Maria Bethânia Galvão (acadêmica do 3º semestre de Relações Internacionais da UNAMA)

Keity de Oliveira (acadêmica do 1º semestre de Relações Internacionais da UNAMA)

O termo “Meio Técnico-Científico-Informacional” é um conceito proposto pelo geógrafo Milton Santos, que discorre sobre a evolução dos processos de produção e suas reproduções no meio geográfico. Por meio desse conceito, o autor tece uma crítica à globalização, destacando o acentuado crescimento das desigualdades regionais por meio desse fenômeno e da expansão do capitalismo, assim como o fato de que nenhum subespaço do planeta pode escapar desse processo de globalização e fragmentação, isto é, individualização e regionalização (SANTOS, 2012 [1996], p. 246).

Dentro dessa contextualização, os movimentos sociais indígenas estão cada vez mais presentes em veículos de mídia e da internet, sendo usados como forma de se diminuir as disparidades sociais causadas pela expansão do capitalismo hegemônico sob classes excluídas e oprimidas, fortalecendo os movimentos étnicos e promovendo a necessidade de um protagonismo desses povos para o reconhecimento de seus direitos.

Em primeira instância, os movimentos sociais indígenas aliados ao uso das redes sociais – que faz parte das TICs, “tecnologias da informação e comunicação”, expuseram o cenário de vulnerabilidade que se encontra esse grupo, devido às pressões sociais de discriminação, preconceito e de terem seus anseios minimizados pelas instituições. Nesse sentido, a “militância virtual” tem o intuito de trazer visibilidade às pautas do movimento indígena, perpetuando noções histórico-sociais, discussões sobre a preservação florestal e noções de cultura, entre outros, como afirma AGUILAR (2018): “as tecnologias da comunicação podem significar um instrumento para ser usado a favor da criação de conteúdo, sendo uma via de difusão e recuperação da informação da própria comunidade”.

Uma pauta que merece atenção nos últimos tempos, no Brasil, foi acerca da PL 490/2007, o projeto de lei que altera a legislação vigente sobre a demarcação das terras indígenas:

“O ponto mais polêmico do PL 490/ 2007 trata do marco temporal e prevê que só poderão ser consideras terras indígenas aquelas que já estavam em posse desses povos na data da promulgação da Constituição, 5 de outubro de 1988, passando a exigir, dessa forma, uma comprovação de posse, o que hoje não é necessário. O texto ainda flexibiliza o contato com povos isolados, proíbe a ampliação de terras que já foram demarcadas e permite a exploração de terras indígenas por garimpeiros.” (Correio Braziliense, 23 de junho de 2021)

Em consonância, indígenas de diversas etnias do país se uniram para formar um acampamento em 23 de junho, em Brasília, assim como indígenas, descendentes de indígenas e grupos sociais estiveram envolvidos em manifestações locais por todo país em apoio ao acampamento de Brasília, todos com o intuito de demonstrar indignação contra a PL 490/2007. Nesse seguimento, as organizações dessas manifestações foram perpetuadas pelas redes sociais, o que demonstra a relevância do engajamento social pelas mídias sociais a fim de contribuir para a conscientização social, isso entra em acordo com a proposição de AGUILAR (2018): “A multimídia indígena é outra forma de expressão usada pelos indígenas para dar a conhecer diversas demandas e sua situação atual.”

Diante do tema exposto, a mobilização dos movimentos indígenas contemporâneos por meio das redes sociais, torna-se um instrumento de conscientização acerca das desigualdades e da discriminação enfrentadas por esses povos. Nesse viés, são refletidos seus interesses, demandas e anseios em torno do reconhecimento de seus direitos, constituindo instrumentos de resistência e apoio para suas causas.

Portanto, há uma crescente “presença indígena no ciberespaço que, ao longo dos últimos anos, atua por meio de sites, blogs, comunidades virtuais e ambientais colaborativas e se (re) constroem e se (re) elaboram etnicamente nas redes digitais” (PEREIRA, 2008). Com intuito de conquistarem visibilidade, o acesso das populações indígenas aos meios de tecnologia e comunicação, contribui para facilitar a democratização de informação, tendo como necessidade, dar voz aos que não possuem chances de se expressar.

Em síntese ao que foi abordado, o tema tratado possui conexão com o artigo de AGUILAR (2018) acerca do impacto das tics (tecnologias de informação e comunicação) nas comunidades indígenas, suas experiências e como elas se tornaram um instrumento de apoio e conscientização para suas causas.

REFERÊNCIAS:

Aguilar, A. (2018). O protagonismo comunicacional-informacional-digital indígena na sociedade da informação: antecedentes, experiências e desafiosAnuario Electrónico de Estudios en Comunicación Social “Disertaciones”11(2), 104-127. Doi: https://doi.org/10.12804/revistas.urosario.edu.co/disertaciones/a.5715

Correio Braziliense: PL 490 – Entenda o que é o projeto que muda a demarcação de terras. Disponível em: < https://www.correiobraziliense.com.br/politica/2021/06/4933154-pl-490-entenda-o-que-e-o-projeto-que-muda-a-demarcacao-de-terras-indigenas.html > Acesso em: 02 de julho de 2021.

DE AQUINO, Tayná Portilho; DA SILVA SOUZA, Gabriele Paula; LIMA, Anna Bárbara. Mídia Índia: mobilização dos movimentos sociais indígenas na internet. Anais do Encontro Internacional e Nacional de Política Social, v. 1, n. 1, 2020. Acesso em: 02 de julho de 2021.

PEREIRA, Eliete da Silva. Ciborgues indigen@s. br: entre a atuação nativa no ciberespaço e as (re) elaborações étnicas indígenas digitais. II Simpósio Nacional da Abciber, 2008. Acesso em: 02 de julho de 2021.

SANTOS, M. A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. 4. ed. São Paulo: EDUSP, 2012 [1996]. p. 246 (Coleção Milton Santos, 1). Acesso em: 02 de julho de 2021.