Pablo Gomes – Acadêmico do 4° Semestre de Relações Internacionais da UNAMA
Na década de 80, após a morte de Chico Mendes, ativista internacionalmente reconhecido, a crescente destruição das florestas e pela causa indígena, a Amazônia virou foco do mundo na questão de preservação, visto que seria uma emergência de problemas ambientais globais, afetando justamente a questão da mudanças climáticas. Pouco mais de 30 anos depois, em 2019, após queimadas assolarem a Amazônia, houveram fortes críticas ao manejo brasileiro da situação, e um forte movimento liderado por Emmanuel Macron, então presidente francês, que reatou o discurso de internacionalização da Amazônia, a partir de uma governança global. Entretanto, as mudanças climáticas são um assunto tão urgente assim? E esta governança global é viável e necessária? Para ambas perguntas, a resposta é a mesma.
Um dos pontos que ambientalistas expõem em razão da urgência das mudanças climáticas é que este será o fim de nossa civilização, que bilhões de pessoas irão morrer, primeiramente as crianças em 10 ou 20 anos. E isto é mentira. Nenhum grupo de pesquisas relacionadas ao meio ambiente diz que as mudanças climáticas são o estopim para a extinção humana, nem mesmo o relatório do IPCC, Painel Intergovernamental para Mudanças Climáticas na sigla em inglês.
E não é como se essas mudanças não fossem importantes, mas há assuntos que prejudicam muito mais o mundo do que este, e além que mitigar a alteração do clima pode, talvez, nos ajudar no futuro, entretanto no presente a maioria dos conflitos que ocorrem em uma população tem mais efeito direto vindo do baixo desenvolvimento socioeconômico.
Desta forma, podemos falar agora sobre a governança global e como o desenvolvimento econômico de um país pode se contrapor a essa proposta “multilateral”, utilizando argumentos de Robert Gilpin e Charles Kindleberger, internacionalistas da vertente neorrealista, sobre a importância da relação dos Estados com a economia, e como esta pode movimentar sistemas e desenvolver uma região (ou várias) de forma com que se respeite a soberania dos atores envolvidos.
Primeiro, há de se explicar que governança global é um conceito criado por Keohane e Nye, internacionalistas neoliberais que julgavam que a importância dos Estados não era mais a mesma de anos atrás, o que gera a possibilidade da criação de uma Nova Ordem política e econômica mundial, uma espécie de estrutura supranacional que estaria nas rédeas das normas, termos e procedimentos. Entretanto, a tese neorrealista diz que é impossível uma governança mundial sem a definição de uma supremacia entre as nações. Uma forma de “poder estabilizador” (Kindleberger, 1929) que pode ser identificado na história como os Estados que protagonizaram mudanças no Sistema Internacional e guiaram o resto do mundo a partir de suas políticas internas e externas.
Um desses exemplos é a Inglaterra, que para chegar a hegemonia global, uniu seus interesses políticos junto ao interesse econômico de uma forma sem precedentes. E movido pela tensão de uma inexorável guerra, a nação inglesa criou as bases para uma nova Economia mundial. Ou seja, devido a possibilidade de confronto (dilema da segurança), a economia nacional foi implementada como estratégia de Guerra defensiva, com o pioneirismo Inglês. E após as grandes nações seguirem, se tornou uma obrigatoriedade, pois era imposto pelo sistema político interestatal.
Por fim, percebe-se que uma governança global não é a solução dos problemas enfrentados pelo mundo, pois como disse Kissinger: os impérios não têm interesse em operar dentro de um sistema internacional; eles aspiram a ser o próprio sistema internacional. Assim, a urgência por resolver eventuais problemas que as mudanças climáticas podem trazer pode ser sanada pela inovação de uma nação, implementando um novo sistema econômico sustentável e sendo um exemplo que guia o resto do mundo para o desenvolvimento.
Referências Bibliográficas
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KINDLEBERGER, Charles. The world in depression, 1929-39. Berkeley: University of California Press,1973,p.304.