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A falência do Silicon Valley Bank (SVB) provocou uma crise no sistema financeiro internacional, o que evidenciou a volatilidade característica da especulação financeira. Sendo assim, a crise suscitou uma discussão de suma importância sobre o efeito da insegurança sobre atores do mercado frente a um cenário de alto risco, assim como o questionamento da capacidade dos Estados nacionais em prevenir e combater crises do mercado financeiro.
Primeiramente, há de se discorrer sobre a forma como ocorreu o colapso do SVB. Especializado em investimentos de risco para startups de tecnologia, o banco passou por um período de crescimento desenfreado em pouco tempo, quando o valor de seus “ativos quase quadruplicaram entre 2018 e 2021” (CNN, 2023, online). Esse grande crescimento mostrar-se-ia um dos principais fatores por trás do colapso do banco, uma vez que o banco foi advertido por possuir “sistemas de gerenciamento de risco insuficientes” (Ibidem) pelo banco central dos Estados Unidos.
Aliado a isso, o cenário atual de combate ao aumento da inflação através do aumento das taxas de juros contribuiu para a falência do SVB. Em decorrência do aumento dos juros em países como Estados Unidos e Reino Unido elevou o custo para a realização de empréstimos, além disso, o mercado de títulos foi afetado, fazendo com que o valor das carteiras de título atuais caísse, com isso, diversos bancos podem deparar-se com grandes prejuízos (BBC, 2023, online). Desse modo, a situação econômica atual levanta dúvidas sobre a solvência do sistema bancário.
É importante destacar que o colapso do SVB iniciou uma crise que se alastrou pelo sistema bancário internacional. Na Suíça, o banco Credit Suisse enfrentava dificuldades financeiras e teve de ser vendido para o banco UBS para evitar o colapso da economia do país (CNBC, 2023, online). Na Alemanha, a especulação financeira resultou em uma queda de aproximadamente 20% no valor das ações do Deutsche Bank e gerou temores sobre uma repetição do que havia ocorrido na Suíça, apesar de o banco apresentar um saldo extremamente positivo (Forbes, 2023, online). Dessa forma, percebe-se que a falência do SVB instaurou um sentimento de insegurança em relação aos bancos ao redor do mundo.
A partir da visão de Pesente (2019), em seu livro “Mercados Financeiros”, pode-se afirmar, de forma básica, que o banco SVB se dava como um intermediador financeiro que buscava manejar, de forma eficiente, os recursos financeiros dos agentes econômicos conhecidos como superavitários e deficitários, cujos primeiros recebem valor de juros sobre os recursos financeiros disponibilizados em forma de empréstimo para os segundos.
Ou seja, os superavitários disponibilizam seu patrimônio monetário em forma de criação de contas de poupança ou em compras de títulos bancários, essa moeda (ou uma parcela dele) é “emprestada” para os agentes deficitários (no caso do SVB, startups iniciantes) que pagam juros sobre esse empréstimo e esses juros utilizados para pagar os superavitários e também para incorporação bancária (como agente financeiro e empresarial).
O ponto principal e de partida da quebra desse ciclo de intermediação financeira, que resultou na falência do SVB, se dá pelo manejo incoerente das reservas e das taxas de juros (além de fatores externos resultantes de pontos políticos e da Economia Real) que levou ao afastamento dos agentes superavitários, resultando em uma alta dívida para repasse de juros de recebimento a eles.
Outrossim, o questionamento de que o SVB poderia ter sido “resgatado” por agentes do Estado é contraditório ao funcionamento do ordenamento da intermediação financeira, que apesar de o Estado ser um agente regulador e que pode intervir na economia para esses fins (SMITH, 1996), não é o player em foco e desregulariza a prévia autonomicidade do meio. Ou seja, o Estado tem o poder de agir como regulador, prevenir e remediar crises do sistema financeiro, mas os agentes intermediários devem agir com coerência para suprir a demanda e a oferta de intermediação, mesmo em cenários desfavoráveis.
Para além, pode-se dizer que em um mundo contemporâneo globalizado e interligado as preocupações sobre a falência do SVB se alastram para outros bancos e outros agentes superavitários a fim de proteger seu sistema, o que reverbera em retiradas de moedas para bancos com mais credibilidade e com taxas de juros melhores. Os exemplos dos outros bancos que abriram falência e tiveram que ser “resgatados” pelos Estados mostra que não é um caso isolado e o sistema de mercado financeiro deve ser estudado para uma melhor gestão e reestruturação desse ciclo ou outras alternativas para esse mercado.
Desse modo, é notório que, por meio da globalização e dos avanços técnico-científicos, a falência do SVB, o qual ocorreu devido à diferença entre os patrimônios monetários dos agentes superavitários e os deficitários no banco, teria potencialidade para resultar em crises dentro de outros âmbitos não somente o econômico. Assim, tornou-se necessário a interferência do Estado sobre esse mercado para estabilizar a economia estadunidense e acalmar o mercado global e seus investidores, a fim de assistir tal grupo para assim circular novamente o mercado financeiro no EUA.
Logo, a crise de SVB tornou-se a maior falência, desde a falência de Lehman Brothers em 2008, por conseguinte, são retomados questionamentos pelos especuladores e agente deficitários não somente sobre a mutabilidade do mercado financeiro, bancos, especulação financeira, portanto, originando temor ante o sistema de financiamentos, mas também sobre qual meio pode transformar o mercado financeiro mais regulado, com a presença ou ausência do Estado, com a finalidade de minimizar tais crises atuais e futuras.
Referências:
BBC. Silicon Valley Bank: reguladores assumem banco atingido pela maior falência dos EUA desde 2008. BBC, 10 mar 2023. Disponível em:
https://www.bbc.com/portuguese/articles/c4nlg79gk4go. Acesso em: 8 abr 2023.
CNBC. Switzerland faced a full-scale bank run if Credit Suisse went bankrupt, Swiss regulator argues. CNBC, 5 abr 2023. Disponível em: https://www.cnbc.com/2023/04/05/switzerland-faced-a-bank-run-if-credit-suisse-went-bankrupt-swiss-regulator.html. Acesso em: 8 abr 2023.
CNN. Why almost everyone failed to predict Silicon Valley Bank’s collapse. CNN, 26 mar 2023. Disponível em: https://edition.cnn.com/2023/03//business/silicon-valley-bank-red-flags/index.html. Acesso em: 8 abr 2023.
FORBES. Queda das ações do Deutsche Bank sublinha insegurança do mercado. FORBES, 25 mar 2023. Disponível em: https://forbes.com.br/forbes-money/2023/03/queda-das-acoes-do-deutsche-bank-sublinha-inseguranca-do-mercado/.
Acesso em: 8 abr 2023.
PESENTE, Ronaldo. Mercados Financeiros. Salvador: UFBA, Faculdade de Ciências Contábeis.2019.
SMITH, Adam. A Riqueza das Nações. São Paulo. Editora: Nova Cultural Ltda. 1996.