Brenna da Silva Dias

acadêmica do 5º semestre de Relações Internacionais da UNAMA

Donos de um grande reconhecimento no Oriente Médio e, agora, no mundo, a banda Mashrou Leila se destaca dos demais grupos musicais por seu caráter revolucionário e crítico. Lutando, principalmente, a favor dos direitos LGBTQIA+ no Líbano, a banda é um grande sucesso no cenário indie.

Composta por Hammed Sinno, Haig Papazian, Carl Gerges, Firas Abou Fakher, Omaya Malaeb e Ibrahim Badr, a banda foi formada em 2008 por iniciativa de Andre Chedid e Omaya Malaeb, que estudavam na Universidade Americana de Beirute e desejavam desabafar sobre o estresse causado pela faculdade e a instabilidade política vivida naquele período. Logo depois, os demais integrantes adentraram no projeto.

Em 2009 a banda participou do concurso de Música Moderna da Rádio Liban realizado no Basement (clube), e lançou o single “Raksit Leila” (dança de Leila) conquistando os jurados e público. A banda ganhou o primeiro lugar no concurso e assinaram o contrato com uma gravadora de música e, no mesmo ano, o álbum “Mashrou Leila” foi lançado, sendo um sucesso no Líbano.

O Líbano possui uma política e aspectos culturais extremamente rígidos quando se trata de direito de pessoas LGBTQIA+, a banda desafia a esses preceitos desde seu início. O vocalista, Hammed Sinno,  é abertamente assumido gay e, em suas letras, o grupo musical aborda este e outros assuntos que ainda são considerados tabus para a sociedade libanesa.

Em 29 de novembro de 2015, foi lançado o álbum “Ibn El Leil”. Possuindo uma pegada mais pop e cheio de referências a figuras mitológicas, nas faixas a banda não deixou a criticidade de lado. A faixa “Maghawir” narra uma possível versão de um tiroteio em uma boate em Beirute, baseando-se em referências a histórias reais de casos libaneses de dois tiroteios diferentes ocorridos na mesma semana, os quais resultaram na morte de vítimas extremamente jovens, cada uma delas comemorando seu aniversário. Já a faixa “Bint Elkhandaq” conta a história de um amigo que aprendeu “como é difícil ser uma mulher em Beirute, é tão difícil ser marrom no Ocidente.”

Sendo boicotados por demonstrar seu apoio a comunidade LGBTQIA+, a banda sofreu inúmeras repreensões, chegando ao nível de integrantes serem presos em determinados países.

O maior escândalo envolvendo censura da banda ocorreu em 2019 durante o Byblos Festival, no Libano. Poucas semanas antes da apresentação, foram relatadas inúmeras manifestações contra o show. Mashrou Leila foram impedidos de atuar no festival devido a pressões das autoridades religiosas e ativistas de direita que acusaram a banda de blasfémia e de ofender os valores morais da comunidade. Este episódio desencadeou uma série de discussões acerca da censura de artistas no Libano, resultando em várias organizações de direitos humanos expressando sua preocupação acerca do assunto.

Visto a proximidade da banda Mashrou Leila com temas da comunidade LGBTQIA+, é possível relacionar seu histórico com a Teoria Queer das Relações Internacionais. A teoria Queer busca desconstruir conceitos já estabelecidos de Estado, soberania, poder, economia e segurança ao contestar, por instância, a heteronormatividade e as relações conflitivas entre agência pessoal, que consiste na reflexão de cada indivíduo sobre suas ações e estrutura estatal, que corresponde a estrutura de formação de um estado e o funcionamento desta para a manutenção do poder (THIEL, 2017).

Depois de mais de 10 anos juntos, em 2022, a banda anunciou que estava se separando. Mashrou Leila deixa um legado de extrema importância para o cenário musical do oriente médio, lutando constantemente contra a repreensão e os padrões religiosos, a banda deixa sua história marcada na música.

REFERENCIAS:

EGITO prende 7 pessoas por exibir bandeira LGBT durante show. Exame, 25 set. 2017. Disponível em: https://exame.com/mundo/egito-prende-7-pessoas-por-exibir-bandeira-lgbt-durante-show/. Acesso em: 9 abr. 2023.

MASHROU’ Leila is disbanding. Here are 5 songs to listen to. Aljazeera, 13 set. 2022. Disponível em: https://www.aljazeera.com/news/2022/9/13/mashrou-leila-disbanding-songs-to-listen-to. Acesso em: 9 abr. 2023.

THIEL, Markus. Queer Theory. In: MCGLICHEY, S.; WALTERS, R.; SCHEINPFLUG, C. (org.) International Relations Theory. Bristol: E-International Relations Publishing, 2017.