
Brenna da Silva Dias
acadêmica do 5º semestre de Relações Internacionais da UNAMA
Cofundador de uma das marcas mais importantes na atualidade e que foi responsável por criações que mudaram a história da moda feminina, Pierre Bergé é uma das cabeças por trás da criação da marca Yves Saint Laurent. Além disso, Pierre também foi defensor ferrenho dos direitos de minorias na década de 80, principalmente dos direitos LGBTQIA+ e grande contribuidor das artes.
Filho de anarquistas, Pierre Vital Georges Bergé nasceu em 14 de novembro de 1930 em Saint-Pierre-d’Óléron, França e estudou no Lycée Eugène Fromentin em La Rochelle, e anos depois se mudou para França com o sonho de se tornar jornalista.
Em 1958, Pierre conheceu Yves Saint Laurent (1936-2008), seu marido a qual passaram cerca de 2 décadas juntos, e sócio. Em 1961 fundaram a casa de alta costura Yves Saint Laurent. Como apontado por Bergé, “Chanel libertou as mulheres e Saint Laurent lhes deu o poder”, isso se deu pelas peças transgressoras apresentadas, como por exemplo o smoking feminino e a jaqueta safari, sendo ambas utilizadas apenas por, até então, homens.
Ainda na moda, em 1974 ele foi eleito presidente da câmara de Couturiers e, em 1986, fundou o Instituto francês de moda e a Chambre Syndicale de la Couture, a qual organizou a moda francesa como indústria internacional.
Muito apreciador da arte, o empresário comprou o teatro L’Athénée Louis-Jouvet, onde produziu peças memoráveis; foi diretor da Ópera de Paris e nas artes plásticas foi responsável, entre outras benfeitorias, pela compra de novas obras para o Louvre. As ações lhe renderam o título de Grande Mecenas das Artes e da Cultura em 2001.
Bergé colocava sua fortuna à disposição de políticos de esquerda e das causas das minorias oprimidas, como os imigrantes e os judeus que sofriam ataques xenofóbicos e antissemitas, gays e as vítimas do HIV, cuja qual ele procurou a cura através da associação Arcat-Sida, e então co-fundadora da Sidaction, a qual Pierre presidiu em 1994.
A defesa dos direitos LGBT era uma das principais bandeiras, e seguindo o seu sonho de jornalista, na década de 80 fundou a revista Têtu, que virou bíblia da comunidade, misturando editoriais com belos rapazes desnudos a artigos de altíssimo nível em prol dos direitos LGBT. Em 2017 financiou o documentário 120 Batimentos por Minuto, sobre a história da epidemia de Aids, que levou o Grande Prêmio do Júri no Festival de Cannes do mesmo ano.
Suas ações lhe rendeu em 1992 o título de Embaixador da Boa Vontade da UNESCO por suas ações de Campanha contra o HIV/AIDS, direitos humanos e patrimônio mundial.
Dessa forma, é possível associar o empresário Pierre Bergé à teoria Queer das Relações Internacionais. A teoria Queer busca desconstruir conceitos já estabelecidos de Estado, soberania, poder, economia e segurança ao contestar, por instância, a heteronormatividade e as relações conflitivas entre agência pessoal (que consiste na reflexão de cada indivíduo sobre suas ações) e estrutura estatal (que corresponde a estrutura de formação de um estado e o funcionamento desta para a manutenção do poder)(THIEL, 2017).
Pierre também foi responsável por fundar as publicações Courrier international e Globe. Ele resgatou o jornal Le Monde, quando este passou por uma grave crise financeira, e desde 2010 era acionista majoritário.
Pierre Bergé faleceu vítima de câncer no cérebro em 8 de setembro de 2017, um mês antes de inaugurar seus tão sonhados projetos, os dois museus Yves Saint Laurent que abriram as portas em Paris e Marrakech. Após sua morte, o então presidente da França Emmanuel Macron declarou: “É parte da nossa memória literária e artística que desaparece com Pierre Bergé. Ele foi para muitos de nós um passageiro inigualável”. Pierre deixa um legado excepcional tanto para moda quanto para outros setores artísticos, e também na representatividade da comunidade LGBT.
REFERÊNCIAS
PIERRE Bergé morre aos 86 anos. Globo, 8 set. 2017. Disponível em: https://vogue.globo.com/moda/moda-news/noticia/2017/09/pierre-berge-morre-aos-86-anos.html. Acesso em: 11 mar. 2023.
MAESTRO da moda: relembre a trajetória de Pierre Bergé. Globo, 14 nov. 2017. Disponível em: https://vogue.globo.com/lifestyle/noticia/2017/11/maestro-da-moda-relembre-trajetoria-de-pierre-berge.html. Acesso em: 11 mar. 2023.
THIEL, Markus. Queer Theory. In: MCGLICHEY, S.; WALTERS, R.; SCHEINPFLUG, C. (org.) International Relations Theory. Bristol: E-International Relations Publishing, 2017.
PIERRE Bergé, mecenas e companheiro de Yves Saint Laurent, morre aos 86 anos. Estado de Minas, 8 set. 2017. Disponível em: https://www.em.com.br/app/noticia/internacional/2017/09/08/interna_internacional,898929/pierre-berge-mecenas-e-companheiro-de-yves-saint-laurent-morre-aos-8.shtml. Acesso em: 11 mar. 2023.