
Por Márcia Wayna Kambeba – Ativista Indígena e Doutoranda em Estudos Linguísticos
A luta dos povos indígenas atravessou gerações e continua durante esse tempo em que vivemos. É preciso compreender a história, todo processo de violência colonizadora e os dispositivos coloniais que se impregnaram na nossa cultura e são fortalecidos em pleno século XXI.
Através dos relatos vindos dos anciões é possível saber sobre as dores sentidas no período do contato quando eram surpreendidos por invasões, prisões, estupros, mortes, escravidão, torturas, etc. Tidos como intrusos em sua própria terra. Seu sagrado violado em nome de uma coroa, uma cruz se erguia e a conquista de terras estava anunciada.
Essas barbáries vividas desde o século 16 ainda são sentidas de forma diferentes, mas com estratégias iguais as contadas por nossos anciões. Invasões, casas incendiadas, mortes e violências sexuais continuam sendo em pleno século 21 a estratégia de dominação através de um pensamento eurocêntrica que diz: ” pra que índio quer tanta terra?”. E o olhar de invasor se volta para os povos junto com o olhar de entrave para o progresso.
Então ser indígena no Brasil de hoje é ser um resistente de tantas lutas e guerras, é ser construtor de pontes para fortalecer a interligação de mundos e conectar as pessoas com a natureza que também é violentada a cada minuto. Ser indígena no Brasil é saber que a cidade é também sua aldeia posto que antes do colonizador pisar esse chão chamado Brasil seus pés aqui já tinham pisado e seus cabelos cobriam esse chão.
Ser indígena no Brasil é continuar resistindo e lutando contra toda forma de dispositivo colonial que venha pairar sobre nossas cabeças. É viver o seu sagrado compreendendo que a identidade afirmada nos torna responsáveis por um legado que terá continuidade com as futuras gerações. É ser semeador de um novo tempo onde possamos segurar o céu da nossa existência com resistência. É olhar pro outro e se ver nele e saber que sempre vou ter um parente e se ver parente. É ser cada vez mais humano.