
Pablo Oliveira Gomes – Acadêmico do 5º semestre de Relações Internacionais
O descontentamento do povo irlandês para com o modo que a Coroa Britânica lidava com a ilha era crescente, onde a fome, a morte e a fuga em massa foram catalisadores para o crescimento do nacionalismo irlandês, que em meados do século XIX se organiza cada vez mais em grupos como os Irish Volunteers e Irish Citizen Army.
Após a virada do século, em 1916, essas organizações cansadas dos abusos do governo britânico, a falta de direitos, e segregação do povo católico em uma ilha predominantemente povoada pelos mesmos se rebelaram contra o sistema, no que foi conhecido o Levante de Páscoa, e assim, em 1919, após os parlamentares irlandeses eleitos recusarem se apresentar em Westminster, e formarem o Parlamento Irlandês, em Dublin, foi o estopim para a Guerra Anglo-Irlandesa, e nela os grupos nacionalistas irlandeses se juntaram e denominaram-se o Irish Republican Army – ou IRA.(DURNEY, 2004)
Segundo o historiador irlandês James Durney (2004), essa organização foi fundamental na divisão da Irlanda, e também nos anos que se seguiram após o Tratado Anglo-Irlandês, pois muitos católicos irlandeses ainda se situavam na região da Irlanda do Norte, e assim viveram anos de segregação e indiferença, tratados como um povo inferior. Eram subjugados no trabalho, na segurança, na educação, e isso continuou estimulando o descontentamento desse povo, que na década de 60 começou uma onda de protestos e luta por direitos civis. E após o estopim de 1969 na Apprentice Boy’s Parade, o IRA se juntou aos nacionalistas da área de Derry que lutavam contra a força armada do Governo Britânico, marcando o início dos problemas. (DURNEY, 2004)
Sucedendo estes acontecimentos, o Exército Republicano Irlandês se organiza para continuar o movimento de reação aos ataques britânicos, então que em Janeiro de 1972, após o que ficou conhecido como o Domingo Sangrento, centenas de homens jovens se alistaram ao IRA, com sede de vingança contra o Exército Britânico. O ano de 1972 foi um dos mais turbulentos, visto que essa vingança se deu pela explosão de vinte e dois carros-bomba em Belfast, matando nove pessoas e deixando várias machucadas, incluindo civis. (DURNEY, 2004)
Após anos de violência, em 1994 o IRA anunciou o cessar-fogo e o fim das operações militares do exército. Deste modo, corridos 25 anos de conflito, enfim um tratado foi elaborado entre as partes, depois de conversas secretas, e um acordo foi celebrado. Houve uma breve recaída em 1996, mas o cessar-fogo foi retomado no ano seguinte. E em 2005, Séanna Walsh, que serviu como voluntário ao IRA por mais de 20 anos, leu o comunicado de que a campanha armada foi destituída, levando assim ao grupo atuar apenas por vias pacíficas e democráticas. (THE GUARDIAN, 2005)
Apesar de já ter sido visto como uma organização terrorista, é de suma importância percebermos que o papel do Exército Republicano Irlandês no não apagamento da cultura irlandesa é essencial, e pelas vias dispostas na época, foi deliberadamente o grito de um povo oprimido. As ações dos soldados são uma reação à desigualdade, desumanização e indiferença da Grã-Bretanha para com o povo irlandês. Dessa forma, a violência foi o meio mais acessível para que a representatividade do povo irlandês fosse exposta, e sua força foi contundente para que hoje ainda exista o povo que tem como padroeiro São Patrício, e todo o orgulho de uma nação de ter sua independência e poder denominar seu país de República da Irlanda.
Referências:
DURNEY, James. THE VOLUNTEER: UNIFORMS, WEAPONS AND HISTORY OF THE IRA 1913-1997. Gaul House. Ireland. 2004.
IRA ORDERS END TO ARMED CAMPAIGN. <https://www.theguardian.com/politics/2005/jul/28/northernireland.devolution3>