Eduardo Oliveira – Acadêmico do 7º semestre de Relações Internacionais

Dentre os principais conflitos internacionais que mantém a sua reverberação contemporânea, sem dúvida, é o conflito entre nacionalistas irlandeses e Anglo-irlandeses do norte apoiados pela Inglaterra, conflito este que culminou em uma guerra civil de proporções religiosas, identitárias e internacionais. 

Para fim de contextualização, o que se conhece por Irlanda, geograficamente, é uma ilha localizada ao sudoeste do Reino Unido, a qual divide-se internamente em República da Irlanda (País Independente) e Irlanda do Norte (País integrante do Reino Unido).

Séculos após o processo de cristianização no ano de 431 d.C. a ilha, durante o século XII, passou por diversas invasões, seja por parte de Ingleses e Normandos. Foi somente durante a Dinastia Tudor, por Henrique VIII, que o domínio inglês sobre a parte norte da região foi consolidado.

Fatos como a divisão da ilha, em 1672, a criação do Reino Unido, em 1801, foram marcantes para a consolidação dos nacionalismos de ambas as partes, os quais se mostram como variáveis impenetráveis na tentativa de resolução total dos conflitos. No século XIX, deflagra-se a Guerra pela Terra entre a Irlanda, predominantemente rural e profundamente nacionalista e Anglo-irlandeses, adeptos à permanência no Reino Unido.

Nesse processo, o Reino Unido propõe a criação de duas “Irlandas”, ambas autônomas, mas inseridas como componentes do Reino Unido, fato culminante da Guerra pela Independência entre os nacionalistas irlandeses e os unionistas anglo-irlandeses. Destarte, no período entre guerras, a Irlanda se autodeclara uma República, rompendo completamente vínculos com o Reino Unido.

Tais antecedentes belicosos ensejaram o “The Trouble”, conflito sectário religioso entre Unionistas protestantes anglo-irlandeses e católicos pró-reunificação com a República da Irlanda. Tal conflito ganhou notoriedade pelas suas raízes históricas e internacionais, com o saldo de mais de 3.500 mortos.

A maioria protestante da província britânica defendia a permanência como parte do Reino Unido, enquanto a católica queria a reunificação com a República da Irlanda.

Em 1970, dois anos após a deflagração patente de violência, o grupo terrorista “IRA”, erroneamente conhecido como Exército Republicano Irlandês inicia uma série de atentados contra militares. Em 1974 diversos atentados são planejados pela organização em território Inglês, além do assassinado do primo da Rainha Elizabeth II, Lorde Louis Mountbatten, e da tentativa de assassinado da ex primeira ministra Margareth Thatcher e vários ministros do partido Conservador, em 1984 (GRYZINSKI, 2018).

Antes do acordo de paz, o Acordo de Sexta Feira Santa, em Belfast, em 1992 e 1993, dois grandes atentados contra o distrito financeiro da cidade de Londres deixaram quatro mortos e provocaram graves danos.

Quatro meses depois do acordo de Sexta Feira Santa, um grupo dissidente do IRA, o IRA Autêntico, comete o maior massacre do conflito ao detonar uma bomba em um dia de mercado na cidade norte-irlandesa de Omagh, aonde 29 pessoas morreram na ação, incluindo mulheres e crianças.

Como visto em Reis (2018), os governos da Irlanda do Norte e do Reino Unido demonstraram maior capacidade em lidar com os grupos conflitantes; em contraposição ao estabelecimento dos confrontos violentos, em grande parte deflagrados pela organização terrorista IRA, o que mesmo com as tentativas de solução pacífica de conflito, se perpetuaram por anos a fim de perpetuar intentos isolados da pequena parcela da população que ansiava a reunificação.  

REFERÊNCIAS:

Breve história do conflito na Irlanda do Norte. Estado de Minas Internacional, 2018. Disponível em: https://www.em.com.br/app/noticia/internacional/2018/04/09/interna_internacional,950193/breve-historia-do-conflito-na-irlanda-do-norte.shtml Acesso em: 07, junho de 2021.

GRYZINSKI, Vilma. O que aconteceu com os culpados após os grandes atentados? Veja, 2018. Disponível em: https://veja.abril.com.br/blog/mundialista/o-que-aconteceu-com-culpados-depois-de-grandes-atentados/ Acesso em: Acesso em: 06, junho de 2021.

REIS, Filipe.  Identidade nacionalista e o IRA: a ascensão e a pacificação do grupo e a compreensão do terrorismo. Revista Fronteira, Belo Horizonte, v. 17, n. 33, p. 124 – 144, 2018.