Pedro Henrique de Aviz – acadêmico do 5° semestre de Relações Internacionais da Unama

A escravidão e o comércio transatlântico de escravos fizeram milhões de vítimas ao decorrer dos 4 séculos de duração desse período, aonde por meio das práticas realizadas na escravidão, homens, mulheres e crianças eram obrigadas a deixarem seus lares para serem levadas em embarcações em terríveis condições de vida, o que resultava na morte de milhares de pessoas durante a viagem e aqueles que sobreviviam eram obrigados a  trabalharem incansavelmente até o fim de suas vidas, tudo isso de forma brutal e violenta, marcando uma era sombria e catastrófica na história da humanidade. (BERKOWITZ, 2019)

Desse modo, como uma forma de honrar as vítimas desse período a Organização das Nações Unidas (ONU) criou o dia internacional em memória das vítimas da escravidão e do comércio transatlântico de escravos. A data convencionada para celebração é o dia 25 de março e, desde então a data se mostra como um símbolo de resistência à discriminação racial que ainda persiste e um alerta para que a atrocidade do passado não volte a acontecer.

No ponto de vista das Teorias Pós-Coloniais das Relações Internacionais, a autora Gayatri Spivak em sua obra “Can the subaltern speak?” comenta sobre o termo “subalternizado” – que é visto como uma classe da sociedade marginalizada que não possui voz, representatividade ou espaço político e são excluídos do mercado e suas dinâmicas. (GAGLIANONE, 2018)

Análogo ao pensamento da autora, as várias discriminações sofridas pelos africanos advindas da época da escravidão e do comércio de escravos ocasiona até hoje uma grande desigualdade social, econômica, política e cultural no sistema internacional, o que afeta diretamente a visibilidade e a representatividades dessas pessoas.

Essa exclusão contraria diretamente o pensador Jürgen Habermas, teórico crítico da Escola de Frankfurt, que em sua teoria aborda a ação comunicativa que preza por uma democracia deliberativa em que todos tenham liberdade de fala, de expressão e que possam participar de alguma forma. (WIGGERSHAUS, 2002)

Ademais, é importante comentar sobre a ascenção das novas formas de escravidão que assolam o mundo inteiro, em especial o continente africano, e que de acordo com a Organização Internacional do Trabalho (OIT) mais de 40 milhões de pessoas são vítimas desse sistema. (SCHWIKOWSKI, 2021)

Assim, como uma forma de combater o sistema escravista que ainda persiste, as constantes discriminações raciais e a exclusão do continente africano em diversos setores a ONU promove diversas medidas com o intuito de conscientizar toda a população mundial. Em 2015, a organização inaugurou um memorial permanente nomeado de “A Arca do Retorno” em homenagem às vítimas da escravidão e uma lembrança heroica dos escravos e abolicionistas que lutaram pelo fim desse período.

Outrossim, a ONU também traz como medidas a produção de filmes e séries africanas como: “Além da longa sombra” que além de promover um debate mais profundo e dinâmico sobre o tempo da escravidão também fortalece a indústria cinematográfica africana ganhando mais espaço e visibilidade. A Organização também está promovendo no ano de 2023 um programa de memória com o tema: “Combater o legado de racismo da escravidão por meio da educação transformadora” que impulsiona a expansão do conhecimento acerca desse tema que nunca deve ser esquecido.

Por fim, fica claro que o dia internacional em memória das vítimas da escravidão e do comércio transatlântico de escravos não é apenas uma data para lembrar das vítimas desse período, mas sim garantir que novas vítimas não sejam feitas por sistemas futuros e para ser um símbolo de resistência contra o racismo, a discriminação e a exclusão social que ainda persistem na sociedade, lutando por um mundo mais justo e equitativo em que ninguém seja visto como subalterno ou excluido da sociedade civil global.

Referências:

BERKOWITZ, Devra. ONU marca Dia Internacional em Memória das Vítimas da Escravidão.ONU. Disponível em: <https://news.un.org/pt/story/2019/03/1665641>. Acesso em: 19/03/2023.

GAGLIANONE, Isabela. Pode o subalterno falar?. O Benedito. Disponível em: <https://obenedito.com.br/pode-oa-subalternoa-falar/>. Acesso em: 19/03/2023

LETRA, Leda. ONU inaugura memorial em homenagem às vítimas do tráfico de escravos. EBC. Disponível em: <https://memoria.ebc.com.br/cultura/2015/03/onu-inaugura-memorial-em-homenagem-vitimas-do-trafico-de-escravos> Acesso em: 19/03/2023

SCHWIKOWSKI, Martina. Na África, escravidão está longe de ser abolida. DW. 2021 WIGGERSHAUS. Rolf. A escola de Frankfurt. DFL. Rio de Janeiro, 2002.