Railson Silva (acadêmico do 5º semestre de RI da UNAMA)

O século XX, foi um palco de grandes acontecimentos para o sistema internacional, em especial a descolonização da Ásia e da África. Nesse contexto, abre-se portas para novas reflexões a respeito dos regimes coloniais e sobre a posição em que se insere o Terceiro Mundo nas relações internacionais e, consequentemente, no sistema internacional e na ordem internacional. Nesse sentindo, Gayatri Spivak é de grande relevância: ao fazer uma das perguntas mais icônicas dentro do pós-colonialismo – ‘Can the Subaltern Speak?’ (‘Pode o subalterno falar?’) (SPIVAK, 2010).

Em primeira instancia, o Pós-Colonialismo representa um conjunto de contribuições teóricas voltados ao novo cenário mundial emergente, na qual traz a questão que não haverá mudança enquanto não houver o reconhecimento de como a forma atual de distribuição de capacidade de agência nas relações internacionais é insustentável, buscando transparecer uma relação de desigualdade que vem se repetindo ao longo do tempo (BALLESTRIN, 2013).

Nas RI (Relações Internacionais) Gayatri Spivak coloca em prática os discursos pós-coloniais e de minorias do sistema, principalmente por ser uma mulher não ocidental em um campo eurocêntrico que se apropria e crítica histórias que não lhe pertencem.(LEITE,2020).

Spivak (2010) publicou “Pode o subalterno falar?” em 1985, a obra se tornou um dos exemplares do pós-colonialismo. Nessa obra, a pensadora faz uma crítica aos pensadores ocidentais Foucault e Deleuze – a respeito de sua filiação pós-estruturalista e desconstrucionista – e uma autocrítica aos estudos subalternos, através da reflexão sobre a prática discursiva do intelectual pós-colonial.

A indiana debate o conceito do termo subalterno por meio do qual Spivak se refere “às camadas mais baixas da sociedade constituídas dos específicos de exclusão  dos  mercados,  da  representação política e legal, e da possibilidade de se tornarem  membros  plenos  no  estrato  social  dominante” (LEITE, 2020 apud SPIVAK, 2010, p. 12).

Nesse viés, ela acaba por relacionar a subalternidade não diretamente ao poder, mas à capacidade de fala que um grupo ou indivíduo tem. O subalterno é sempre representado por alguém que fala em seu lugar, o que sugere que uma situação real de subalternidade apresenta necessariamente um sujeito sem voz. (SPIVAK, 2010)

Em suma, a linha de pensamento de Spivak é imprescindível para os estudos pós-coloniais e de gênero nas RI, visto que, a autora traz importantes debates sobre a autoridade etnográfica, além do mais sobre o “lugar de fala” das minorias em uma perspectiva de direito internacional. No Brasil a obra é debatida também em contexto de produção de conhecimento feministas e filosóficos.

Referências:

BALLESTRIN, Luciana. América Latina e o giro decolonial. Revista Brasileira de Ciência Política, 2013.

LEITE, M. L. dos S. O Pensamento Pós-Colonial e a Problemática da Representação das Vozes Subalternas. Revista Cronos[S. l.], v. 20, n. 1, p. 158–162, 2020. DOI: 10.21680/1982-5560.2019v20n1ID17254. Disponível em: https://periodicos.ufrn.br/cronos/article/view/17254.

SPIVAK, Gayatri C. Pode o subalterno falar? 1. ed. Tradução: Sandra R. Goulart Almeida; Marcos Pereira Feitosa; André Pereira. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2010.