Heitor Sena 

Acadêmico do 4º semestre de Relações Internacionais da UNAMA.

A disparidade econômica entre Israel e Palestina é um dos fatores mais importantes para a análise do conflito entre as duas nações. Neste ponto, há de se destacar que, ao discorrer sobre economia, é indispensável tratar sobre suas ramificações sociais, dando destaque para como muitas das mazelas vividas pelos palestinos decorrem justamente deste fator. Com isso, faz-se necessário destacar  a inserção do Estado israelita na economia internacional, para que se faça compreensível o modo como a dinâmica social da região está estruturada.

Crucial para qualquer conflito, a indústria bélica de Israel têm grande destaque no mercado internacional. Estima-se que Israel encontra-se entre os 10 maiores exportadores de armas do mundo nos últimos 5 anos (The Times of Israel, 2021). O alto volume de exportações é um dado que demonstra a capacidade israelense de investir em suas forças armadas, uma vez que torna o desenvolvimento de armas em um negócio lucrativo.

Além disso, o apoio financeiro de países desenvolvidos, especialmente dos Estados Unidos, têm sido fundamental para a superioridade econômica sobre os outros países da região. A parceria entre Israel e EUA consiste em uma série de tratados, dentre eles acordos bilaterais de comércio que rendem U$50 bilhões anuais e um memorando que providencia um auxílio para a defesa israelense de U$38 bilhões por 10 anos, assinado em 2016. (STATE DEPARTMENT, 2022)

Desse modo, Israel é um país que, devido a sua inserção na economia internacional, como exportador de armas e financiado pela maior potência econômica do planeta, consegue desenvolver seu potencial bélico, e é através dessa belicosidade que os israelenses se impõem sobre os palestinos.

A partir de 2007, o Estado de Israel intensificou a opressão dos palestinos. Desde então, a faixa de Gaza está isolada do resto do território e do mundo, resultando em uma das maiores catástrofes humanitárias da contemporaneidade. Segundo relatório da ONU, desde que Israel aumentou sua presença, a faixa de Gaza teve redução de 30% no volume mensal de mercadorias entrando no território, apesar de ter tido um crescimento populacional de 50%. O local possui uma das maiores taxas de desemprego do mundo, com 46% de desempregados, além de ainda apresentar dados preocupantes na quantidade de famélicos (62%), carecer de uma rede elétrica adequada (cortes de, em média, 11 horas por dia), e ter 78% da água disponível como inadequada para o consumo. (ENUCAH, 2022)

A vigilância constante por parte das forças armadas israelenses ditam cada passo do cotidiano palestino. Somado a isso, a falta de direitos para os palestinos que buscam trabalho em Israel, ou em países vizinhos, é uma grande preocupação para as organizações de ajuda humanitária, de acordo com a Amnesty International (2019), milhares de palestinos tem seu direito à cidadania negado, e com isso, não possuem acesso a serviços públicos, situação que se agravou após os Estados Unidos cortarem parte do investimento em ajuda humanitária em 2018. Além disso, a falta de cidadania impossibilita que palestinos exerçam profissões que exigem documentação, forçando-os a trabalhar em situações precárias, sem qualquer amparo jurídico.

Dessa forma, a situação vivida pelos palestinos assemelha-se ao estado de exceção de Giorgio Agamben. Para o autor italiano, ao longo da história, pode-se observar o emprego da suspensão da ordem jurídica como paradigma de governo, com isso, naturalizar-se-ia essa suspensão, que passaria a se tornar regra. (AGAMBEN, 2004)

A definição de Agamben se mostra adequada para a observação da dinâmica entre Israel e Palestina, uma vez que o Estado israelense rejeita toda a ordem jurídica para os cidadãos palestinos, permitindo que imponham políticas discriminatórias sobre os mesmos. A opressão israelense configura, segundo resolução da ONU, um regime de apartheid. (ENUCAH, 2021)

Por fim, pode-se perceber que a força da indústria bélica israelense, bem como sua relação próxima aos EUA providenciam ao Estado de Israel os recursos para a implantação de um regime opressivo sobre a Palestina. Como resultado disso, milhões de palestinos vivem em condições extremamente delicadas, sem acesso a serviços capazes de atender às suas necessidades mais básicas.

Referências:

ENUCAH. Gaza Strip | The humanitarian impact of 15 years of the blockade. ENUCAH, 30 jun 2022. Disponível em: 

https://reliefweb.int/report/occupied-palestinian-territory/gaza-strip-humanitarian-impact-15-years-blockade-june-2022-enarhe

ENUCAH. The Gaza Bantustan — Israeli Apartheid in the Gaza Strip. ENUCAH, 4 dez 2021. Disponível em: 

https://reliefweb.int/report/occupied-palestinian-territory/gaza-bantustan-israeli-apartheid-gaza-strip

THE TIMES OF ISRAEL.Israel ranked world’s 10th-largest weapons exporter in past five years.THE TIMES OF ISRAEL , 4 abr 2022. Disponível em: 

https://www.timesofisrael.com/israel-ranked-worlds-10th-largest-weapons-exporter-in-past-five-years/

AMNESTY INTERNATIONAL.Israel’s refusal to grant Palestinian refugees right to return has fuelled seven decades of suffering. AMNESTY INTERNATIONAL, 15 mai 2019. Disponível em: 

Israel’s refusal to grant Palestinian refugees right to return has fuelled seven decades of suffering

STATE DEPARTMENT. The United States-Israel Relationship. STATE DEPARTMENT, 26 mar 2022. Disponível em: 

The United States-Israel Relationship