
Railson Silva (acadêmico do 5º semestre de RI da UNAMA)
No cerne de teorias que envolvem o âmbito de estudo das RI (relações internacionais), a teoria realista foi por muito tempo uma ferramenta de análise predominante nas relações internacionais, muito porque envolvia problemáticas pertinentes aos estados que estavam relacionados principalmente a questão de defesa e segurança, e consideravam como algo prioritário (high politics).
Em primeira instância, Hans Morgenthau é um importante pensador que consolida a visão realista no campo de estudo das RI, ele propõe analisar as relações entre as nações e as forças que envolvem esse relacionamento e “toma como ponto de partida a busca do poder dos Estados, a centralidade da força militar dentro deste poder e a inevitabilidade duradoura do conflito em um mundo de múltipla soberania” (HALLIDAY, 1999, p. 24).
Suas abordagens consideram aspectos relacionados a moralidade internacional e aspirações ideológicas. Assim sendo, Morgenthau considera interessante que se note que conjuntamente ao poder nacional de um Estado existem limitações morais e de caráter jurídico, de forma que ambos os elementos convivem de maneira a se limitarem reciprocamente. “Morgenthau critica a chamada visão idealista de Relações Internacionais. Para ele, a paz mundial somente seria possível por meio de mecanismos ‘negativos’, ou seja, por um mecanismo de equilíbrio de poder “(SARFATI, 2005).
A obra “Politics among nations” (Política entre as nações), a mais conhecida contribuição do autor para o campo teórico das RI, apresenta seis princípios do realismo político proposto pelo pensador, que se trata de princípios racionais em respeito a avaliação da natureza humana. Desse modo, a sua teoria trata-se de apenas uma das dimensões da natureza humana, deixando de lado a questão biológica e espiritual.
Assim sendo, dentre os seis princípios estão: a presença de leis objetivas sobre as quais se baseiam a política e a sociedade, sendo fruto da natureza humana; os interesses dos estados se definem em termos de poder; a suposição realista de interesse definido como poder que o autor considera uma constante na história; o quarto princípio fala que “na esfera pública, os atores são julgados e avaliados pelas consequências políticas de suas ações, enquanto estadistas, e não pelo conteúdo moral de suas ações, aplicáveis à esfera do comportamento privado”, (BITTENCOURT, 2017 apud LIMA, 2011, p. 59) logo os princípios morais universais não podem ser aplicados aos atos dos Estados.
Ademais, o quinto princípio fala que as aspirações morais de uma nação em particular não podem ser identificadas com os preceitos morais que governam o universo. Segundo Morgenthau:
“assim como sabe distinguir entre a verdade e a opinião, é capaz também de separar a verdade da idolatria. Todas as nações são tentadas a vestir suas próprias aspirações e ações particulares com a roupagem dos fins morais do universo” (MORGENTHAU, 2006, p. 21)
Por fim, o sexto princípio reitera-se a autonomia da esfera política, já que “uma vez que admite a existência dessas distintas facetas da natureza, o realismo político também reconhece que, para compreender qualquer uma delas, é necessário tratar de cada uma em seus próprios termos” (MORGENTHAU, 2006, p. 27).
Sob essa perspectiva, segundo o autor, a aspiração pelo poder é a essência da política, desse modo a política internacional sempre implicará a luta pelo poder e apesar do interesse nacional ser definido por tais termos, existem limitações para o poder nacional, visto que, tais questões envolvem balança de poder, do direito internacional, e da opinião pública e moralidades internacionais.
Em suma, as ideias abordadas por Morgenthau são imprescindíveis para entender, por uma ótica realista, o balanço de poder da ocorre na arena internacional, e como ela representa uma maneira de manutenção da liberdade das potências. Dessa forma, o pensador traz uma importante contribuição para o campo das RI ao trazer uma nova cosmovisão, na qual por meio da compreensão da esfera política como autônoma e dos fenômenos políticos internacionais, que são extensão dos domésticos, percebe-se que apenas são políticos porque os interesses com que eles lidam são tomados em termos de poder.
Referências
BITTENCOURT, Paulo V. Z. Política internacional, do pensamento realista à teoria neorrealista: O pensamento teórico de Hans Morgenthau e Kenneth Waltz em perspectiva comparada. Revista Intratextos, 2017. Disponível em: < https://doi.org/10.12957/intratextos.2017.29707>.
HALLIDAY, F. Repensando as relações internacionais. Porto Alegre: Editora UFGRS, 1999.
MORGENTHAU, H. J. Politics among nations: the struggle for power and peace. Boston: McGraw-Hill Higher Education, 2006.
SARFATI, Gilberto. Teoria das relações internacionais. São Paulo: Saraiva, 2005.