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Em países subdesenvolvidos, a falta de uma rede de infraestrutura adequada torna-se um empecilho para a atividade econômica. Considerando isso, países do continente africano têm realizado cada vez mais investimentos voltados para o desenvolvimento de seus respectivos setores ferroviários. Para compreendermos a importância de projetos de construção de ferrovias na África, primeiro é necessário destacar o grande déficit de infraestrutura no continente, assim como os desdobramentos internacionais dos investimentos africanos.
A falta de infraestrutura é um dos principais problemas que afetam o continente africano. No total, estima-se que a condição precária da infraestrutura na África resulte em uma perda de até 40% da produtividade no continente, fazendo da África – “a região com os menores níveis de produtividade do mundo” (MAYAKI, 2014, online).
Neste ponto, é preciso destacar que o estado atual do setor de transportes, marcado por fatores como rodovias, ferrovias e portos em péssimas condições, acabam contribuindo para esse quadro negativo, uma vez que, segundo Ibrahim Mayaki (2014), acarretam em um aumento de 30% a 40% do custo de bens comercializados no continente africano.
Sendo assim, é importante destacar que a realização de projetos de construção, ampliação e modernização de ferrovias para facilitar o escoamento de produtos têm sido uma das principais estratégias para reduzir os custos de transporte no continente. Entretanto, há de se destacar que muitas das ferrovias foram construídas recentemente, portanto, encontram-se “numa fase experimental”, o que significa que o potencial econômico desses projetos ainda não foi alcançado.
Ademais, as ações de países africanos para reverter a situação precária da infraestrutura tem atraído investimentos de diversas partes do mundo, especialmente da China, maior parceira comercial de países do continente africano. A aproximação com a China tem contribuído para a construção de ferrovias, uma vez que, “entre 2000 e 2020, a China ajudou os países africanos a construir mais de 13.000 km de ferrovias” (Xinhua, 2022, online).
Além disso, os investimentos da iniciativa Belt and Road da China mostram-se muito atrativos para os países africanos, “já que a China alinhou a iniciativa com a Agenda 2063, projeto econômico proposto pela União Africana” (IBIDEM, 2022).
Como parte da Agenda 2063, a União Africana planeja construir uma rede de infraestrutura ferroviária. Um dos objetivos é “conectar os 16 países que não possuem costa marítima na África a grandes portos e a países vizinhos” (NEPAD, [s.d]). A medida visa promover a integração regional, o crescimento econômico e incentivar as relações comerciais intra-africanas.
A partir disso, pode-se verificar o interesse dos países estrangeiros em apoiar por meio de sua política externa, definida como a soma das relações e mecanismos conduzidas por um ator independente (nesse caso, o Estado), que influem nas relações internacionais (HILL, 2016, apud LISBOA E POZO, 2021, p. 81), essa questão africana e o próprio desenvolvimento de políticas públicas dos países da África, ambos reverberando na política internacional e na economia.
Além do mais, possibilita-se visar o interesse dos países estrangeiros na região, devido a possibilidade de uma influência sócio-econômica, principalmente ao se atrelar ao boom da nova expansão de mercado realizada pelo “Modelo para fomentar o comércio intra-africano de produtos e serviços agrícolas” da FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Cultura), que é um “plano para expandir o comércio entre os países africanos no âmbito do acordo da Zona de Comércio Livre Continental Africana (ZCLCA)” (FAO, 2021).
Nesse sentido, países como a China, que ao atrelar suas políticas e seu apoio a essa região, se beneficiam dos novos mercados com preços mais competitivos em relação à América do Sul e de acordos políticos, tendo em foco a relação Sul-Sul e a África do Sul, devido ao BRICS.
Outrossim, há a significante progressiva implantação de políticas públicas (atreladas à política externa, se for visto por um panorama de relações inter-estatais no continente africano, em prol da infraestrutura ferroviária), que pode ser definida como “um conjunto de programas e ações do Estado que tem o objetivo de enfrentar desafios de interesse coletivo com o intuito de resolver problemas públicos” (CASTRO e OLIVEIRA, 2014, apud LISBOA E POZO, 2021, p. 82), relacionadas à infraestrutura, que devem ser bem manejadas concomitante às relações exteriores.
Desse modo, pode-se perceber que os investimentos africanos em ferrovias buscam superar um dos principais entraves para o desenvolvimento econômico do continente – o alto custo de transporte provocado pela carência de uma rede de infraestrutura adequada e integrada. Os projetos adotados por países africanos têm atraído investimentos estrangeiros para o continente, especialmente vindos da China, o que têm contribuído para o estreitamento das relações Sino-Africanas e demonstrar as relações de interesse no Sistema Internacional. Além disso, medidas como a construção de uma rede ferroviária da União Africana estão em consonância com uma das principais exigências para estabelecer uma rede de infraestrutura adequada no continente, uma vez que trata-se de um projeto coordenado entre países africanos visando a integração regional.
REFERÊNCIAS
DW. África sobre trilhos, mercado do futuro. DW, 6 jul 2015. Disponível em: https://www.dw.com/pt-002/%C3%A1frica-sobre-trilhos-mercado-do-futuro/a-18565127. Acesso em: 25 mar 2023.
FAO e CUA. Modelo para fomentar o comércio intra-Africano de produtos e serviços agrícolas. Adis Abeba, 2021.
LISBOA, Marcelino T. ; POZO, KAREN JOHANNA BOMBÓN . Política Externa, Relações Internacionais e Políticas Públicas: uma discussão conceitual. REVISTA BRASILEIRA DE POLÍTICAS PÚBLICAS E INTERNACIONAIS , v. 6, p. 75-101, 2021.
MAYAKI, Ibrahim. Why infrastructure development in Africa matters. Africa Renewal, 2014. Disponível em: https://www.un.org/africarenewal/web-features/why-infrastructure-development-africa-matters. Acesso em: 25 mar 2023.
NEPAD. Update on the African Integrated High-Speed Railway Network by AUDA-NEPAD. NEPAD, [s.d]. Disponível: https://www.nepad.org/overview/update-african-integrated-high-speed-railway-network-auda-nepad. Acesso em: 25 mar 2023.
XINHUA. Cooperação com a China traz melhor infraestrutura, mais empregos e desenvolvimento sustentável para a África. XINHUA, 15 dez 2022. Disponível em: http://portuguese.xinhuanet.com/20221215/c5c5b1a63cc14b378c5f43d6182f4851/c.html. Acesso em: 25 mar 2023.