
Stefany Campolungo – 5° semestre de Relações Internacionais da Unama
Cultura popular pode ser entendida como uma adaptação ao meio de onde o ser humano vive, seja por meio da dança, dos filmes, livros, hábitos e muito mais. Seu surgimento vem de múltiplas regiões. Após a queda da URSS, o capitalismo se expandiu pelo mundo e começou a lucrar em cima da cultura de massa, sendo os Estados Unidos o grande responsável por isso. Antes disso, Theodor Adorno e Max Horkheimer (1947) já falavam de uma indústria cultural, ambos autores acreditavam que os meios de comunicação em massa propagavam ideologias através do cinema e rádio, como na época sendo o Nazismo mostrado em filmes e peças. Adorno e Horkheimer (1947) também escrevem que a indústria cultural não é somente culpa do público que a consome, mas do sistema como um todo, tendo o próprio sistema muitas vezes fazendo críticas a si mesmo. Hoje em dia a indústria cultural é chamada de outro nome mais conhecido, Cultura Pop.
Diversos países viraram o símbolo da cultura pop, sendo o mais popular os Estados Unidos. Suas produções cinematográficas e músicas românticas se tornaram um meio da propagação do American Way of Life, que começou durante a crise de 1929 e se estabeleceu durante a Guerra Fria como American Dream para mostrar a diferença do estilo de vida que o mundo capitalista tinha em relação ao mundo socialista. A influência desse discurso perdura até hoje, visto que mesmo após tantos anos, os Estados Unidos ainda é uma referência quando falamos de estilo de vida. Nos dias atuais, temos diversos Estados usando de elementos culturais na política externa, como os K-Dramas e K-Pop na Coreia do Sul, que impulsionam a economia e o turismo. Mas como isso acontece?
Joseph Nye (2004), em seu livro, Soft Power: the means to success in world, difunde dois tipos de poder muito populares nas Relações Internacionais, o Soft Power e o Hard Power, sendo o Hard Power um poder mais duro e o Soft Power um poder mais brando. Segundo Nye, cultura, valores políticos e política externa são as principais formas do poder brando. Os Estados Unidos ainda usa tanto o Soft quanto o Hard Power, mas o primeiro ainda é o mais usado para um controle ideológico maior. O “pop” se consolidou de vez em meados de 1980, com Madonna e Michael Jackson dominando as paradas musicais de todos os lugares no mundo, sua popularidade dominou o modo como as pessoas falavam, se vestiam e como agiam, sendo uma verdadeira febre entre adolescentes e adultos.
O papel cinematográfico no Soft Power é algo ainda de grande importância na formação da opinião pública. A principal fonte usada atualmente, tanto pelos Estados Unidos quanto pela Coreia do Sul, China e Japão é o meio do entretenimento audiovisual. Os filmes estadunidenses são os principais em propagandas patriotas, moldando uma realidade muita das vezes vitimista e etnocentrista.
Um grande exemplo de propagandas patriotas utilizando da cultura pop que podemos citar são os heróis Capitão América, que foi criado exclusivamente para lutar na Alemanha nazista, e Superman, que levava os chamados “valores estadunidenses” para promover a paz no mundo. Ambos personagens se tornaram a principal arma de propaganda dos Estados Unidos em uma época onde os quadrinhos eram a única fonte de entretenimento de crianças e adolescentes, que sonhavam com a paz.
Não somente isso, mas também os ataques terroristas em 2001 desencadearam uma série de doutrinas criadas pelo Presidente George Bush na sua política externa. A mídia da época teve um papel crucial em mostrar que os Estados Unidos lutava contra o “Eixo do Mal”, do qual diziam que era uma grande ameaça à paz mundial. Isso levou Hollywood a produzir filmes voltados para a exaltação do patriotismo e propagandas anti-terroristas. Tais produções ideológicas também fizeram diversas referências indiretas à Guerra ao Terror, sendo o filme Batman – Cavaleiro das Trevas (2008), um exemplo perfeito onde Batman incorpora a medida drástica tomada por Bush com o Patriot Act, uma medida criada pelo Presidente para deter possíveis terroristas usando dados pessoais dos cidadãos estadunidenses.
Tendo tudo isso em vista, é inegável que a cultura pop está presente nas relações internacionais não só no meio econômico, mas seu papel principal é o viés ideológico que ela traz consigo. Através deste, o Estado se consagra com suas política externa, com canais de difusão cada vez maiores e capazes de atingir uma grande massa, que é facilmente manipulável com sentimentos de “ódio, vontade e esperança” (LASWELL, 1948), assim moldando a opinião pública de acordo com o que desejam.
REFERÊNCIAS
CULTURA DE MASSA. Disponível em: <https://www.maxwell.vrac.puc-rio.br/9092/9092_3.PDF>. Acesso em: 31 mar. 2023b.
HOFFMANN. Rafaela. A INDÚSTRIA CULTURAL AMERICANA NA GUERRA AO TERROR: ANÁLISE SOBRE O CINEMA DE HOLLYWOOD. Porto Alegre, 2021.
LASSWELL, H. D. Power and Personality. Penguin Books, 1962.
MORAIS, Marina. NUNES, Lucas. DIFERENÇAS ENTRE O POPULAR E O POP: O CINEMA DE SUPERHERÓIS COMO PARTE INTEGRANTE DE UMA CULTURA SEGMENTADA. Revista Tropos: Comunicação, Sociedade e Cultura. 2021
.COMO Hollywood ajudou a construir a Guerra ao Terror. O Não, 27 jun. 2022. Disponível em: <https://www.onao.com.br/post/como-hollywood-ajudou-a-construir-a-guerra-ao-terror>. Acesso em: 31 mar. 2023
NYE, Joseph. Soft power: The means to success in world politics. Nova Iorque, NY, USA: PublicAffairs, 2005.