Pollyana Bernardes – Acadêmica do 3° semestre de Relações Internacionais da UNAMA

Kenneth Waltz (1924-2013) foi um teórico neorrealista fundamental para o desenvolvimento das teorias de relações internacionais. Em 1979, com seu livro Theory of International Politics, o escritor analisou as ações estatais e o equilíbrio de poder existente no mundo internacional. Entre os seus estudos, Waltz trouxe a inserção do bandwagon como padrão de comportamento entre os países.

O termo foi apropriado para a economia política e corresponde à ação de determinado grupo ou indivíduo em ceder à influência da nação ascendente. Quando Kenneth Waltz propõe o bandwagon como um fator existente no Sistema Internacional, significa não só a preeminência soberana de um país no sistema, mas também a tendência dos países em desenvolvimento de se alinhar à potência hegemônica em função do seu domínio.

 Na visão do neorrealista, a situação anárquica do Sistema Internacional apenas leva os Estados a defender seu território e garantir sua própria segurança, o poder não necessariamente seria a prioridade já que o sistema os força a colidirem, portanto os Estados tendem a entrar em conflito até o equilíbrio de poder ser alcançado e por consequência disso, formam-se os bandwagons entre suas relações.

Não esperamos que o mais forte se junte com o mais forte para aumentar seus poderes sobre os outros, mas sim procurar aliados que o poderão ajudar a manter sua hegemonia. Na anarquia, a segurança é a finalidade. Apenas se a sobrevivência desses Estados for assegurada, será possível procurar por outras metas como tranquilidade e poder. A meta principal encorajada pelo Sistema Internacional é a procura por segurança. (WALTZ, Kenneth. 1979. p. 126)

Assim os Estados efetivamente mais fracos tendem a aliar-se com uma nação líder, a fim de garantir sua defesa interna, uma vez que sua primeira preocupação não seria maximizar seu poder, mas manter sua posição no próprio sistema (WALTZ, 1979.p.126-127.)

Logo, o alinhamento automático do Brasil frente aos Estados Unidos nos últimos anos, demonstra com precisão a teoria de bandwagon, uma vez que a aliança criada entre os dois governos assegura à parte mais fraca — entende-se este como sendo o Brasil — estabilidade na sua região, e uma relação amigável com a maior nação econômica do mundo, já aos Estados Unidos, garante a dependência do maior país da América Latina cujo território abrange 61% da Amazônia, o que contribui para o interesse norte-americano no Brasil. Atualmente, a instabilidade visível no governo brasileiro, tanto pelos impactos econômicos quanto pela má gestão no setor público frente à pandemia, sugere que esse alinhamento absoluto ao governo americano, cujos problemas associados ao ano de 2020 foram igualmente prejudiciais à nação, tornou-se um ato equivocado e débil por parte da acessibilidade brasileira.

 Segundo Fernanda Magnotta, senior fellow do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), os Estados Unidos aproveitaram-se da permissividade do Brasil para estabelecer uma relação ‘issue liked’, a qual cede os interesses norte-americanos mas não compromete sua certeza sobre a negociação. Esse tipo de barganha torna-se perigoso para o Brasil, uma vez que deixa explícito a facilidade com que o governo estadunidense pode exercer seu domínio sobre o país sul-americano, portanto o bandwagon retoma-se como debate crucial no âmbito das relações exteriores do cenário global.

Por conta disso, a aliança entre esses dois grupos inquieta grande parte dos estudiosos e políticos. Com o posicionamento do ex-presidente americano Donald Trump sobre as questões diplomáticas de Israel, fica evidente a contraposição de ambos os governos aos órgãos internacionais, e devido o comprometimento do governo de Jair Bolsonaro aos Estados Unidos, essa visão antiglobalista também é observada no contexto brasileiro, a qual é pouco a defendida pela diplomacia, visto que a neutralidade seria mais interessante ao Brasil devido às grandes trocas comerciais com o Oriente Médio.

Diante disso, o alinhamento automático entre Estados Unidos e Brasil exemplifica a fala de Kenneth Waltz, apesar do enfraquecimento que essa junção sofreu após a eleição de Joe Biden no final do ano de 2020 — que compromete as relações exteriores do país latino e a relação bilateral que existe com o gigante norte-americano — é possível perceber que o Brasil ainda sustenta-se na submissão desse vínculo delicado e provavelmente irá se subordinar à ele por um longo período.

REFERÊNCIAS

http://internacionalamazonia.blogspot.com/2013/05/importanciade-kenneth-waltz-para-as.html?m=1 

https://internacionalizese.blogspot.com/2017/05/teoria-das-relacoes-internacionais_23.html?m=1

WALTZ, Kenneth N. Theory of International Politics. Long Grove, Ill., Waveland Press, 1979.

WELLE, Deutsche. O Arriscado Alinhamento Automático Do Brasil Aos EUA. 6 Feb. 2020. Disponível em: <www.dw.com/pt-br/o-arriscado-alinhamento-autom%C3%A1tico-do-brasil-aos-eua/a-52275327> Acesso em 12 Mar. de 2021.

WELLE, Deutsche. Sob Biden, alinhamento do Brasil aos EUA dará lugar a relação mais fria. 2020. Disponível em: https://www.dw.com/pt-br/sob-biden-alinhamento-do-brasil-aos-eua-dar%C3%A1-lugar-a-rela%C3%A7%C3%A3o-mais-fria/a-55519005 Acesso em 15 mar. de 2021