Lucas Cardoso 3° Semestre de R.I da UNAMA

Durante a Segunda Guerra Mundial, as tropas coloniais britânicas desempenharam um papel vital na defesa e nos esforços ofensivos do Império Britânico. Com soldados recrutados de regiões como a Índia, África, Caribe e Pacífico, essas forças diversificadas participaram de campanhas críticas em teatros de guerra na Europa, África e Ásia. Apesar de enfrentarem discriminação e desigualdade, suas contribuições foram essenciais para as vitórias aliadas. A experiência de guerra dessas tropas também teve repercussões significativas, acelerando os movimentos de independência e a descolonização no período pós-guerra.

A priori, com a rápida derrota do exército francês na Europa, os militares britânicos entraram em choque, todavia os domínios britânicos já haviam jurado lealdade e se mobilizado suas tropas, mas a queda da França forçou o alto comando britânico a tirar o máximo proveito de suas colônias e também de possessões ultramarinas menores. A estratégia britânica então passou a direcionar suas forças armadas para garantir que as linhas de comunicação e abastecimento permanecessem abertas (Burk,2009)

Desde 1882, o Reino Unido manteve uma força militar permanente no Egito para proteger o Canal de Suez e a rota através do Mar Vermelho que era de extremo valor estratégico, pois fornecia comunicação e abastecimentos à Índia e outras colônias no Extremo Oriente. Em meados de 1939, o Reino Unido criou um comando unificado do Oriente Médio, que combinou o controle de todos os territórios britânicos no Oriente Médio e Mediterrâneo sob o comando do general Archibald Wavell (Burk, 2009)

Após o início da guerra, com as forças italianas pressionando em direção ao Sudão e Quênia, e no Oriente Médio o exército francês do Levante ameaçando a Palestina e o Iraque, os britânicos organizaram vários recrutamentos auxiliares, compostos por curdos e assírios (Burk, 2009). Tribos árabes e iranianas menores também se juntaram para apoiar milícias contra os nacionalistas iraquianos. Na Jordânia, a Legião Árabe foi chamada para lutar na guerra Anglo-Iraquiana e na subsequente campanha contra a Síria (Jackson, 2006).

As Divisões Africanas criadas localmente lutaram contra as forças italianas em 1940 e 1941mas o comando britânico foi rápido em assumir tropas de colônias que rodeavam a Abissínia. No Sudão a força de defesa sudanesa foi mobilizada, essa estava entre as forças coloniais mais bem equipadas com obuseiros e baterias de metralhadoras e apoio de uma divisão de infantaria indiana, os combates na África Oriental foram dominados por forças móveis e o uso de metralhadoras como a Gazelle force que tinha o objetivo pela segurança do Sudão e atacar território adentro da Etiópia e Eritreia Forças da Rodésia (Zimbábue) e apoio de forças sul-africanoas como unidades de reconhecimento.(Jackson, 2006)

Os Rifles Africanos do rei (RAR) no Quênia era um pequeno grupo durante o entre guerras, mas em março de 1940, a RAR colocou em campo 20.000 com base na África Ocidental reunindo tropas de outras colônias para proteger o Canal de Suez, assim que ele não esteve mais em perigo, algumas unidades africanas foram enviadas para o leste para enfrentar os japoneses na fronteira entre a Índia e a Birmânia (Jackson, 2006). Eventualmente, a Força real da fronteira da África Ocidental e divisões são anexadas aos Chindits que eram formados por indianos, nepaleses e gurkhas liderados pelo general Orde Wingate com missões de reconhecimento e penetrações de longo alcance com treinamento nas selvas da Índia (Jackson, 2006)

O exército indiano britânico apresentou de longe o maior conjunto de mão de obra pelos britânicos. Embora o domínio colonial fosse questionado e as negociações sobre o status colonial e maior independência criassem turbulência na política indiana, o exército indiano era em si uma arma poderosa para os britânicos. Assim caracterizados como uma força voluntária que durante a guerra cresceu para 2,5 milhões de soldados, no qual mesmo carente de tropas e unidades mecanizadas, forneceu uma força profissional praticamente em todos os teatros da guerra (Roy, 2016). Algo marcante nas tropas era o hibridismo cultural, como uniforme militar e turbante ou o uso da kukri pelos gurkhas (Roy, 2016).

Podemos correlacionar esse tema com as ideias de dois teóricos pós-coloniais indianos: Homi K. Bhabha, em **”O Local da Cultura”** (1994), e Gayatri Chakravorty Spivak, em **”Can the Subaltern Speak?”** (1988). Bhabha discute o hibridismo cultural, que é evidente nas tropas coloniais britânicas da Segunda Guerra Mundial, onde soldados de diversas colônias incorporavam elementos culturais locais, como turbantes e kukris, aos uniformes militares. Spivak aborda o silenciamento dos grupos marginalizados, um fenômeno que as tropas coloniais enfrentaram ao terem suas contribuições minimizadas nas narrativas dominantes e ao lidarem com estereótipos perpetuados pelos britânicos e entre as colônias. Assim, as experiências dessas tropas refletem a combinação de hibridismo cultural e marginalização discutida por esses teóricos.

Referências:

BHABA, K. Homi.O Local da Cultura. Editora UFMG, 2018

BURK, Kathleen. Old World, New World: The Story of Britain and America. Abacus, 2009.

JACKSON, Ashley. The British Empire and the Second World War. London: Hambledon Continuum, 2006.

ROY, Kaushik. The Indian Army in World War II, 1939-1945. Oxford: Oxford University Press, 2016.

SPIVAK, Gayatri. Can the Subaltern Speak. Walther Konig Verlag ,2021