
Luiz Sampaio – internacionalista formado pela Unama
A última cúpula da CELAC (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos) foi marcada pela volta do Brasil a organização, após 2 anos ausentes devido as escolhas do ultimo presidente. Outro destaque relevante foi a candidatura do Brasil para sediar a 30ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP-30), em 2025, na cidade de Belém.
A participação e o retorno do Brasil à CELAC e o engajamento do país nas discussões de relevância mundial, marcam uma nova rota da politica externa brasileira, muito distinta daquela praticada no governo anterior. A partir disso, os novos rumos do Brasil dentro do contexto latino-americano passam também por mudanças, buscando agora retomar o protagonismo que possuía anteriormente e focando em fortalecer o nosso próprio país e a região da América Latina.
A teoria da dependência surge para explicar a diferença entre países desenvolvidos e países em desenvolvimento, analisando a dinâmica entre eles e suas particularidades. As estruturas das relações econômicas entre centro e periferia para Prebisch (1962) mostram a tendência de reprodução de condições de subdesenvolvimento, aumentando a assimetria entre desenvolvidos e periféricos. Com base nisso, pode-se pensar em um ciclo que se perpetua na medida em que essas relações centro-periferia permanecem sendo relações de dominância. Nesse contexto, esses teóricos afirmam que as relações internacionais são caracterizadas pela exploração da periferia pelos países do centro via estruturas de dominação.
Explicando as dinâmicas do desenvolvimento desigual, Prebisch (1962) considera que o desenvolvimento desigual está pautado na deterioração dos termos de troca, isto é, a mudança dos preços relativos dos produtos manufaturados e dos produtos primários tende a privilegiar os primeiros, prejudicando as relações comerciais de países latino americanos que importavam bens industrializados e exportavam produtos agrícolas e minerais.
A posição do Brasil como potência regional na América Latina é importante por duas razões principais do ponto de vista da teoria da dependência: Em primeiro lugar, as políticas e práticas econômicas do Brasil têm um impacto significativo no restante da região, como a maior economia da América Latina, as políticas comerciais, as decisões de investimento e as práticas financeiras do Brasil podem ter um efeito cascata em toda a região. A teoria da dependência sugere que os países em desenvolvimento como os da América Latina estão frequentemente à mercê dos países desenvolvidos, que podem usar seu poder econômico para extrair recursos e riqueza desses países. No entanto, o poderio econômico do Brasil na região pode atuar como contrapeso à influência dos países desenvolvidos, ajudando a promover uma relação econômica mais equilibrada e equitativa entre os países da região.
Em segundo lugar, a influência política e diplomática do Brasil na América Latina também pode desempenhar um papel na promoção da autonomia e independência regional. A teoria da dependência sugere que os países em desenvolvimento são frequentemente subordinados política e socialmente aos países desenvolvidos, que podem usar seu poder para moldar as estruturas políticas e sociais desses países. No entanto, o poder regional do Brasil pode ajudar a promover um ambiente político mais independente e autônomo na América Latina, onde os países podem tomar decisões com base em seus próprios interesses e não nos interesses de nações mais poderosas.
Concluindo, o papel do Brasil como potência regional na América Latina é significativo do ponto de vista da teoria da dependência. Como uma grande força econômica e política na região, o Brasil tem potencial para promover uma relação mais equilibrada e equitativa entre os países da América Latina e para ajudar a promover maior autonomia e independência regional. Ao assumir um papel ativo na promoção da cooperação e integração regional, o Brasil pode ajudar a mitigar os efeitos negativos da dependência e promover uma relação mais equitativa e justa entre os países desenvolvidos e em desenvolvimento da região.
REFERÊNCIAS
CARDOSO, Fernando Henrique; FALETTO, Enzo. Dependência e desenvolvimento na América Latina: ensaio de interpretação sociológica. [S.l: s.n.], 1973.
PREBISCH, Raul. Boletin economico de America Latina, vol. VII, n1, Santiago do Chile,1962.
https://www.gov.br/mre/pt-br/canais_atendimento/imprensa/notas-a-imprensa/VII-Cupula-da-Comunidade-dos-Estados-Latino-Americanos-e-Caribenhos%20-CELAC https://www.gov.br/mre/pt-br/canais_atendimento/imprensa/notas-a-imprensa/candidatura-brasileira-para-sediar-a-cop-30