Antônio Vieira, acadêmico do 1° semestre de Relações Internacionais

Ficha Técnica

Gênero: Ação, Crime

Duração: 2h 32min

Ano: 2008

Diretor (a): Christopher Nolan

Distribuição: Warner Bros

País de origem: EUA

O segundo filme da trilogia dirigida por Christopher Nolan, vencedor de dois Oscars: melhor edição de som e melhor ator coadjuvante (Heath Ledger), foca em discutir elementos como a corrupção, moralidade e o caos social. Além disso, a trama conta com um novo vilão, Coringa, que fará Bruce Wayne questionar o seu alter ego: Batman.

O filme começa com um assalto – idealizado pelo coringa – ao banco que possui uma enorme quantia de dinheiro da máfia, crime que tem como objetivo não apenas o financeiro, mas mostrar a sociedade que até mesmo um dos locais mais seguros da cidade pode ser violado. Aliado a isso, agora é possível ver um Bruce Wayne cansado, que busca alguém que faça o seu trabalho, mas de maneira mais pública e dentro da lei. Assim, é introduzido o promotor Harvey Dent, o qual, junto ao Batman e ao policial Jim Gordon, buscarão prender os responsáveis pelo assalto ao banco e o responsável pela corrupção mafiosa.

Conforme a história avança, o coringa adquiri uma profundidade nunca antes vista em outros vilões da trilogia, pois aqui não se vê mais a busca apenas pelo poder econômico, mas também o ideológico. Dessa maneira, o vilão procura dominar o mundo do crime para ter força em aplicar a sua ideologia anárquica: que todo mundo tem a capacidade de infringir a lei, até mesmo a pessoa mais ética, basta esta passar por algum momento de tragédia. Sob essa ótica, durante o filme é possível ver como o palhaço do crime busca manipular o Batman a matá-lo, o que vai de contra a moralidade do protagonista. Consequentemente, a negação do Batman em eliminá-lo levara a morte de diversas pessoas, o que faz com que o papel do herói passe a ser questionado pela sociedade. Além disso, outra vítima do vilão é Harvey Dent, que agora é visto como o substituto do cavaleiro das trevas. A diferença é que Harvey sofre consequências suficientes para mudar o seu próprio caráter.

Por fim, a busca pela prisão do coringa gera um caos enorme em Gotham, de explosões de hospitais até a morte de policiais. Isso é suficiente para que a forma como a justiça é feita na cidade seja desconstruída, se adaptando também ao caos. No entanto, Batman tenta até o fim não deixar que o palhaço do crime vença.

Associando o filme a teoria construtivista das Relações Internacionais, que defende a ideia de que o mundo está sempre em construção, e que a realidade é socialmente construída – através da cultura, educação e normas –, é interessante notar que o promotor Harvey Dent só consegue ter um grande sucesso porque a sociedade, por estar imersa em uma cidade repleta de corrupção e crime (ameaça a norma social), vê nele um meio para mudar essa realidade, haja vista que a essa altura ele já tinha prendido metade dos criminosos da cidade. Isso se exemplifica na cena em que Bruce Wayne diz, em uma festa organizada por ele, que ele acredita na atuação do promotor para tornar Gotham um lugar mais seguro e otimista (RAMOS, 2022).

Nesse viés, há uma característica da teoria construtivista que deve ser destacada: o discurso, o qual, é baseado nos estudos do teórico construtivista Nicholas Onuf. Segundo ele, o discurso é responsável por mudar e manter a realidade, ou seja, é por meio da propagação de valores e ideias através da fala que uma determinada realidade é protegida ou criada (FRIZZERA, 2013). De maneira análoga ao filme, a polícia não consegue prender o responsável (Lau) por administrar a vida financeira da máfia de Gotham por ele ser um cidadão chines que estava em Hong Kong. Nesse sentido, o motivo aqui é que o Governo chines não extradita chineses, assim, o discurso está pautado na soberania do País asiático.

No mais, Batman: O Cavaleiro das Trevas, é uma obra que foge do típico filme de herói, à medida que tem um toque mais realista, tanto em sua fotografia quanto no design de produção e enredo, que é recheado de críticas sociais. Desse modo, a teoria construtivista das Relações Internacionais é valiosa para a análise da obra cinematográfica.

REFERÊNCIAS:

FRIZZERA, Guilherme. “Análise de discurso como ferramenta fundamental dos estudos de Segurança – Uma abordagem Construtivista”. Conjuntura Global, Curitiba, Vol. 2, n.2, abr./jun., 2013, p. 59-63.

RAMOS, Danielly. TEORIAS DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS. In: Introdução às Relações Internacionais. São Paulo: Contexto, 2022. cap. 3, p. 63-94.