
Cristine Oliveira, acadêmica do 3° semestre de Relações Internacionais
Ficha técnica:
Ano: 2020
Diretor: Remi Weekes
Distribuidora: Netflix
Gênero: Terror. Drama. Suspense.
País de origem: Reino Unido
Dirigido por Remi Weekes, o filme “O que ficou para trás”, apresenta a história do casal Rial (Wunmi Mosaky) e Bol (Sope Dirisu), que para fugir da guerra do Sudão do Sul, vão morar em uma casa em Londres, na Inglaterra. A obra faz uso de artifícios do terror, para criar uma atmosfera de inospitalidade, e trazer aos espectadores o desconforto, e o medo, sentidos pelos personagens, nesse novo momento de suas vidas.
A trama começa com o casal, sendo transferido de uma detenção de refugiados, no Reino Unido, para uma residência provisória. Onde, terão que seguir uma série de regras, para a obtenção de um visto permanente, dentre elas, não se mudar da casa durante o período de avaliação. No decorrer do longa-metragem, os personagens são assombrados por entidades presentes na casa, os fazendo lidar diretamente com o que ficou para trás. Atormentados principalmente por um sentimento de culpa, pela morte de Nyagak, filha do casal, que morreu afogada durante a travessia para o Reino Unido.
Por mais que ambos tentem se inserir no cotidiano inglês, o passado não os deixa seguir em frente, assim como os casos de xenofobia e racismo que sofrem. Enquanto isso, as assombrações na casa vão gradualmente piorando, tal como o psicológico do casal, colocando até mesmo suas vidas em risco. Remi Weekes constrói perfeitamente bem, uma narrativa que justifique o permanecimento do casal na residência, diferentemente de outros clichês sobre “casas mal-assombradas”. Em um dos diálogos do filme, Rial questiona “Depois de tudo que passamos, depois de tudo que vimos, o que os homens podem fazer, acha que posso ter medo de fantasmas?”. A importância dessa fala, evidência a intenção do diretor e dos roteiristas, ao trazerem elementos do terror combinado ao drama, com temáticas sociais.
Traçando um paralelo às Relações Internacionais, é possível analisar a produção cinematográfica a partir da Teoria Pós-Colonial, a qual analisa as dinâmicas entre colonizador e colonizado. Sendo assim, pode-se afirmar que a vertente pós-colonial é um conjunto teórico, o qual, analisa as representações do regime imperial em termos sociais, políticos, culturais, psíquicos, intelectuais, as quais, estabelecem as relações entre o colonizador e o colonizado (OLIVEIRA, 2017, p. 169).
Essas relações desiguais refletem na história do Sudão do Sul, país de origem dos personagens principais, que esteve sob o domínio do Egito e da Grã-Bretanha, até 1955. Desde 1956, após sua independência, o país enfrenta instabilidades políticas e econômicas decorrentes da guerra civil, em razão das diferenças étnicas, culturais e religiosas da população. Aníbal Quijano afirma que, “a colonialidade do poder, baseada na imposição da ideia de raça, como instrumento de dominação, foi sempre um fator limitante destes processos de construção do Estado-nação, baseados no modelo eurocêntrico […]” (QUIJANO, 2005, p. 136).
Dessa forma, o filme lançado em 2020, traz reflexões como, diferenças socioeconômicas, colonialidade, imigração, xenofobia e racismo, além de apresentar um terror bem construindo, com fotografia e efeitos sonoros impecáveis. Recomendável para aqueles que procuram um terror social como “Corra!”, de Jordan Peele.
Referências bibliográficas:
CAMPOS, L. M. C. L. . O Atual Conflito no Sudão do Sul. Série Conflitos Internacionais, Marília, p. 1 – 9, 01 abr. 2017.
OLIVEIRA, P. H. S. de. O pós-colonialismo nas relações internacionais: uma proposta para repensar teoria, estrutura e racionalidade no Sistema Internacional. Revista Liberato, v. 18, n. 30, p. 133-258 (2017).
QUIJANO, Aníbal. Colonialidade do poder, eurocentrismo e América Latina, P. 136, 2005.