Iago Braga – acadêmico do 5° semestre de Relações Internacionais da UNAMA.

A pandemia do novo coronavírus nos impôs a necessidade de mudar uma série de comportamentos e hábitos para conseguir lidar com esse patógeno que vem deixando muitos traumas e vítimas por todo o planeta. É o famoso “novo normal”, onde temos que nos reeducar e encarar a nossa sociedade de uma maneira diferente com o intuito de zelar por nós e por aqueles que estão ao nosso redor. O dever de coordenar os cuidados e a imunização da população deve ser debatido em âmbito político.

No Brasil, por exemplo, ainda vemos uma resistência ideológica a essa prática pelos representantes dos três poderes. Essa inércia é justificada por uma agenda de cunho neoliberal, onde se afirma a efetividade do livre mercado no ordenamento socioeconômico e “a inutilidade de intervenções políticas” (DOS SANTOS, 1999, p. 130). Theotônio dos Santos (1999), um dos pilares da Teoria Marxista da Dependência (a face da Teoria do Imperialismo vista a partir da América Latina) critica o pensamento neoliberal tanto em suas contradições teóricas quanto em suas contradições práticas.

A perspectiva neoliberal surgiu com a queda da hegemonia keynesiana nos EUA e no Reino Unido e foi representada pela ascensão de Ronald Reagan e de Margaret Thatcher, tendo o seu declínio em meados da década de 1990 nos países centrais do capitalismo. No chamado Terceiro Mundo, o neoliberalismo continuou a pautar as agendas econômicas (Idem, p. 119). Há, porém, uma divergência entre a teoria dos “novos clássicos” – a mínima atuação do Estado no mercado – e a sua prática.

Países em que a agenda neoliberal foi posta em prática tiveram ativa participação do Estado na economia. Os EUA, por exemplo, com os enormes gastos no setor militar, o aumento exponencial da população carcerária e do déficit público; o Chile, com a brutal atuação do ditador Pinochet sustentando o ementário dos Chicago Boys (Idem, p. 137-142), o que revela não uma política de Estado mínimo, mas sim, uma inversão de prioridades.

Com a pandemia, pôde-se observar o desempenho de vários países com diversos quadros econômicos no controle do novo coronavírus. Houveram países que geriram a situação de forma mais enérgica com a utilização de todo o aparato estatal na eufemização e no combate ao novo patógeno; outros países geriram de forma mais branda, deixando a cada cidadão a escolha entre seguir as normas da Organização Mundial da Saúde ou viver sua vida “normalmente”.

Os melhores desempenhos com a pandemia foram vistos no grupo de países em que se tem o ideário da atuação do Estado na economia para o bem-estar do seu povo. Isso foi visto em países capitalistas, com o importantíssimo protagonismo feminino de figuras como Angela Merkel e Jacinda Ardern (GLETTE, 2020), e em países socialistas, como Cuba e Vietnã (MALDONADO, 2020). Já o segundo grupo, os países sob rédeas neoliberais, obtiveram os maiores números de vítimas do COVID-19. O Brasil, por exemplo, onde o presidente Jair Bolsonaro contestou sugestões da Organização Mundial da Saúde em diversos momentos, chegou a conquistar o primeiro lugar em mortes diárias, superando os EUA (CRUZ, 2021).

Portanto, entende-se que uma mudança de perspectiva política também é necessária. Superar ideologias que, na verdade, representam uma inversão de prioridades, onde o mercado se mostra mais relevante que a vida da população é o que necessitamos no momento para lidarmos com a pandemia por outro viés, se espelhando em exemplos internacionais que combateram a pandemia com afinco. Sendo assim, é necessário ter como objetivo o mínimo de mortes possível, não o mínimo do Estado.

REFERÊNCIAS

CRUZ, M. M. Brasil supera EUA em mortes diárias. Estado de Minas, 2021. Disponível em https://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2021/03/24/interna_gerais,1249898/brasil-supera-eua-em-mortes-diarias.shtml. Acesso em 23 de março de 2021.

DOS SANTOS, T. Modernidade e Neoliberalismo: uma falácia. 1999. Disponível em https://www.marxists.org/portugues/santos-theotonio/1999/06/90.pdf. Acesso em 23 de março de 2021.

GLETTE, Gabriela. Países que estão lidando melhor com coronavírus são comandados por mulheres. Hypeness, 2020. Disponível em https://www.hypeness.com.br/2020/04/paises-que-estao-lidando-melhor-com-coronavirus-sao-comandados-por-mulheres/. Acesso em 23 de março de 2021.

MALDONADO, Anna et al. CoronaChoque e Socialismo. Instituto Tricontinental de Pesquisa Social, nº3 (2020).