Stefany Campolungo- Acadêmica do 5º semestre de Relações Internacionais da UNAMA.

Historicamente, as mulheres começaram a ter um destaque maior no Brasil durante a ditadura militar, na década de 1960, onde protestavam contra o governo e organizavam partidos políticos de oposição. Com a redemocratização e a constituição de 1988, as mulheres conquistaram diversos direitos que antes não tinham, como instituições em esferas governamentais que discutiam sobre as demandas femininas. Diversas Políticas públicas foram implementadas com os Conselhos Estaduais da Condição Feminina e com o Conselho Nacional dos Direitos da Mulher.

Eventualmente, a força feminina trouxe consigo debates que foram vistos na Conferência de Direitos Humanos, em Viena (1993) e na Conferência sobre População e Desenvolvimento, no Cairo (1994); tais atos formaram a IV Conferência Mundial da Mulher, em Pequim (1995). A partir de então, nota-se ao longo dos anos, que as mulheres estão tendo cada vez mais destaque na sociedade, seja no trabalho ou na política.

Entretanto, a diplomacia brasileira sofre até hoje com a falta de mulheres em uma posição de poder. Maria José de Castro Rebello Mendes foi a primeira diplomata feminina na história do Brasil, contudo sua admissão ao cargo não foi fácil; Maria precisou de um parecer do juiz Ruy Barbosa para se inscrever no concurso, do qual ficou em primeiro lugar. Foi somente em 1956, que Odette de Carvalho e Souza, tomou uma posição de destaque, se tornando a primeira Embaixadora de carreira do mundo.

Ainda assim, o exercício das mulheres diplomatas foram se tornando cada vez mais difíceis, com burocracias que prejudicavam mais as mulheres do que os homens. Dados feitos pelo Itamaraty, em 2022, apontam que mesmo hoje em dia, elas ainda são minorias em casos de liderança. Das 131 missões e escritórios no exterior, somente 16 (12,2%) são coordenados por mulheres; dos 53 postos de maior prestígio no exterior, só 6 (11,3%) são comandados por mulheres. Curiosamente, 24,1% das mulheres chefiam consulados, que são cargos considerados de menor importância em relação à embaixadas e organismos multilaterais.

Não obstante, o movimento feminista cresce à cada dia, com mulheres e aliados lutando por uma sociedade sem opressão, violência e elitismo. Para Flávia Biroli (2017), o objeto da teoria feminista são as instituições, estruturas e o sistema como um todo, mostrando como as relações de poder frequentes afetam mais as mulheres do que os homens.

As reflexões de gênero são ainda menos fortes na teoria política e na Ciência Política devido a percepção ortodoxa da política, que não vê a opressão feminina como algo que deva ser analisado e debatido (Carole Pateman, 1989). A teoria feminista nas RI está cada vez mais evidente em abordagens pós-positivistas. A relação entre poder, gênero e sexualidade se torna um tema de discussão central, sendo as feministas pós-modernas as principais em questionar a ligação entre o gênero e os fenômenos internacionais, afirmando que existe uma delimitação de experiências pelo gênero, assim alimentando uma sociedade organizada hierarquicamente. (Izadora do Monte, 2013).

 Como Bell Hooks (1984) diz em seu livro,

“Reformas podem ser um momento vital da marcha em direção à revolução, mas o importante é saber que tipo de reforma iniciar. O foco feminista em reformas destinadas a melhorar o status social da mulher dentro da estrutura social existente fez apenas com que mulheres e homens perdessem de vista a necessidade de uma transformação global da sociedade.”

(Teoria Feminista – Da Margem ao Centro, p. 230)

Nesse sentido, o poder feminino na diplomacia é algo que ainda não está sendo visto em seu total. Ingressar no Itamaraty é difícil, principalmente para a força feminina, visto que a falta de apoio na entrada na carreira diplomática é extremamente baixa, o que faz seu desenvolvimento ser tardio. Muitas vezes sendo apenas colocadas como um objeto de representatividade, mulheres sofrem constantemente com a falta de oportunidades em cargos altos, tendo seus conhecimentos e estudos menosprezados pelo sistema patriarcal.

Nesse contexto, as mulheres no Senado e também o Grupo de Mulheres Diplomatas vêm dando cada vez mais destaque em questões femininas na diplomacia brasileira, com destaque aos estudos de pautas de gênero no Itamaraty. Todavia, ainda são poucos os reconhecimentos para o tema ter destaque na esfera doméstica e global, tendo muita das vezes ficado na sombra de debates politizados. O reconhecimento tardio deste problema pode ser um agravador ainda maior, já que não há transformações feitas para melhorar e assegurar o emprego de jovens diplomatas no Itamaraty, assim, o status quo permanece, limitando a atuação do grande poder feminino no Brasil.

Referências Bibliográficas:

BIROLI, F. TEORIAS FEMINISTAS DA POLÍTICA, EMPIRIA E NORMATIVIDADE. Lua Nova: Revista de Cultura e Política, n. 102, p. 173–210, dez. 2017. Disponível em: <https://www.scielo.br/j/ln/a/wvsJmJ4pBNK3HJ3PJcX39mf/?lang=pt&format=pdf>. Acesso em: 02 mar. 2023

‌CARLA, A. et al. AS TRAJETÓRIAS E LUTAS DO MOVIMENTO FEMINISTA NO BRASIL E O PROTAGONISMO SOCIAL DAS MULHERES. [s.l: s.n.]. Disponível em: <https://www.uece.br/eventos/seminariocetros/anais/trabalhos_completos/69-17225-08072013-161937.pdf&gt;. Acesso em: 2 mar. 2023.

‌FALEIRO, V. DOLCE, F. Mulheres na diplomacia brasileira. Disponível em: <https://republica.org/emnotas/conteudo/mulheres-na-diplomacia-brasileira/>. Acesso em: 2 mar. 2023

HOOKS, B. TEORIA FEMINISTA. [s.l: s.n.].

MAIA, D. Mulheres diplomatas: a inserção das mulheres no Itamaraty | Politize! Disponível em: <https://www.politize.com.br/itamaraty/&gt;. Acesso em: 4 mar. 2023.

MONTE, I. X. DO. O debate e os debates: abordagens feministas para as relações internacionais. Revista Estudos Feministas, v. 21, n. 1, p. 59–80, abr. 2013.