Cristine Oliveira, acadêmica do 3° semestre de Relações Internacionais 

Ficha técnica:  

Ano: 2022 

Diretor: Lee Yoon Jung  

Distribuidora: Netflix 

Gênero: Drama. Romance. 

País de origem: Coreia do Sul 

Dirigido por Lee Yoon Jung, a série “Summer strike” acompanha a vida de Yeo-reum, uma jovem com a vida perfeita, que mora em Seul, capital da Coreia do Sul, tem um emprego estável e um relacionamento duradouro. Tudo ia bem, até que a vida da protagonista muda drasticamente e ela decide ir morar no interior, longe do ritmo agitado da capital. 

Yeo-reum é uma jovem adulta, bem-sucedida, mas infeliz pela vida repetitiva que leva, sempre indo do trabalho para casa e da casa para o trabalho. Cada vez mais, o seu trabalho passa a ser exaustivo graças ao seu chefe, que exige demais dos funcionários, ao ponto de ser abusivo. Pensando nisso, ela tenta conversar com o namorado sobre essa situação que está a prejudicando, mas ele não demonstra se importar com ela e então ele decide terminar o relacionamento. Lidando com o término repentino de um relacionamento de seis anos, Yeo-reum passa por mais um evento traumático, sua mãe, que era sua única rede de apoio, morre, em um acidente e tudo ao redor dela perde sentido. Os dias passam, e a mesma rotina se repete sem parar, o que faz ela entrar em depressão profunda, até que um dia, ela decide mudar tudo. 

Decidida a quebrar com esse ciclo de exaustão, a protagonista se demite da empresa que trabalhava, vende quase tudo, inclusive seu apartamento, e se muda para Angok, uma cidade litorânea, tranquila e com poucos habitantes, bem diferente do ritmo frenético de Seul. Nos primeiros meses, ela decide não trabalhar e viver apenas com o dinheiro que havia guardado. Sua rotina, agora, consiste basicamente em passar o dia na biblioteca da cidade e é nela que Yeo-reum conhece Dae-beom, um bibliotecário tímido, que assim como ela, tinha deixado a vida agitada de cidade grande para trás. Ao longo da narrativa, é possível observar a dimensão da mudança de cidade, para a protagonista, se tornar parte de uma comunidade e fazer o que quer, sem preocupação, é o verdadeiro significado de felicidade. 

A partir dos temas abordados na série, é possível relacioná-la a teoria pós-moderna das Relações Internacionais. Segundo o filósofo Michel Foucault (2008), o biopoder busca gerir e regular a massa global, através do discurso do saber. As instituições buscam legitimar as ações do Estado, assim como, objetivam responder as necessidades do mercado econômico, o qual é essencial para o fortalecimento do Estado.  

Dessa forma, ainda pensando no poder que o Estado exerce sobre o indivíduo, o filósofo Byung-Chul Han em sua obra “Sociedade do cansaço” (2015), afirma que o modelo neoliberal, dissemina na sociedade uma positividade tóxica, que exige a produtividade máxima dos indivíduos. Sendo assim, o próprio indivíduo, denominado “sujeito desempenho”, se torna um disciplinador, sempre buscando atingir incessantemente seus objetivos, o que acarreta em uma sociedade com altos índices de psicopatologias, causadas pelo esgotamento característico do sistema neoliberal. 

Logo, conclui-se que a produção sul-coreana, “Summer strike”, é fundamental para fomentar debates acerca do adoecimento dos sujeitos na sociedade moderna, e como, nem sempre, a felicidade e o sucesso, estão diretamente ligados a uma lógica capitalista.  

Referências:  

FILHO, F. A.; ROSA, P. O.; MARCHIORI, G. R. S. From homo oeconomicus to the performance subject: the trajectory of the subject in the neoliberal model in the thoughts of Foucault and Byung-Chul Han. Research, Society and Development, [S. l.], v. 9, n. 4, p. e130942964, 2020. DOI: 10.33448/rsd-v9i4.2964. Disponível em: https://rsdjournal.org/index.php/rsd/article/view/2964. Acesso em: 8 may. 2023. 

FOUCAULT, Michel. Nascimento da biopolítica. Curso dado no Collège de France (1978-1979). São Paulo: Martins Fontes, 2008b 

HAN, Byung-Chan. Sociedade do Cansaço. Tradução de Ênio Paulo Giachini. Rio de Janeiro: Vozes, 2015.