Leônidas Barbosa – Acadêmico do 3º semestre de Relações Internacionais

A região da Irlanda do Norte nas últimas décadas tem sido palco de uma quantidade de séries de conflitos, mais conhecidos e denominados pelos habitantes da região como “The Troubles”. Esse evento durou entre os anos de 1968 até 1998 e ceifou a vida de mais de 3.500 pessoas durante 30 anos, nesses números estão inclusos civis, militares e paramilitares.

Para podermos explicar e entendermos melhor as batalhas e os porquês dela acontecerem é necessário olharmos para o passado das relações irlandesas e inglesas, especificamente no episódio da Grande Fome de 1845 na Irlanda, a qual provocou na população irlandesa um descontentamento com a administração britânica devido esta mesma ser culpada por mais de 1 milhão de pessoas terem morrido pela falta de alimentos (BELL, 2002), plantando uma semente de diferenciação cultural e emancipação territorial entre os dois povos

A crise administrativa deixou suas marcas para o movimento revolucionário irlandês que viria, onde várias tentativas de se conseguir a independência irlandesa foram discutidas, em que alguns preferiam que a Irlanda se mantivesse com o Reino Unido e outros preferiam gradualmente se afastasse.

Em 1918 após uma revolta estabelecida em 1916, membros de um partido político irlandês foram eleitos no Reino Unido, entretanto em vez de atender ao Parlamento britânico, escolheram formar um Parlamento irlandês, resultando na guerra civil de 1919, o qual contou com a participação do Exército Republicano Irlandês (IRA). A guerra terminou em 1921 e resultou na criação do Estado da Irlanda, porém as diferenças religiosas e políticas ainda permaneciam no país como, por exemplo, o norte da Irlanda ainda se mostrava a favor de permanecer no Estado em que se encontrava antes, resultando assim na criação do Estado da Irlanda do Norte.

Anos se passaram, contudo uma nova escalada no conflito foi alimentada devido ao crescente movimento de direitos civis por irlandeses nacionalistas presentes na região,  aumentando assim as hostilidades entre os grupos. O chão inicial para o conflito se deu em 1969 quando uma parada protestante resolveu passar por uma área  católica resultando assim em confrontos, onde apesar da polícia local ser chamada para lidar com problema, o apoio dela ao lado leal e protestante ainda era muito visível sendo necessário ser chamado o exército britânico para intervir (WALLENFELDT, 2020).

Inicialmente o exército britânico conseguiu manter a paz por certo tempo, entretanto nacionalistas começaram a suspeitar de uma parcialidade existente no exército. Grupos como o Exército Republicano Irlandês, quiseram tomar a luta por um lado mais armado, mas a vertente marxista no grupo discordava de como deveria ser executado o processo de resistência e o apoio Popular também não queria escalar letalidade do conflito.  Porém, durante um evento onde um grupo armado protestante que ameaçava católicos na região foi repelido pela IRA (Irish Republican Army), trouxe apoio popular à luta armada e credibilidade para as suas ações, onde lentamente foi se formando grupos paramilitares católicos e protestantes que futuramente se tornariam grandes incômodos aos britânicos.

O crescente apoio popular para grupos paramilitares mostrava-se preocupante e medidas para desarticular eles foram tomados, entretanto, essas medidas se mostraram ineficazes em pará-los. O conflito armado intenso surgiu em janeiro de 1972, conhecido como Bloody Sunday, onde a dura repressão desse protesto causou um aumento ainda maior de auxílio civil às causas do Exército Republicano Irlandês, e mais voluntários se apresentariam para se juntar ao grupo, e o que se viria nos próximos anos seriam séries de atentados praticados pelo grupo incluindo carros-bombas, ataques a forças de segurança e assassinatos, incluindo o famoso episódio da tentativa de assassinato de Margaret Thatcher, o qual matou cinco pessoas, o que os caracterizou como um grupo terrorista por algumas entidades internacionais e pelo parlamento britânico.

Outras séries de ataques pelo grupo foram executadas tendo como alvo grupos paramilitares rivais, forças de segurança britânicas ou ataques feitos em cidades inglesas, onde também foram conversadas oportunidades de cessar-fogo durante o conflito, todavia, os tratados sempre acabaram sendo quebrados ou ineficientes.

A resolução do conflito se daria pelo Good Friday Agreement  que prometia uma partição de poder e reforma na polícia local da Irlanda do Norte, o que acabou dissolvendo o Royal Ulster Constabulary, também foi caracterizado pela existência de uma proposta em que caso o Norte da Irlanda e a Irlanda quisesse se unir novamente ao Reino Unido, o governo britânico agiria e estaria aberto a essa possibilidade.

As marcas do conflito são vistas até hoje como, por exemplo, as divisões  entre as comunidades existentes na Irlanda do Norte, segregação  e discriminação também são muito presentes. Após o acordo, a IRA anunciou que abaixaria as armas, e que seu foco seria mais político, exemplificado quando um membro da facção conversou diretamente com a Rainha Elizabeth depois de alguns anos do conflito (GRAHAM; WHELAN, 2007).

REFERÊNCIAS:

BELL, Dr. J. Bowyer. The Irish Trobles Since 1916. 2002. 28 f. Tese (Doutorado) – Curso de International And Public Affairs, Columbia International Affairs Online, Columbia University, Columbia, 2002.

GRAHAM, Brian; WHELAN, Yvonne. The legacies of the dead: commemorating the troubles in northern ireland. commemorating the Troubles in Northern Ireland. 2007. Disponível em: http://www.ggy.bris.ac.uk/personal/YvonneWhelan/E_and_P_ article_2007 .pdf . Acesso em: 05 jun. 2021 Wallenfeldt, Jeff. “The Troubles”. Encyclopedia Britannica, 21 Aug. 2020, https://www.britannica.com/event/The-Troubles-Northern-Ireland-history. Accessed 7 June 2021