Isabelle Macêdo – acadêmica do 5° Semestre de Relações Internacionais da UNAMA

     As relações entre a Venezuela e a Guiana têm sido marcadas por uma longa história de conflitos e tensões, que recentemente têm crescido de maneira significativa. Desde o século XIX, quando o expansionismo britânico se estendeu até a América do Sul, através da anexação de antigas colônias holandesas como Berbice, Demerara e Essequibo, as bases para disputas territoriais foram estabelecidas. Em 1814, o Tratado de Londres consolidou esse processo, permitindo aos ingleses demarcar suas novas posses, traçando a linha Schomburgk ao longo do Rio Orinoco, em 1835 (ARAÚJO, pg.7). Esses eventos históricos fornecem um contexto crucial para entender a complexa dinâmica das fronteiras e dos conflitos territoriais entre essas nações sul-americanas.

      Os venezuelanos expressaram insatisfação com a nova demarcação territorial, visto que ela desrespeitava a fronteira estabelecida pelos antigos colonizadores espanhóis e ingleses em 1824. Além disso, tal delimitação permitia que os ingleses avançassem para o oeste, através do Suriname, aproximando-se da foz do Rio Orinoco. Ao longo do tempo houveram diversas modificações na fronteira, contudo, a maioria delas de forma desigual e unilateral para os ingleses, causando uma ruptura das relações diplomáticas entre as nações em 1887; estimulando a criação do Tratado de Arbitragem, este intermediado pelos Estados Unidos. Diante disso, desde então, a relação entre os países tem sido conturbada por conta de certas divergências.

  A Venezuela demonstra um interesse significativo na anexação de Essequibo por diversos motivos que vão além da sua riqueza em recursos naturais. A região de Essequibo é extremamente estratégica, uma vez que, possui uma vastas reservas de petróleo, descobertas em 2015, nas proximidades do delta do Rio Orinoco, além de ser conhecida por abrigar uma variedade de recursos minerais valiosos, incluindo ouro, bauxita e urânio, recursos, esses, fundamentais para impulsionar a economia e garantir autossuficiência energética e econômica.(G1, 2023)

  Conforme delineado pelo pensador neorealista Hans Morgenthau em sua obra “Politics Among Nations” (2006), os Estados são atores racionais que buscam primordialmente os próprios interesses e segurança. Nesse contexto, o sistema internacional é anárquico por conta da ausência de um poder central, com isso, associando com seu 2° princípio: “todo e qualquer interesse dos atores internacionais deve ser traduzido em sua pretensão de alcançar mais poder para si”,  dessa maneira a busca pela anexação de Essequibo reflete a tentativa de ambos os países de maximizar sua vantagem estratégica e econômica na região. Visto que, a riqueza de recursos naturais, torna essa área especialmente cobiçada, e o controle sobre ela é percebido como crucial para garantir a segurança nacional e a influência regional. Desse modo, a conduta política dos governos venezuelano e guianense em relação a Essequibo é motivada pela busca de vantagem estratégica, segurança e recursos econômicos. Ambos os países agem de acordo com seus próprios interesses nacionais, buscando expandir sua influência na região e proteger seus recursos naturais

  Em síntese, a disputa territorial entre Venezuela e Guiana por Essequibo, ao longo da história, ilustra os princípios fundamentais do realismo político de Hans Morgenthau. A busca pela posse dessa região estratégica é impulsionada pela maximização do poder e segurança de ambos os países na arena internacional. A riqueza em recursos naturais, combinada com a importância geopolítica de Essequibo, torna-a uma área altamente cobiçada, refletindo a constante luta pelo poder entre as nações. Nesse contexto, as ações dos governos venezuelano e guianense são motivadas pelos interesses nacionais, estratégicos e econômicos, conforme delineado pela perspectiva realista de Morgenthau.

Além disso, a recente aprovação pela Assembleia Nacional da Venezuela para a criação de um novo estado em Essequibo, mesmo em meio a uma disputa territorial prolongada com a Guiana, apesar do julgamento internacional pendente sobre essa região, pode ser vista como um esforço para consolidar sua posição e reivindicar controle sobre o território disputado. Isso reflete a priorização dos interesses nacionais e da busca pelo poder, conforme a perspectiva realista de Morgenthau, mesmo em face de controvérsias e desafios internacionais. Assim, a disputa por Essequibo continua a ser um ponto sensível nas relações internacionais, demonstrando a dinâmica contínua da política mundial e a busca incessante pelo poder entre os Estados.

Referências:

ARAUJO, Rafael. As Disputas Entre A Venezuela E A Guiana Pela Região De Essequibo: História E Atualidade De Uma Polêmica. Disponível em: https://www.seminario2016.abri.org.br/resources/anais/23/1473090301_ARQUIVO_ArtigoABRI-ASDISPUTASENTREAVENEZUELAEAGUIANAPELAREGIAODEESSEQUIBO-HISTORIAEATUALIDADEDEUMAPOLEMICA.pdf. Acesso em: 19/04/24

BUITRAGO, Deisy. CNN. Venezuela cria novo estado em Essequibo, território disputado com a Guiana. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/venezuela-cria-novo-estado-no-essequibo-territorio-disputado-com-a-guiana/ . Acesso em: 21/04/24

G1. Essequibo: o que há no território da Guiana que a Venezuela quer anexar, e como começou a disputa. Disponível em: https://g1.globo.com/mundo/noticia/2023/12/09/essequibo-o-que-ha-no-territorio-da-guiana-que-a-venezuela-quer-anexar-e-como-comecou-a-disputa.ghtml. Acesso em: 21/04/24

JACKSON, Robert; SORENSEN, Georg. Introdução às Relações Internacionais. 3° Edição. Editora Zarah, Publicado em 19 de julho de 2018.

SANTOS, Andressa. O Realismo Na Teoria Das Relações Internacionais. Disponível em: file:///C:/Users/USUARIO/Downloads/907.pdf .Acesso em 21/04/24.