Cristine Oliveira, acadêmica do 3° semestre de Relações Internacionais  

Ficha técnica:   

Ano: 2021   

Autor (a): Malinda Lo   

Gênero: Ficção histórica    

País de origem: Estados Unidos   

Vencedor do National Book Award em 2021, a Ficção histórica “A noite passada no Telegraph Club” de Malinda Lo, acompanha a história de uma jovem sinoamericana de 17 anos, que vive com sua família no bairro de Chinatown, em São Francisco, nos Estados Unidos. A obra se passa em 1954, e, ao longo da narrativa, Lilian Hu enfrenta os obstáculos de se descobrir lésbica, em um contexto pós Segunda Guerra Mundial.   

De forma sensível e o mais realista possível, considerando a temporalidade da obra, a autora traz aos leitores, o cotidiano de Lily: a típica “filha que não dá trabalho”, que vai bem na escola e é uma amiga leal. No entanto, ao descobrir um livro de romance lésbico, em uma farmácia de seu bairro, ela começa a questionar  tudo o que vive, seria essa a vida que ela escolheu? Por que ao mesmo tempo que Lily se identifica com o livro, ela sente que está fazendo algo de errado?  

Em meio a todos esses questionamentos, a protagonista se aproxima de Kathleen, a única menina, além de Lily, na aula de cálculo da escola. As duas possuem muitos interesses em comum, sendo um desses, a curiosidade e certo fascínio, por um bar, chamado Telegraph Club. Inspirado em bares famosos dos anos 50, conhecidos por serem considerados seguros para o público LGBTQIA+. Ao longo do tempo, as duas se apaixonam, e passam a ir ao bar com mais frequência, por ser o único lugar em que se sentem confortáveis.   

Além de lidar com a descoberta recente sobre sua sexualidade, a protagonista teme a deportação de seu pai, visto que, no cotidiano da época, o chamado “perigo vermelho” era utilizado como pretexto para a deportação em massa de chineses. Sendo assim, Lily tenta ao máximo se proteger de ocasiões que possam agravar a situação da sua família, entretanto, em uma de suas idas, juntamente com Kath, ao Telegraph Club, a polícia invade o local em decorrência de uma “batida policial”. 

Uma atividade comum nos anos 50, utilizada como forma de reprimir e encarcerar a população LGBTQIA+. Consequentemente, Lily tem sua sexualidade exposta, e a partir desse momento, entra em conflito, com sua melhor amiga de infância, com seus pais – os quais a viam de maneira idealizada e com a comunidade de Chinatown, por não ser uma “típica menina chinesa”. Diante disso, “A noite passada no Telegraph Club” é muito mais que uma ficção histórica ou um romance juvenil, é sobre autodescoberta e a coragem de existir, em uma sociedade opressora.     

Paralelamente ao livro, a teoria Queer das Relações Internacionais, busca desconstruir conceitos previamente estabelecidos de Estado, soberania, poder, economia e segurança. Ao contestar, por instância, a heteronormatividade e as relações conflituosas entre agência pessoal e estrutura estatal (THIEL, 2014; THIEL, 2017). Portanto, entende-se como LGBTfobia, um processo histórico de repressão estatal de vivências que divergem do padrão heteronormativo e cisnormativo. Dessa forma, livros como o de Malinda Lo, são de extrema importância para a reafirmação de pessoas queer, no cenário internacional.   

Como demonstra a obra, a xenofobia e o racismo contra pessoas amarelas, estavam atrelados ao crescente anticomunismo, na década de 50. A reestruturação da China, a partir da revolução comunista, foi vista pelo Estados Unidos como uma ameaça a sua hegemonia e a democracia ocidental, fazendo com que o discurso orientalista viesse  à tona. Portanto, percebe-se que “A noite passada no Telegraph Club”, além de ser uma leitura prazerosa pode também ser fonte de reflexões acerca de tópicos como LGBTfobia, racismo e xenofobia.    

Referências bibliográficas:   

KEMI. A origem do Perigo Amarelo: Orientalismo, colonialismo e a hegemonia euroamericana. Disponível em: https://outracoluna.wordpress.com/2017/03/26/ahttps://outracoluna.wordpress.com/2017/03/26/a-origem-do-perigo-amarelo-orientalismo-colonialismo-e-a-hegemonia-euro-americana/origemdoperigoamareloorientalismocolonialismoeahegemoniaeuroamericana/. Acesso em: 26 mar. 2023.  

SAID, Edward W. Orientalismo: o Oriente como invenção do Ocidente. Tradução Rosaura Eichenberg. São Paulo: Companhia das Letras, 2007   

THIEL, Markus. LGBT Politics, Queer Theory, and International Relations. EInternational Relations, 2014. Disponível em: https://www.e 

ir.info/2014/10/31/lgbtpoliticsqueertheoryandinternationalrelations/. Acesso em:  

26 mar. 2023.