Mudanças climáticas - Escola Kids

Érica Pereira do Nascimento – Acadêmica do 6° Semestre de Relações Internacionais da UNAMA

De acordo com o órgão das Nações Unidas, nota-se que as mudanças climáticas são um dos maiores desafios do sistema global. Muitas cidades são ameaçadas pelos impactos das alterações do clima através do aumento das ondas de calor, que intensificam a seca em regiões mais áridas ou que derretem geleiras e elevam o nível do mar, o que, por sua vez, leva a inundações e erosões das cidades; o uso insustentável da terra também é outro fator preocupante, pois gera uma perda intensa de nutrientes e as altas temperaturas contribuem para mudanças nos cultivos e para a redução de produções agrícolas.

As mudanças climáticas são uma verdade nítida em que todos os atores, em maior ou menor relevância, são atingidos pelos seus impactos e também são responsáveis por eles. Desta forma, força bélica e segurança não são mais os únicos focos de uma nação. Pensar as alterações climáticas é importante já que o mundo tem se tornado interdependente em assuntos econômicos, em comunicação, em meio ambiente, em necessidades humanas, etc.  Nye e Keohane (2009) tratam a interdependência complexa como um estado de mútua dependência entre países ou entre atores em diferentes países caracterizada por situações cujos efeitos são recíprocos entre eles, ou seja, acontecimentos que ocorrem em um país podem repercutir direta ou indiretamente sobre outros países/atores, podendo ser benéficos ou custosos, e, aqui, observam-se dois efeitos da interdependência: a vulnerabilidade e sensibilidade dos atores em relação às agendas.

A sensibilidade é a capacidade de resposta de um ator dentro de uma estrutura política, ou seja, com que rapidez uma ocorrência em um país pode levar a transformações dispendiosas para outra nação e quão grandes são esses efeitos dispendiosos. Logo, quanto maior a interdependência, maior a sensibilidade e, portanto, maior o impacto em termos de custos (NOGUEIRA E MESSARI, 2009). A vulnerabilidade é a responsabilidade de um ator ao sofrer custos decorrentes de eventos externos, isto é, mede o quanto um ator precisará dispor de seus recursos para enfrentar os efeitos gerados pela interdependência. Dessa maneira, a interdependência pode ser uma fonte de conflitos ou recurso de poder, pois os atores costumam apresentar assimetrias em suas agendas, logo, neste sentido, Nogueira e Messari (2009) analisam como administrar os efeitos da interdependência de forma que um dos principais papéis das organizações internacionais  seja  reduzir os custos  e criar condições favoráveis à cooperação.

Frequentemente, o planeta reage a essas mudanças e isso é visto no aumento da concentração de gases poluentes na atmosfera, levando ao desequilíbrio da biodiversidade e a impactos, tais como: nuvem de gafanhotos, após uma massa de ar seco e empoeirado; ciclones no sul do Brasil; calor prolongado na Sibéria, etc. O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) já advertiu que as atividades humanas são suas principais causas, logo, uma ação urgente é necessária para interromper os impactos negativos dessas alterações climáticas, muitas das quais já atingiram ou ultrapassaram seus pontos críticos, sendo, portanto, irreversíveis. Neste sentido, a ativista Greta Thunberg, em 2019, iniciou o movimento internacional de greve dos estudantes contra as mudanças climáticas, pois, ao perceber que ninguém fazia nada para impedi-las, sentou-se em frente ao parlamento sueco para exigir dos políticos medidas concretas já que a maior parte dos poluentes vem de grandes corporações e do próprio Estado, quando este não possui políticas de sustentabilidade para frear a emissão de gases de suas indústrias ou a queima de combustíveis fósseis, controlar o desmatamento e a utilização do solo, etc.

O assunto acerca do clima e suas alterações é algo que abarca todos os países do globo. A sensibilidade das nações em relação às mudanças climáticas é alta e ter atitudes que façam frente aos impactos gerados é de grande urgência. Quando um país ultrapassa a quantidade de emissão de gás permitida, ele contribui para mais aquecimento, prejudicando outras áreas do globo e regiões mais vulneráveis, como, por exemplo, as áreas florestais que terão mais dificuldade em frear o desmatamento e, com ele, mais gases serão emitidos. Dito isto, a interdependência, além de poder ser uma fonte de conflitos devido às assimetrias dos atores, ela também pode ser uma fonte de cooperação, a qual se torna fundamental na luta contra as mudanças climáticas. Como bem mencionou John Ashton, representante especial do Reino Unido para a mudança climática,  “A interdependência força-nos a compreender que os desafios atuais representam não só um dilema para nós (em nosso próprio país), mas também um dilema comum para todos. O ambiente chama a atenção para esse fato de maneira contundente: não existe essa coisa de clima estável para um país ou continente a menos que o clima esteja estável para todos. A segurança climática é um patrimônio público mundial.” (2009, p.252)

Referências

As mudanças climáticas. Por WWF. Disponível em: <https://www.wwf.org.br/natureza_brasileira/reducao_de_impactos2/clima/mudancas_climaticas2/?gclid=Cj0KCQjwu8r4BRCzARIsAA21i_BK4RngzB4PkAkr82dM6j5vNl8R0s9stBjXCFajOm34iphD4JnSBl8aArz5EALw_wcB>. Acesso em: 22 de julho de 2020.

Greta Thunberg, a adolescente sueca que está sacudindo a luta ambiental. Por BBC News, 23 de abril de 2019. Disponível em: <https://www.bbc.com/portuguese/geral-48022690>. Acesso em 22 de julho de 2020.

NOGUEIRA, P. J.; MESSARI, N. Teoria das Relações Internacionais – correntes e debates. Editora: Campus. 2005.

NYE, Joseph. Cooperação e Conflitos nas Relações Internacionais. Editora: Gente. 2009

Special report: special report on climate change and land. Disponível em: <https://www.ipcc.ch/srccl/chapter/chapter-1/>. Acesso em 22 de julho de 2020.