
Keity Oliveira e Lorena Carneiro – Acadêmicas do 5º semestre da Unama
A Terra é um planeta constituído em sua grande parte por água, sendo 70% de sua superfície coberta por esse bem essencial, o que a torna um dos recursos mais abundantes do planeta. Embora seja a substância mais abundosa do planeta, apenas uma pequena parte do total existente no mundo é viável, atualmente, à captação e ao consumo (BARROS & AMIN, 2008).
Dessa forma, a contaminação da água, causada pelo uso desenfreado dos recursos hídricos e pelo crescimento populacional, pode torná-la um recurso escasso e, consequentemente, um bem que passa a ter valor econômico. Nessa perspectiva, é imprescindível discutir sobre como o agravamento da crise hídrica na região amazônica está diretamente ligado com o contexto de exploração predatória dos recursos naturais do bioma.
Historicamente, a Amazônia formou-se como uma relação sociedade-natureza, partindo de uma economia que se baseava na exploração de recursos naturais tidos como “infinitos”, a fim de se alcançar um progresso econômico de maneira “linear”, noção reforçada por potências mundiais (BECKER, 2005).
Essa ideia pode ser percebida pela relação causal entre o desmatamento e a escassez de recursos hídricos na Amazônia, na qual a relação interdependente das florestas e da água, encontra-se ameaçada pela intensa atividade antrópica, causando consequências naturais gravíssimas e impondo à sociedade a experimentação de sensações térmicas nunca antes sentidas, colocando em risco a própria sobrevivência humana e de tantas outras espécies animais e vegetais.
No contexto brasileiro, a Amazônia, o grande berço da biodiversidade e detentora da maior bacia hidrográfica do mundo, vem sendo dizimada por várias atividades predatórias que matam o bioma dia após dia. Garimpos ilegais, ações de madeireiros e pecuaristas conseguiram afetar o funcionamento da natureza, especialmente nos últimos quatro anos, período no qual tiveram total apoio do governo federal, que com sua conivência e omissão ajudaram a destruir a floresta. O que eles esqueceram foi que a Amazônia contribui significativamente para o equilíbrio ambiental da Terra.
Segundo Joice Ferreira (EMBRAPA, 2017), pesquisadora e coordenadora do Núcleo Florestas, Meio Ambiente e Ordenamento Territorial da Embrapa Amazônia Oriental, as florestas, em 2013, retornaram 37% dos 2.300mm de chuva que caíram na Amazônia Central. A transpiração das plantas foi responsável por grande parte desse percentual. A floresta funciona como uma grande “bomba d´água”. A baixa pressão da atmosfera na Amazônia puxa o ar carregado em água do oceano, que cai em forma de chuva na floresta e retorna à atmosfera em volume ainda maior devido à transpiração das árvores.
Estima-se que esse volume gire em cerca de 20 bilhões de toneladas de água por dia (GREENPEACE, 2022). Essas nuvens cheias de água chocam-se com as montanhas dos Andes e dali são distribuídas por todo o continente, facilitando a precipitação de chuvas e assim, abastecendo os reservatórios hídricos das cidades e irrigando plantações, além de perpetuar o ciclo vital das matas e dos rios.
Infelizmente, somente na primeira semana de setembro de 2022, mais de 18 mil focos de queimadas aconteceram na Amazônia (GREENPEACE, 2022). Um aumento de 474% em relação ao ano anterior. E se tem menos floresta, tem menos água. A degradação ambiental reduz o nível de água dos rios, provocando seu assoreamento e até a seca das suas nascentes, eliminando qualquer possibilidade de vida ao seu redor.
Engana-se quem pensa que tal diminuição hídrica iniciada na Amazônia restringe-se a ela. A floresta é responsável pela distribuição de chuvas ao redor do Brasil, beneficiando não somente os outros biomas, como o Pantanal, que é intrinsicamente ligado a ela, mas também às grandes cidades, a exemplo de São Paulo, maior parque industrial brasileiro, o que representa uma boa parte da economia do país.
A principal fonte para a produção de energia elétrica no Brasil é a água, muito pela própria geografia do país. E se há menos água, há menos energia. Com menos energia produzida nas hidrelétricas, o governo aciona outras fontes de geração de eletricidade, como as termelétricas (LEONARDIS, 2021), mas que são muito mais caras e infinitamente mais poluentes. A conta do desmatamento chega, pontualmente, todos os meses nas faturas de energia. O que acontece na Amazônia não fica somente nela.
A seca e a estiagem experimentadas em São Paulo, em 2021, consideradas as piores dos últimos cem anos (UOL, 2021), foram de tamanha agressividade devido aos altos índices de destruição ambiental registrados. Para o biólogo Dannyel Sá (UOL, 2021), “o desmatamento provoca uma mudança na evaporação e retenção das águas no ar e no solo […] esses fatores diminuem a frequência dos ciclos da chuva e desorganizam a periodicidade.”
Há um debate gigantesco em torno do futuro da Amazônia e os riscos que ela corre com a continuidade de sua destruição. Em inglês, fala-se em Amazon dieback, o que em uma tradução seria “o retrocesso da Amazônia” (FERREIRA, 2017), caso o número de desmatamentos e queimadas evoluam e gerem mais períodos de estiagem intensa. O que se desenha é um espiral de destruição, onde mais secas acarretam menos florestas e menos florestas significam mais secas, em um interminável ciclo. Todos esses distúrbios à natureza exercem um papel determinante tanto para a manutenção da biodiversidade quanto para a sobrevivência e subsistência do homem.
A água é um elemento que está em volta e dentro de cada pessoa, que conecta todas as coisas, da vida à morte e que faz parte de um delicado ecossistema global que permeia a sobrevivência da humanidade. O agravamento de atividades antrópicas que auxiliam na degradação ambiental da floresta amazônica é o principal fator de desestabilização dos recursos hídricos e da crescente crise que assola a região. Portanto, é necessário o estabelecimento de um novo paradigma de governança para Amazônia, com apoio político, institucional e da própria sociedade civil com intuito de combater atividades ilegais que cada vez mais avançam de forma predatória pelo território.
A sinalização para a necessidade de proteção das florestas e demais ambientes naturais brasileiros é imprescindível para que a água continue sendo um elemento presente e viável para a sociedade amazônida. Outrossim, o investimento em educação ambiental torna-se cada vez mais necessário neste contexto, pois age de forma a conscientizar a opinião pública sobre a temática, o qual se demonstra as reais necessidades da utilização da água potável, a dificuldade de obtenção e a inevitabilidade de mantê-la adequada ao consumo e à sobrevivência humana (BARROS & AMIN, 2008).
Diante da temática exposta, recomendamos dois documentários, o primeiro se chama “A Lei da Água – Novo Código Florestal” (2015), do diretor André D’Elia e com produção executiva de Fernando Meirelles. O longa esclarece as mudanças promovidas pelo novo Código Florestal e a polêmica sobre sua elaboração e implantação, além de mostrar como a lei impacta diretamente a floresta, e, assim, a água, o ar, a fertilidade do solo, a produção de alimentos e a vida de cada cidadão. A obra se baseia em pesquisa e 37 entrevistas com ambientalistas, ruralistas, cientistas e agricultores, retratando casos concretos de degradação ambiental e técnicas agrícolas sustentáveis que conciliam os interesses de conservação e produção da sociedade. O documentário está disponível para ser assistido no Youtube, através do link a seguir:
< https://www.youtube.com/watch?v=jgq_SXU1qzc&ab_channel=O2PlayFilmes >
O segundo se chama “Mulheres das águas” (2016), do diretor Beto Novaes e retrata a vida e as lutas das pescadoras nos manguezais do Nordeste do Brasil. O modo de vida e a sobrevivência de suas famílias é ameaçada pela poluição de grandes polos industriais e pelo turismo predatório que causam danos ao ecossistema dos manguezais, onde inúmeras espécies marinhas se reproduzem. Dessa forma, o longa destaca o engajamento e a resistência dessas mulheres em busca da preservação e demarcação dos territórios pesqueiros, manutenção e ampliação de seus direitos e melhoria das condições de trabalho e saúde. A obra está disponível para ser assistida no Youtube, através do link a seguir:
< https://www.youtube.com/watch?v=P62sFliw7K8&ab_channel=VideoSa%C3%BAdeDistribuidoradaFiocruz >
Ademais, destaca-se o trabalho realizado pelo Greenpeace Brasil, braço do Greenpeace no país, que se constitui como uma organização não governamental de ambiente, com mais de 30 anos de luta em defesa do meio ambiente. É presente no país desde 1992 com a atuação de ativistas que denunciam e confrontam governos, empresas e projetos que incentivam a destruição da Amazônia e ameaçam o clima global.
Para mais informações, acesse:
Site Oficial: < https://www.greenpeace.org/brasil/ >
Instagram: < https://www.instagram.com/greenpeacebrasil/ >
Facebook: < https://www.facebook.com/GreenpeaceBrasil/ >
Twitter: < https://twitter.com/greenpeacebr >
Por fim, recomendamos o trabalho realizado pelo Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, criado em 1999, que desenvolve suas atividades por meio de programas de pesquisa, manejo de recursos naturais e desenvolvimento social, especialmente no Estado do Amazonas. Entre seus objetivos, estão a aplicação da ação de ciência, tecnologia e inovação de estratégias e políticas públicas de conservação e uso sustentável da biodiversidade amazônica.
Para mais informações, acesse:
Site Oficial: < https://mamiraua.org.br/ >
Instagram: < https://www.instagram.com/institutomamiraua/ >
Facebook: < https://www.facebook.com/institutomamiraua/ >
REFERÊNCIAS
BARROS, Fernanda Gene Nunes; AMIN, Mário. Água: um bem econômico de valor para o Brasil e o mundo. Revista Brasileira de Gestão e Desenvolvimento Regional. 2008. Disponível em: < https://www.rbgdr.net/revista/index.php/rbgdr/article/view/116 > Acesso em: 12 de fevereiro de 2023.
BECKER, Bertha K. Geopolítica da Amazônia. Estudos Avançados 19 (53). 2005. Disponível em: < https://www.scielo.br/j/ea/a/54s4tSXRLqzF3KgB7qRTWdg/?format=pdf&lang=pt > Acesso em: 12 de fevereiro de 2023.
FERREIRA, Joice. A inseparável relação entre florestas e água na Amazônia. Publicado em 21 de março de 2017. Disponível em: https://www.embrapa.br/busca-de-noticias/-/noticia/21383265/artigo—-a-inseparavel-relacao-entre-florestas-e-agua-na-amazonia. Acesso em: 11 de fevereiro de 2023.
GREENPEACE. Tudo está conectado: crise hídrica, desmatamento e a sua conta de luz. Publicado em outubro de 2022. Disponível em: Tudo está conectado: crise hídrica, desmatamento e a sua conta de luz. Acesso em: 12 de fevereiro de 2023.
LEONARDIS, Fernanda Massaro. O impacto do desmatamento da Amazônia na geração de energia elétrica no Brasil. Faculdade de Ciências da Universidade do Porto. 2021. Disponível em: https://repositorio-aberto.up.pt/bitstream/10216/139374/2/528001.pdf. Acesso em: 12 de fevereiro de 2023.
UOL. Estiagem e queimadas: o que tempo seco e desmatamento provocam em São Paulo. Publicado em 24 de agosto de 2021. Disponível em: https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2021/08/24/estiagem-e-queimadas-o-que-o-tempo-seco-tem-provocado-em-sao-paulo.htm. Acesso em: 12 de fevereiro de 2023.