
Gustavo Tadajewski – acadêmico do 3° semestre de Relações Internacionais da Unama
Um dos grandes dilemas do governo chinês se dá pelo fato da China ser o maior exportador de semicondutores em escala global, mas ao mesmo tempo, menos de 7% da produção de semicondutores serem oriundas de empresas chinesas, enquanto que mais de 90% dos chips produzidos na China são fabricados por firmas estrangeiras, revelando a fragilidade e dependência do governo para este produto que tem sido cada vez mais essencial para a produção industrial de vários setores da economia, desde a indústria automobilística a variados dispositivos eletrônicos como smartfones, televisores, computadores e vídeo games. (The Daily Signal, 2022)
Com este fato, o governo chinês tem investido maciçamente, nos últimos anos, nesta indústria, para obter uma maior autonomia neste setor e fazer frente à hegemonia estadunidense que, até o momento, possui um dos maiores polos de produção de microchips e mantém como aliada a empresa que domina metade do mercado global de semicondutores, a Taiwan Semiconductor Manufacturing Company (TSMC). (CNBC, 2022)
A tensão entre EUA e China se agrava a partir do momento que o governo americano impõe sanções, proibindo que todas suas empresas, e de seus aliados, vendessem não só semicondutores na China, mas também os materiais para construção, e que engenheiros com passaporte norte-americano trabalhem em empresas chinesas que desenvolvam o produto. Isso, em conjunto com medidas protecionistas nos EUA, reforçam a teoria de que a orientação expansionista dos Estados, aliado à busca por poder, seriam os principais responsáveis pelas rivalidades constantes dentro do ambiente internacional na ideia defendida pelo neorrealista Kenneth Waltz. (1959)
Na obra do neorrealista Kenneth Waltz, O homem, o Estado e a Guerra, o estudioso de Relações Internacionais relata que para o surgimento de uma nova hegemonia, a guerra é inevitável devido a ambição natural de poder e expansão dos Estados, aliado ao ambiente anárquico do sistema internacional “a ausência de uma autoridade acima dos Estados para prevenir e conciliar os conflitos que surgem necessariamente de vontades particulares significa que a guerra é
Inevitável” (WALTZ, 2004, P. 235).
Além disso, a questão de Taiwan intensifica o atrito de China e EUA, uma vez que, a TSMC, maior empresa de mercado global de semicondutores evoluiu na produção de microchips, dominando a construção de chips de 5 nanômetros (os de maior qualidade atualmente) mais rápido que empresas chinesas se desenvolvem, reacendendo o debate de que a ilha de Taiwan pertence a República popular da China, levando a uma crescente preocupação em de que maneira essas tensões podem escalonar a ponto de serem capazes de impactar na cadeia produtiva. (InfoMoney, 2022)
A importância dos semicondutores na indústria global se tornou evidente durante a pandemia de covid-19 em 2020, quando houve interrupção na produção de chips devido aos protocolos sanitários, aliado ao período de quarentena nos países que forçou a população a ficar em casa, resultando em redução na demanda por automóveis, o que forçou os fabricantes de chips a buscarem outros mercados como equipamentos de informática e comunicação que tiveram aumento na demanda a medida que mais pessoas passaram a trabalhar em casa.(Power & Beyond, 2021)
Entretanto, já no início de 2021, a indústria automobilística se recuperou rapidamente em termos de venda, como consequência o fornecimento de semicondutores não foi capaz de aumentar com rapidez suficiente, resultando em escassez de chips para a produção de mais automóveis, o que levou grandes montadoras como Honda, Nissan e Toyota a venderem até 250 mil carros a menos em 2021 (REUTERS, 2021).
Portanto, observa-se necessário as potências econômicas, EUA e China, obterem a autossuficiência na produção de semicondutores para reafirmar sua influência, soberania e poder no cenário do sistema internacional, uma vez que, quem controla o mercado de semicondutores hodiernamente, inevitavelmente tem poder em toda a cadeia produtiva de carros, celulares, computadores, equipamentos militares e outros eletrônicos.
Referencias
Bertonili, Rafaella. A guerra dos semicondutores: as razões da disputa entre EUA e China (e as oportunidades no radar), InfoMoney, 26/10/2022. Disponível em: <https://www.infomoney.com.br/stock-pickers/a-guerra-dos-semicondutores-as-razoes-da-disputa-entre-eua-e-china-e-as-oportunidades-no-radar/> Acesso em: 14/02/2023.
China readying $143 billion package for its chip firms in face of U.S. curbs, sources say. CNBC, REUTERS, 13/12/2022. Disponível em: <https://www.cnbc.com/2022/12/14/china-readying-143-billion-package-for-its-chip-firms-reuters.html#:~:text=Group%20%7C%20Getty%20Images-,China%20is%20working%20on%20a%20more%20than%201%20trillion%20yuan,at%20slowing%20its%20technological%20advances.> Acesso em: 15/02/2023.
Chiang, Min Hua. Exposing China’s Semiconductor Vulnerabilities. The Daily Signal,16/08/2021. Disponível em: <https://www.dailysignal.com/2022/08/16/exposing-chinas-semiconductor-vulnerabilities/> Acesso em: 14/02/2023.
Hille, Kathrin. TSMC: how a Taiwanese chipmaker became a linchpin of the global economy, Shanhua, Financial Times, 24/03/2021. Disponível em: <https://www.ft.com/content/05206915-fd73-4a3a-92a5-6760ce965bd9> Acesso em: 15/02/2023.
James, Luke. The global chip shortage explained, Power & Beyond, 14/04/2021. Disponível em: <https://www.power-and-beyond.com/the-global-chip-shortage-explained-a-f90ae1735dbacc1518cd1bcabb1d36eb/?cmp=go-ta-art-trf-PuB_DSA-20230124&gclid=EAIaIQobChMIoqvHyKWZ_QIVQuZcCh2w-QI4EAAYAiAAEgI6aPD_BwE> Acesso em: 14/02/2023.
The semiconductor industry and the power of globalisation, The Economisy, Hong Kong, 01/12/2018. Disponível em: <https://www.economist.com/briefing/2018/12/01/the-semiconductor-industry-and-the-power-of-globalisation?utm_medium=cpc.adword.pd&utm_source=google&ppccampaignID=19495686130&ppcadID=&utm_campaign=a.22brand_pmax&utm_content=conversion.direct-response.anonymous&gclid=CjwKCAiA3KefBhByEiwAi2LDHKjNV_yIUZyLPE908_mtpv1laze17jNw1N76yGQ9uhxItIJfh-Q97RoC5YAQAvD_BwE&gclsrc=aw.ds> Acesso em: 14/02/2023.
Yamamitsu, Eimi. Kelly, Tim. Honda and Nissan to sell a quarter of a million fewer cars because of chip shortage, REUTERS, 09/02/2021. Disponível em: <https://www.reuters.com/article/us-nissan-results-idUKKBN2A90SN> Acesso em: 14/02/2023.