
As relações comerciais bilaterais entre a República da China e a República Federativa do Brasil se fortificaram no século XXI, devido a inserção da China na Organização Mundial do Comércio em 2001 e crescimento da demanda chinesa por commodities primárias – combustíveis, agrícolas e minerais (PAIVA, 2014, online). Hodiernamente, desde 2009, a China é a maior parceira comercial do Brasil (BRASIL, 2014, online) e os acordos e pautas levantados e estabelecidos em 2023, durante o terceiro governo de “Lula”, podem ser exemplos e pontos de partida para um pensamento e mudança na ordem instaurada em 1944, nos Acordos de Bretton Woods.
Em março de 2023, Brasil e China assinaram mais acordos para um aumento do entrelaço, não só comercial, entre os países e duas dessas negociações cingem o relacionamento monetário entre os países com a “viabilização de transações comerciais de câmbio direto entre o real brasileiro e renminbi (RMB) — nome oficial da moeda chinesa, mais conhecida no mundo ocidental como yuan” (CNN, 2023, online). Além disso, em abril de 2023, Lula discursou em defesa de transações sem dólar no comércio global e no BRICS (REUTERS, 2023, online), bloco econômico formado inicialmente por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, que expandiu para outros países emergentes. Esses acordos e posicionamentos podem ser cotados para pontos de partida para a desdolarização mundial (descontinuação do sistema financeiro mundial acordado em Bretton Woods), a quebra da hegemonia estadunidense (Estado base do dólar) e uma nova polaridade (ou multipolaridade) monetária.
Os acordos monetários de Bretton Woods ocorreram em um cenário pós-guerra e com a finalidade de organizar e padronizar o sistema financeiro internacional e regular a política econômica internacional. Houve o estabelecimento de que “cada país seria obrigado a manter a taxa de câmbio de sua moeda “congelada” ao dólar, com margem de manobra de cerca de 1%. A moeda norte-americana, por sua vez, estaria ligada ao valor do ouro em uma base fixa” (BARRETO, 2009, online), além do mais, “foram criadas instituições multilaterais encarregadas de acompanhar esse novo sistema financeiro e garantir liquidez na economia: o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI)” (Ibidem).
Aliado a isso, segundo Robert Gilpin (2002, p. 375), a instauração do sistema financeiro mundial em 1944 teria sido atribuído a três fatores: o ambiente político favorável, a existência da oferta de fatores favoráveis e a grande demanda; esses fatores instaurados na ciclicidade aprimorada dos sistemas mundiais podem ser os fatores que levarão à desdolarização mundial. Ou seja, pode-se dizer que a relevância do sistema BRICS (sua parceria, crescimento econômico e posição política), a crise do sistema político-econômico dos Estados Unidos (com altas taxas internas de inflação) em comparação com a crescente estabilidade chinesa, e a grande parcela de países emergentes e subdesenvolvidos (em uma visão econômica do norte global) que buscam se desenvolver e participar do sistema BRICS, são evidências de um ambiente político favorável, da existência da oferta de fatores favoráveis e de uma grande demanda, fatores substanciais para uma reestruturação financeira mundial. Desse modo, pode-se afirmar que há mecanismos e movimentos favoráveis para uma possível futura desdolarização, podendo ser em um futuro próximo ou distante. O que pode-se perceber é que um estreitamento de laços em maior força entre Brasil e China foi constituído e será desenvolvido ao longo do governo atual. Para além, as pautas levantadas pelo supremo executivo brasileiro se estabelecem como um ponto primordial para maiores inserções de países emergentes e subdesenvolvidos como players significativos no sistema financeiro e político mundial.
REFERÊNCIAS:
BARRETO, Pedro Henrique. História – Bretton Woods. Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, Ano 6 . Edição 50, 2009. Disponível em: https://www.ipea.gov.br/desafios/index.php?option=com_content&view=article&id=2247:catid=28&Itemid=23. Acesso em: 03 mai 2023.
BRASIL. República Popular da China. Ministério das Relações Exteriores, 2014. Disponível em: https://www.gov.br/mre/pt-br/assuntos/relacoes-bilaterais/todos-os-paises/republica-popular-da-china. Acesso em: 02 mai 2023.
GILPIN, Robert. A Economia Política das Relações Internacionais. Brasília: Editora da Universidade de Brasília, 2002.
NASSIF, Tamara. Brasil e China assinam acordos para viabilizar transação direta entre real-yuan; entenda. CNN BRASIL, 2023. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/economia/brasil-e-china-assinam-acordos-para-viabilizar-transacao-direta-entre-real-yuan-entenda/. Acesso em: 03 mai 2023.
PAIVA, Dênis Mateus de. Relações de investimento e comércio entre o Brasil e a China no contexto da rápida expansão chinesa e da trajetória recente da economia brasileira. IPRI, 2014.
REUTERS. Lula defende transações sem dólar no comércio global e no Brics. Diário do Comércio, 2023. Disponível em: https://diariodocomercio.com.br/economia/lula-defende-transacoes-sem-dolar-no-comercio-global-e-no-brics/. Acesso em: 02 mai 2023.