
Victtor Rodrigues Calderaro Pereira – acadêmico do 3° semestre de Relações Internacionais da Unama
A Crise Humanitária, que nos últimos meses tem chocado o Brasil e o mundo, pelas imagens dolorosas de desnutrição extrema e pelas mortes causadas por doenças tropicais, mostraram a materialização de um desastre governamental da política indigenista e vitimou centenas de indígenas Yanomami. Entretanto, o problema nunca foi um segredo de estado, o genocídio indígena sempre foi de conhecimento comum de todos os governos nas últimas três décadas, mas a pergunta é, a que preço o Estado Brasileiro permite que isso aconteça?
De fato, invasões de garimpeiros ilegais às terras indígenas Yanomami não são novidade, a ideia relativista de que o abandono Yanomami não estivesse sendo protagonizado pelos órgãos federais, se torna insustentável. Entretanto, demonstra o quanto a máquina estatal pode fortalecer políticas de morte, haja vista que a calamidade sanitária e a insegurança alimentar permearam o território Yanomami em diversos aspectos, sendo parte de um abandono governamental protagonizado pelo Estado brasileiro. “Os efeitos letais da invasão garimpeira começaram a ser avaliados a partir de janeiro de 1990, quando a situação de saúde dos Yanomami chegou a um ponto tão crítico que atraiu a atenção internacional, forçando o governo brasileiro a criar às pressas um programa emergencial de saúde” (RAMOS, 1993, p.10).
Sob a ótica realista do autor Hans Morgenthau (1948), compreendemos a ideia de que o interesse é definido em termos de poder, ou seja, o interesse nacional é garantido pelo poder nacional, e este, se torna suscetível às políticas de governo, abandonando a visão política de Estado. Nesse sentido, a política de cortes realizada pelo então presidente Jair Bolsonaro, movida por atender unicamente os interesses mercadológicos da indústria agropecuária, resultou no enfraquecimento da política indigenista que, acima de tudo, representou um forte risco a sobrevivência de diversas etnias que, assim como os Yanomami, dependiam diretamente da ajuda federal, simplesmente pelo desinteresse governamental em fornecer ajuda.
Desse modo, o estado de abandono vivido pelos Yanomami em Roraima vinha sendo denunciado, desde meados de junho de 2022, ao final do mandato de Bolsonaro, por Organizações Não Governamentais e por Instituições religiosas, o ex-presidente negou as afirmações de que não havia enviado ajuda, mesmo em meio a claras demonstrações de desconformidade com o interesse de seu governo, em conduzir políticas assistenciais mais incisivas aos povos originários. Apesar disso, segundo informações da Revista Veja, a Fundação Nacional do Índio (FUNAI), por meio de um parecer técnico, reconheceu que não havia condições mínimas para manutenção da proteção aos Yanomami, dado a ausência de recursos no órgão federal (CAMPOS, 2023).
Por fim, a mobilização massiva das forças de defesa do Brasil, dos órgãos federais e das organizações não governamentais, está sendo dedicada ao combate do problema mais latente, a miséria enfrentada por esse povo. Afinal, os caminhos para a mitigação do problema, passarão inevitavelmente pela repressão efetiva aos garimpeiros ilegais e a manutenção de unidades militares na região, para garantirem a segurança das comunidades indígenas. Resta apenas, a inabalável esperança de que dias melhores virão, para que a assistência aos povos originários deixe de ser pautada na “boa vontade” daqueles no poder e se torne uma política de Estado.
Referências Bibliográficas:
CAMPOS, João Pedroso de. Sob Bolsonaro, Funai reconheceu não ter o ‘mínimo’ para proteger os Yanomami. Revista Veja, 24 jan. 2023. Disponível em: <https://veja.abril.com.br/coluna/maquiavel/sob-bolsonaro-funai-reconheceu-nao-ter-o-minimo-para-proteger-yanomamis/>. Acesso em: 30 jan. 2023.
Morgenthau, Hans – Politics among Nations: The Struggle for Power and Peace. Nova York: Alfred A. Knopf, 1948.
RAMOS, Alcida Rita. O papel político das epidemias: o caso Yanomami. Universidade de Brasília, 1993.