Ana Carolina Gomes- acadêmica do 5° Semestre de Relações Internacionais

A teoria cepalina retrata a forma desigual na qual as relações econômicas entre os centros e periferias foram desenvolvidas. As trocas comerciais no início da industrialização eram baseadas na Divisão Internacional do Trabalho (DIT), ou seja, na separação entre países exportadores de commodities e exportadores de produtos manufaturados, os quais possuíam valor muito maior agregado, fazendo com que os países industrializados se desenvolvessem plenamente às custas dos subdesenvolvidos. (DOS SANTOS;DE OLIVEIRA, 2008)

Dessa forma, segundo a CEPAL, para superar as desigualdades geradas na industrialização tardia dos Latino Americanos, mecanismos de integração são essenciais para promover o chamado “regionalismo aberto”  que “vê o mercado comum latino-americano como meio de superar o modelo de industrialização através da substituição de importações, de diversificar a estrutura produtiva e de diminuir a vulnerabilidade externa.” (CORAZZA,2006)

Nesse contexto, com objetivo principal de fortalecer a integração regional entre os países membros, foi criado o Mercado Comum do Sul (Mercosul), em 26 de março de 1991, através do Tratado Internacional de Assunção. O bloco atualmente constitui uma União Aduaneira que prevê zonas de livre comércio e a adoção de uma Tarifa Externa Comum (TEC). São membros do Mercosul: Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai; Equador, Peru, Colômbia, Bolívia e Chile como países associados; e os Estados observadores México e Nova Zelândia. (LOPES;FARIA;GONÇALVES,2023) 

Dentre as principais críticas ao bloco está a falta de maiores esforços para a promoção de uma maior integração política. Fato que ocorre devido às múltiplas desigualdades econômicas, sociais e políticas entre os Estados-membros. 

Em 2019, principalmente após a eleição de um presidente de direita no Brasil, um empecilho nas negociações do Mercosul era a maior polarização política no bloco, com destaque nas desavenças de posicionamento entre o Estado Brasileiro e o Argentino. (KOVAL;ANDRIANOVA, 2022) Entretanto, em 2022 , houve a ascensão de mais governantes de esquerda na América Latina, a chamada nova “onda rosa”, o que é um indicador positivo, pois o alinhamento ideológico entre os membros significa um ambiente propício para maior desenvolvimento do Mercosul, o qual é essencial para a recuperação das economias latinas após a crise do COVID-19. ( SIMÕES;GARCIA, 2022 )

Ademais, as negociações do acordo com a União Europeia representam um novo capítulo na história do Mercosul, caso efetivado, será criada a maior zona de livre comércio do mundo . As negociações ainda não foram concluidas devido aos empasses no setores ambientais, agrícolas e industriais.( CORRÊA,2023)

Apesar das diversas críticas, o Mercosul mesmo após seus 32 anos de criação ainda é importantíssimo para o desenvolvimento da América Latina, ele representa uma das maiores iniciativas para promoção da integração para o fortalecimento das economias regionais e diminuição da dependência externa antes criada pela DIT.

REFERÊNCIAS

AOS 30 anos, Mercosul tem no pós-pandemia seu maior desafio. CNN Brasil, 26 mar de 2021. Disponível em :<cnnbrasil.com.br/politica/aos-30-anos-mercosul-tem-no-pos-pandemia-seu-maior-desafio/>

CORAZZA, Gentil. O” regionalismo aberto” da CEPAL e a inserção da América Latina na globalização. Ensaios FEE, v. 27, n. 1, 2006.

CORRÊA, Fábio. O que falta para concluir o acordo UE-Mercosul. DW, 01 jan de 2023. Disponível em <https://www.dw.com/pt-br/o-que-falta-para-concluir-o-acordo-ue-mercosul/a-64575902>&nbsp;

DOS SANTOS, Ulisses Pereira; DE OLIVEIRA, Francisco Horácio Pereira. Três fases da Teoria Cepalina: uma análise de suas principais contribuições ao pensamento econômico latino-americano. Análise–Revista de Administração da PUCRS, v. 19, n. 2, 2008.

KOVAL, ALEXANDRA GENNADYEVNA; ANDRIANOVA, EKATERINA KONSTANTINOVNA. MERCOSUL em clusters de política comercial: desafios e perspectivas. Brazilian Journal of Political Economy, v. 42, p. 718-737, 2022.

LOPES, Irving Rocha Monteiro; DE CASTRO FARIA, Luíza Cristina; GONÇALVES, Jonas Rodrigo. Mercosul: problemas estruturais e o dilema da classificação frente aos modelos de bloco econômico. Revista JRG de Estudos Acadêmicos, v. 6, n. 12, p. 199-215, 2023.

SIMÕES, Tales Henrique Nascimento; GARCIA, Tatiana de Souza Leite. MERCOSUL AOS TRINTA ANOS: GEOPOLÍTICA, AVANÇOS, IMPASSES E DESAFIOS. Universidade de São Paulo- USP p. 95.