Maria Clara Montenegro Gonçalves Silva – acadêmica do 8º semestre de Relações Internacionais na UNAMA

A guerra de narrativas na internet tomou proporções maiores com o uso das fake news, termo utilizado para a difusão de notícias falsas criadas com o propósito de alcançar objetivos específicos, seja comercial, político ou individual. O próximo degrau da manipulação nas redes são os deepfakes, os mais conhecidos são os vídeos, que alteram de forma convincente colocando outros rostos em pessoas, sincronizando movimentos faciais. A técnica é feita por meio de Inteligência Artificial (IA) e produzem resultados impressionantes, desafiando a manutenção da verdade.

Ademais, a alteração não se limita aos vídeos: é possível realizar deepfakes em áudios, fotos e afins (LOPES, 2019. Veja). A tecnologia da IA permite edições quase perfeitas, tão convincentes que dificultam a diferenciação do verdadeiro e do falso, propiciando a confiança em informações equivocadas que, se compartilhadas sem qualquer reflexão sobre a veracidade, podem tornar-se uma arma dialética de política gerando comportamentos com viés ideológicos fortes que projetam no campo nacional e internacional.

O conteúdo de uma deepfake é tão bem executado e perigoso que pode interferir em questões políticas. Como por exemplo, um vídeo manipulado que mostra a apresentadora da Globo, Renata Vasconcellos, apresentando a liderança do candidato a presidência Jair Bolsonaro nas pesquisas de intenções de voto divulgada em 15 de agosto de 2022, áudio e vídeo foram adulterados (DOMINGOS, Roney. G1). O material foi amplamente divulgado nas redes sociais e serviram como viés de confirmação para muitos, a crença e disseminação de informações que comprove uma  verdade individual, mesmo que os fatos provassem o contrário.

Na teoria pós-moderna ou pós-estruturalista das relações internacionais, são  criticadas todas as outras teorias subsequentes, questionando a forma da estrutura em voga. Segundo o teórico e filósofo francês pós-modernista Michel Foucault, os maiores detentores de conhecimento possuem maior poder, seja ele no domínio ou na resistência;, os discursos produzidos estabelecem um padrão de práticas discursivas (FOUCAULT, 1978).

Por isso a política da pós-verdade se torna um problema constante, caracterizada por situações em que a verdade individual sobrepõe fatos comprovados, ou seja opiniões deliberadas sem embasamento. A principal forma de compartilhamento de informações está nas redes sociais, e é por meio dela que as fake news tomam maiores proporções. A expertise tecnológica de manipulação torna as deepfakes ainda mais incontestáveis para os que acreditam.

Sabendo da dificuldade individual de distinguir as deepfakes, o Conselho Nacional de Justiça indica alguns sites e plataformas para checagem de notícias, que são parceiros da campanha #FakeNewsNão, juntamente com STF, STJ, CNJ e Conselho da Justiça Federal (CJF) que auxiliam na identificação e envio de material suspeito para checagem. Disponível em: < https://www.cnj.jus.br/programas-e-acoes/painel-de-checagem-de-fake-news/onde-checar/>

Referências:

DOMINGOS, Roney. É #FAKE vídeo que mostra Bolsonaro na liderança da pesquisa Ipec divulgada em 15 de agosto de 2022. G1. Disponível em: <https://g1.globo.com/fato-ou-fake/eleicoes/noticia/2022/08/17/e-fake-video-que-mostra-bolsonaro-com-44percent-das-intencoes-de-voto-na-pesquisa-ipec-divulgada-em-15-de-agosto-de-2022.ghtml&gt;. Acesso em: 15 set. 2022.‌

‌FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder. 1978.

‌LOPES, A. “Deepfake”, o novo e terrível patamar das “fake news”.Veja. Disponível em: <https://veja.abril.com.br/tecnologia/deepfake-o-novo-e-terrivel-patamar-das-fake-news/&gt;. Acesso em: 13 set. 2022.

MARINI, E. Diferenças entre fake news, pós-verdade, deepfakes e o papel da escola. Revista Educação. Disponível em: <https://revistaeducacao.com.br/2020/05/18/fake-news-deepfakes-escola/&gt;. Acesso em: 13 set. 2022.

‌Onde Checar se é Fake News – Portal CNJ. Disponível em: <https://www.cnj.jus.br/programas-e-acoes/painel-de-checagem-de-fake-news/onde-checar/&gt;. Acesso em: 15 set. 2022.