés, um dos principais impulsionadores que originam a maior parte desses conflitos é a expansão e crescimento territorial do agronegócio, diretamente articulado ao Estado nacional, aos setores oligárquicos interessados na exploração dos recursos naturais e as corporações transnacionais que detém enorme quantidade de poder em cima do território amazônico e dos povos das florestas. São conflitos marcados por relações de poder expostas dentro do espaço agrário por dominadores que primam pela violência e pelo capital desenfreado e por grupos subalternos, contra hegemônicos, que procuram ser resistência frente a sociedade dominante (Mondardo, 2019).
Sob esta perspectiva, de acordo com BASTONE (2017, p. 04):
“Diante da consciência da violência múltipla sofrida pelos coletivos a que pertencem, violência física, cultural, racial e de visibilidade no discurso sobre a Amazônia e sua realidade transnacional, articularam para a criação de um Fórum de que pudesse emergir suas vozes, perspectivas e realidades até aquele momento silenciadas, ou narradas por outros.”
Dessa forma, os grupos sociais populares estão cada vez mais se protagonizando dentro do sistema global, constituindo-se principalmente como um exercício de internacionalismo entre as comunidades tradicionais. Logo, a realização do Fórum Social Pan-Amazônico é tido como um dos eventos mais importantes para a mobilização de suas demandas e anseios, objetivando garantir um espaço de emergência para a criação de políticas públicas e a promoção de alianças entre os movimentos sociais.
Portanto, é um meio para demonstrar a identidade de luta e interculturalidade entre os coletivos da Amazônia que erguem suas vozes em prol de mudanças significativas para sua sobrevivência e existência. O FOSPA se apresenta como uma rede transnacional de ativismo entre os movimentos sociais, dentro dos nove países que se interligam por raízes históricas e territoriais, consolidando-se como um espaço para a diplomacia dos povos e a asseguração e proteção de sua soberania nacional como comunidades tradicionais amazônidas (Carvalho, 2019).
Diante disso, alguns estudos dialogam com o tema exposto como o de LOUREIRO (2002) que faz uma análise das tentativas do Estado em desenvolver economicamente e socialmente a Amazônia e de que forma essas tentativas se tornam as principais causas para o aumento das desigualdades sociais, desequilíbrios regionais e destruição de recursos naturais dentro do território.
Por sua vez, o artigo de CARVALHO (2019) discorre sobre o internacionalismo existente entre as comunidades tradicionais que fazem parte da Pan-Amazônia, onde através da diplomacia entre os povos, eles defendem suas demandas no âmbito internacional para obter a força necessária de concretiza-las no âmbito doméstico.
Por fim, o estudo de QUIJANO (2005) aborda como o capitalismo colonial e moderno tem se tornado um novo padrão de poder global, mostrando os elementos hegemônicos de colonialidade existentes na história da América Latina e de que forma eles marginalizam o resguardo e defesa do saber ancestral dos povos da floresta.
REFERÊNCIAS
BASTONE, Paula. O Fórum Social Panamazônico: o espaço da emergência dos povos da floresta. In: Observare 3rd Internacional Conference-Beyond Borders: people, spaces, ideas. Observare, Universidade Autónoma de Lisboa, 2017. Acesso em: 18 de setembro de 2021.
CARVALHO, Matheus Ferreira. O internacionalismo dos movimentos sociais e indígenas da Amazônia. Universidade Federal do Amapá, 2019. Disponível em: < http://repositorio.unifap.br/jspui/handle/123456789/654 > Acesso em: 18 de setembro de 2021.
Foro Social Panamazónico – Belém do Pará será o centro da X etapa da Fospa. Disponível em: < http://www.forosocialpanamazonico.com/pt/belem-do-para-sera-el-centro-de-la-x-etapa-del-fospa/ > Acesso em: 18 de setembro de 2021.
LOUREIRO, Violeta Refkalefsky. Amazônia: uma história de perdas e danos, um futuro a (re) construir. Estudos avançados, v. 16, p. 107-121, 2002. Acesso em: 20 de setembro de 2021.
MONDARDO, Marcos. Territórios de povos e comunidades tradicionais: estado de exceção, governo bio/necropolítico e retomadas de tekoha. Periódico Horizontes: USF, Itatiba, SP, janeiro de 2019. Disponível em: < https://revistahorizontes.usf.edu.br/horizontes/article/view/769 > Acesso em: 20 de setembro de 2021.
QUIJANO, A. Colonialidade do poder, eurocentrismo e América Latina. In: LANDER, E. (org.). A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais: Perspectivas latino-americanas. Buenos Aires, Argentina: CLACSO, 2005. p. 107-130. Acesso em: 18 de setembro de 2021.