
A consideração sobre a dinâmica das relações internacionais está presente desde os pensadores gregos clássicos, como é o caso de Tuádides. A disciplina de RI experimentou grandes transformações e desenvolvimento pós primeira guerra mundial, tornando-se assim indispensável para o entendimento da conjuntura contemporânea. Dessa forma, segundo Carr, para uma melhor compreensão sobre o mundo moderno é preciso uma leitura sob a ótica mais ampla das relações entre estados e povos (CARR, 2001).
O pensamento realista no campo de análise das relações internacionais tem Edward Hallet Carr (1892-1982) como seu precursor contemporâneo. Conhecido pela contribuição à ascendência do realismo no século XX, Carr foi um dos poucos teóricos que teve a chance de participar das principais transformações do início do século XX, ganhando diversas experiências que permitiram que lecionasse Política Internacional e posteriormente elaborasse uma de suas obras mais conhecidas, Vinte anos de crise: 1919-1939.
As denúncias realizadas por Carr em Vinte anos de crise aos estudos de política internacional de seu tempo revelam a importância da história, da filosofia política e da economia política (CARR, 2001). Na obra observa-se um esforço de interpretação fundamentada nos pressupostos do realismo de uma situação perturbadora e conturbada que era o mundo dos anos dos entreguerras, buscando explicar a princípio o motivo da insegurança e instabilidade que ocorrera na política internacional (LIMA, 2012).
Ademais, o autor analisa o caminho de duas correntes teóricas antagônicas, a utopia (idealismo) e o realismo, contudo dando mais contribuição para a segunda e desconstruindo a primeira. A crítica de Carr aos pensadores “idealistas” pode ser sintetizada na ideia de harmonia de interesses. Ou seja, os pontos de vista de Carr se relacionam na dificuldade de harmonizar perspectivas frequentemente conflitantes que derivam da tendencia da própria natureza humana (LIMA, 2012). Dessa forma, para o crítico o liberalismo econômico gerou o acirramento pelas disputas por mercados e o Imperialismo.
Sob essa ótica, Carr ilumina os conceitos da moral, poder e do Direito internacional ao se afirmar que o potencial conflito e de cooperação presente no âmbito internacional emergia de um complexo jogo de poder que transcendia a compreensão humana, um jogo que políticas nacionais pouco podiam fazer para mudar a direção dos acontecimentos (LIMA, 2012). Assim, para o autor, “Inadequada e errônea a tentativa de basear a moral internacional numa pretensa harmonia de interesses, que identifica o interesse da totalidade da comunidade das nações, com o interesse de cada membro individual dela” (CARR, 2001).
Dando continuidade ao seu pensamento, Carr afirma que o verdadeiro interesse de cada nação está na manutenção do status quo quando este lhe é favorável, e isso pode significar paz ou guerra para o sistema. Nesse viés, ao se analisar papel do poder e da moral na política internacional o autor argumenta que a política não está fundamentada exclusivamente em termos de poder, porém é seguro dizer que o poder é uma peça fundamental da política (CARR,2001).
Carr também tem o mérito de apontar as falhas do próprio realismo. O autor reconhece que:
“[…] qualquer pensamento político lúcido deve basear-se em elementos tanto de utopia, quanto de realidade. Onde o pensamento utópico tornouse uma impostura vazia e intolerável, que serve simplesmente como um disfarce de para os interesses dos privilegiados, o realista desempenha um serviço indispensável ao desmascará-lo. Mas o puro realismo não pode oferecer nada além de uma luta nua pelo poder, que torna qualquer tipo de sociedade internacional impossível.” (CARR, 2001, p. 122).
Em suma, Eduward Carr é um imprescindível contribuinte, não somente, para fins de análise da formação de disciplina das relações internacionais, mas também da formação das bases do realismo do século XX. Logo, seu pensamento é considerado atemporal e as análises sobre a dicotomia realista e utópica, sobre o poder, a moral e o direito internacional podem ser usadas para iluminar os fatos das relações internacionais contemporânea.
Referências:
CARR, Edward H. Vinte Anos de Crise. Brasília, IPRI – Ed. UnB. 2001
LIMA, Marcos (org) et al. Teóricos das Relações Internacionais. São Paulo: Hucited Ed. Capes, 2012.
ROSEVICS, Larissa. O legado de Edward Hallet Carr para as Relações Internacionais. Diálogos Internacionais, 2015.