Antônio Vieira, acadêmico do 1° semestre de Relações Internacionais

Ficha Técnica

Gênero: Ação, Drama

Duração: 2h 02min

Ano: 2005

Diretor (a): Andrew Niccol

Distribuição: Lions Gate Films

País de origem: EUA

“O senhor das armas”, é uma obra cinematográfica estrelada pelo renomado ator Nicolas Cage, que discute de forma profunda e realista as consequências internacionais do tráfico de armas, principalmente para com países emergentes e em desenvolvimento. No mais, o filme discorre sobre a relação entre riqueza e poder para a permanência desse tipo de comercio, o qual fortalece a hegemonia de países como os Estados unidos da América.

A película inicia através de um monologo do protagonista Yuri Orlov (Nicolas Cage) – personagem inspirado no comerciante de armas russo “Viktor Bout” – sobre o comercio de armas, durante a sua fala, se destaca: “Há uma arma para cada 12 pessoas no planeta. A única pergunta é, como podemos armar as outras onze?” (CINEPOP, 2023). O filme expõe a ambição do protagonista, no entanto, posteriormente, é contado a história dele até a sua posição atual como o senhor das armas, dessa forma, a trama introduz a família de Yuri Orlov, que são imigrantes ucranianos em Nova York disfarçados de judeus, sendo o destaque o seu irmão, Vitaly Orlov (Jared Leto), que ajuda Yuri em seu novo empreendimento ilegal, a venda de armas.

À medida que a história avança, o protagonista percebe que para gerar mais lucro, seria necessário expandir o comercio de armas a nível internacional, sendo a prioridade o fornecimento de armas a países que estão em guerra. Sob essa ótica, a maioria dos países que Yuri faz negócios são emergentes ou em desenvolvimento, e estão sob regime ditatoriais, o que ressalta tanto uma problemática social quanto econômica. Durante o filme, há cenas em que crianças e famílias são alvejadas, sendo Yuri o perpetuador de diversos genocídios. Paralelamente, o enredo da atenção a vida amorosa do protagonista e a sua nova família, demonstrando como ele utiliza de seu poder para conquistar desejos pessoais por meio da manipulação.

Também, há um grande foco em demonstrar a oposição dos EUA por intermédio da Interpol, aqui representada pelo agente Valentine (Ethan Hawk), em relação as atividades ilícitas do comerciante. Consoante a isso, a disputa entre a legalidade e ilegalidade conquista o ápice crítico do filme, ao discutir a atuação do Governo norte americano em relação a indústria bélica, que busca, em certas circunstancias, apenas não “sujar as suas mãos”, o que torna Yuri “um mal necessário”. Também, há uma discussão sobre a influência do fim da URSS para o aumento dos bens do contrabandista, porque, após a queda do muro de Berlim, devido a corrida armamentista entre EUA e Rússia, o estoque de armas era exorbitante. Nesse viés, as consequências das atividades de Yuri passam a ficar ainda mais densas, haja vista que ele passa a ter uma forte relação com o ditador da Libéria, e a pólvora de suas armas passa a ser usada como receita de uma droga, que é dada a jovens, como meio para dar a eles coragem durante os conflitos armados.

Portanto, é possível notar a crítica do filme perante a glorificação de armas, que é sobretudo alimentada pela luta pelo poder entre as nações, as quais veem na guerra uma oportunidade de crescimento econômico. Nessa perspectiva, o filme é um paralelo ao mundo real, que, segundo a teoria critica das Relações Internacionais, se dá em virtude do processo de globalização, que fez o Estado nacional se tornar totalmente submisso à economia capitalista mundial, bem como aos interesses das elites transnacionais, assim, as regiões mais subdesenvolvidas se tornam vítimas de exploração (RAMOS, 2022). Além disso, a teoria se opõe a ideia de soberania: “Como comunidades morais limitadas, Estados soberanos promovem a exclusão, a injustiça e a insegurança em nome de rígidas fronteias que separam nós dos outros “(RAMOS, 2022, p. 94).

À luz disso, há uma cena no filme em que é exposto como o Governo norte-americano se aproveita de guerras, tanto civis quanto entre nações, para alimentar a sua economia. No contexto, Yuri está prestes a ser preso pelo agente da Interpol, mas é solto pelo superior do agente. O ponto aqui é que o comerciante é solto em virtude de sua utilidade aos interesses políticos de líderes que se beneficiam das guerras, como o presidente dos EUA. Assim, a situação expõe como a lei é um instrumento que pode ser utilizado para manter e gerar conflitos e desigualdades sociais. Dessa maneira, segundo a ideia de hegemonia mundial do autor Robert Cox, que é simultaneamente social, econômica e política (PASSOS, 2022), a economia capitalista do ocidente – exemplificada no filme por meio do comercio de armas – é uma das responsáveis por colaborar com as mazelas da guerra, tanto ilicitamente quanto licitamente

Em suma, “O senhor das Armas” é um filme atemporal, que reflete situações atuais como a atuação dos EUA, através da OTAN, na guerra entre Rússia e Ucrania. Igualmente, promove uma conscientização a nível global das consequências da busca incessante por lucro e poder pelas potencias, que se dá às custas de mortes, sofrimento e do aumento da desigualdade social em países subdesenvolvidos. Demais, a obra conta com diálogos profundos, que nos faz permanecer imerso na trama.

REFERÊNCIAS:

CINEPOP. “O Senhor das Armas é um dos GRANDES FILMES da carreira de Nicolas Cage que ganhará continuação em breve”. 2023. Disponível em: https://cinepop.com.br/o-senhor-das-armas-e-um-dos-grandes-filmes-da-carreira-de-nicolas-cage-que-ganhara-continuacao-em-breve-449721/. Acesso em: 10 de jun. de 2024.

PASSOS, Rodrigo. “Robert W. Cox e a hegemonia: uma análise preliminar da conjuntura internacional de 2022”. Unesp de Marília, 2022. Disponível em: https://www.marilia.unesp.br/Home/Eventos/2022/rodrigo-passos.pdf. Acesso em: 11 de jun. de 2024.

RAMOS, Danielly. TEORIAS DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS. In: Introdução às Relações Internacionais. São Paulo: Contexto, 2022. cap. 3, p. 63-94.