
Tiago Callejon Santos – acadêmico do 7° semestre de Relações Internacionais da Unama
No dia 21 de abril de 2023, em Moscou, na Rússia, ocorreu uma reunião entre as delegações da China e da Rússia, naturalmente comandadas pelos seus representantes de Estado, isto é, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, e o presidente da China, o senhor Xi Jinping. O acordo, em parâmetros gerais, refere-se a um acordo de natureza comercial e econômica e que ficará vigente até o ano de 2030 (Borg, 2023).
Entre os destaques da negociação, enfatiza-se a cooperação de ambos os países para a criação do gasoduto Força da Sibéria 2, o qual permitirá um maior incremento e acesso de importação do gás russo à China e, por fim, que irá adequar uma melhor união de ambas as partes ao atual sistema vigente (UOL, 2023). Destaca-se, também, a fala do presidente da China, Xi Jinping, afirmando que esta nova cooperação entre as duas potências irá realizar um “reforço de coordenação” entre ambos, além de viabilizar um melhor vínculo na constituição da nova ordem mundial que está se estabelecendo (UOL, 2023).
Um dos aspectos mais interessantes envolvendo esta reunião e, posteriormente, a efetivação do acordo, diz respeito acerca da fala do presidente Putin sobre a utilização da moeda chinesa em transações financeiras e comerciais com países das mais diversas localidades do globo, no qual, no desejo de Putin e, conforme as suas palavras, ele expressar a vontade de “usar o yuan chinês nos pagamentos com países da Ásia, África e América Latina” (ANSA BRASIL, 2023).
Esta fala pode parecer discreta ou de pouca relvância para o público em geral que se depara com esta notícia, mas em matérias de economia internacional e de Relações Internacionais, ela representa uma importância fulcral para a nova ordem econômica e mundial que está se formando no mundo no que diz respeito ao conceito de desdolarização.
Este conceito, o qual foi debatido fortemente nos últimos dias, após as reuniões do presidente do Brasil, Lula, na China, em reuniões do BRICS, ganhou extrema importância e relevância (Berlinck, 2023), pois o processo de desdolarização não destaca uma eventual queda do dólar no sistema financeiro e comercial mundial, mas refere-se a perda de influência que esta moeda há de exercer nas novas relações comerciais e de poder em todo o Sistema Internacional e, no sentido macroscópico, destaca a perda de influência dos sistemas financeiros que emergiram no contexto de Bretton Woods nos novos parâmetros e nas novas consolidações comerciais do próprio Sistema Internacional.
Portanto, ao se observar uma certa descontinuidade desses processos comerciais, sobretudo realizado por negociações e acordos envolvendo grandes potências emergentes que integram o bloco dos Brics, como é o caso da Rússia e da China, observa-se, de fato, nas palavras do próprio presidente da China, essa transição estrutural que foi estabelecida no mundo após a 2° Guerra Mundial e que, somente nos moldes atuais, começou a ser modificada para uma nova concepção.
Por fim, a redatora, Deborah Berlinck, expõe alguns dos motivos plausíveis para desbancar o dólar como imponência máxima do Sistema Econômico Internacional: na cosmovisão russa, isso apresentaria estratégias para poder contornar as sanções estipuladas pelos EUA no que se refere às suas exportações de petróleo e gás natural e, por lado da confederação chinesa, representa uma oportunidade de expandir a sua zona de influência e de poder no mundo, a fim de competir fortemente no Mercado Internacional e utilizar as suas moedas locais como instrumentos para minimizar os efeitos do dólar como arma comercial internacional em grande escala, conforme análises do economista Bruno de Conti (2023).
Com efeito, têm-se em mente que as implicações envolvendo esse novo acordo comercial entre China e Rússia não se configura apenas como um acordo econômico bilateral para poder introduzir novas mecânicas de desenvolvimento econômico e civil entre as nações, porém, também se configura como um instrumento para atingir uma maior visibilidade e competência de suas moedas, no Mercado Internacional e, assim, diminuir cada vez mais as inflûencias do dólar e das instituições financeiras de Bretton Woods nas novas configurações comerciais, financeiras e cambiais que estão se sucedendo em todo o mundo, principalmente entre os países que compõe os BRICS.
Referências:
CHINA E RÚSSIA ANUNCIAM NOVO ACORDO DE COOPERAÇÃO ECONÔMICA. Ansa Brasil; Publicado em 21 de Março de 2023, disponível em: https://ansabrasil.com.br/brasil/noticias/politica/2023/03/21/china-e-russia-anunciam-novo-acordo-de-cooperacao-economica_b3de7c11-9b3d-40b6-87a3-2378dac58e60.html
BERLINCK, Deborah. Desdolarizar o mundo: o jogo geopolítico por trás das ações de Brasil e China. Headline; publicado em 15 de abril de 2023, Brasil. Disponível em: https://www.headline.com.br/desdolarizar-o-mundo-o-jogo-geopolitico-por-tras-das-acoes-de-brasil-e-china-6ddb7bcc
OLIVEIRA, de Marcos. O Brasil e a desdolarização. Monitor Mercantil; publicado em 11 de abril de 2023, Brasil. Disponível em: https://monitormercantil.com.br/o-brasil-e-a-desdolarizacao/
CHINA E RÚSSIA ANUNCIAM NOVO ACORDO DE COOPERAÇÃO ECONÔMICA. UOL, setor Internacional; publicado em 21 de março de 2023, Brasil. Disponível em: https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/ansa/2023/03/21/china-e-russia-anunciam-novo-acordo-de-cooperacao-economica.htm BORG, Pedro. Putin e Xi assinam acordos de cooperação estratégica entre China e Rússia. Valor Econômico, Globo; publicado em 21 de março de 2023. Disponível em: https://valor.globo.com/mundo/noticia/2023/03/21/putin-e-xi-assinam-acordos-de-cooperao-estratgica-entre-china-e-rssia.ghtml