
Kamilly Mácola, Pedro Henrique de Aviz e Stefany Campolungo – Acadêmicos do 5º semestre de RI da Unama
Por muito tempo, o campo de análise e estudo das Relações Internacionais foi ligado somente a elementos relacionados a guerras e conflitos, já que essa área surgiu no período das grandes Guerras Mundiais. Contudo, após o fim desse período catastrófico e com influência da virada epistemológica o campo das Relações Internacionais passou a incluir novas áreas do conhecimento em seus estudos. Dentre elas, as áreas da comunicação, que passam a ser cada vez mais presentes nas vidas das pessoas e possuem uma grande importância nas análises e campos de pesquisa das Relações Internacionais por terem influência direta na dinâmica e no entendimento do sistema internacional.
Desse modo, com a contínua modernização das tecnologias de comunicação no mundo globalizado e interconectado, fica cada vez mais prático e rápido o envio de informações que podem ser de diferentes assuntos. Dentre eles, um dos mais acessados e comentados no mundo é do âmbito político, principalmente em períodos eleitorais, momento no qual são divulgadas informações sobre os candidatos e suas propostas de melhoria para o país e suas regiões. Análogo a esse cenário, o autor Eytan Gilboa (2013) trabalha um conceito em seus estudos chamado Diplomacia Midiática, que é caracterizada pelo uso de veículos de comunicação, de tecnologia e mídia internacional para influenciar diretamente em aspectos políticos, sobretudo internacionais.
Ademais, a rápida postagem de informações nas mídias também pode interferir diretamente no resultado de eleições como foi visto em 2018, nas eleições presidenciais brasileiras, onde o bombardeamento de informações foi muito grande e poucas pessoas conseguiam verificar a sua legitimidade, sendo assim, vítimas das fake news e do período da desinformação que marcou esse ano conturbado. Grande parte das informações vieram por parte do eleitorado do candidato Jair Bolsonaro, que ganhou força após a onda de ódio contra o partido do candidato Fernando Haddad, do PT.
Uma das principais características das eleições de 2018 foi o papel das redes sociais na propagação de notícias sobre os candidatos à presidência. É inegável que, durante esse período, o Presidente Jair Bolsonaro, mesmo com discurso radical, teve uma grande base midiática de seus apoiadores. Segundo o Instituto DataSenado, em 2019, 45% dos 2,4 mil entrevistados declararam que decidiram os votos nas eleições de 2018 por meio das redes sociais, sendo as mais influentes o Facebook e o WhatsApp; e como afirma Da Silva (2012, p. 92): “a mídia tem o poder de moldar valores, construir consciências e, portanto, formar opiniões. Assim, nas eleições, a vitória do ganhador é atribuída parcialmente à mídia”.
No ano de 2022, segundo o Presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes, as fake news aumentaram bastante no segundo turno das eleições, tendo recebido, em média, mais de 500 alertas diários de notícias falsas, tendo um crescimento de 1.671% (2022) em relação às eleições municipais de 2020, segundo o portal de notícias G1.
Além de tudo, é imprescindível a imagem da política internacional do Brasil que vem sendo deteriorada no exterior, principalmente com as fake news ao enfrentamento da pandemia do coronavírus, o aumento de queimadas e desmatamento na Amazônia e outras questões sociais. Todos os acontecimentos foram citados acima, além de falas do presidente da república que desconstruiu alguns laços fortes do Brasil com parceiros econômicos e diplomáticos.
Segundo análise do portal Aberje, no ano da pandemia foram publicadas 608 matérias, sendo 571 negativas e 37 positivas, além de frases como “e daí?” e “é só uma gripezinha”, nos jornais dos Estados Unidos, Inglaterra, Espanha, França e Alemanha. Segundo Rafael Duarte, professor de Relações Internacionais da IESB: “A visão do exterior mais técnica está sendo bastante crítica dessa dicotomia que a gente percebe na realidade brasileira — a capacidade da política de estado chamada SUS e o governo, que tem decisões, no mínimo, controversas dentro de um quadro mundial” (BRASIL está com imagem negativa no exterior por conta da pandemia. [S. l.], 20 set. 2020).
Desse modo, podemos concluir o papel das mídias como agentes da informação fundamentais para a construção da política internacional do Brasil, pois todas as falas e posicionamentos de Jair Bolsonaro repercutem, na maioria das vezes de forma negativa, nas mídias internacionais e os demais Estados que não concordam com seus posicionamentos, que irão se afastar e dificultar a criação de acordos bilaterais/multilaterais, o que pode prejudicar questões econômicas, políticas e sociais com o Brasil.
Referências
ASSINATURA, S. O papel decisivo da mídia nas eleições 2018. Disponível em: <https://www.meioemensagem.com.br/home/opiniao/2018/09/27/o-papel-decisivo-da-midia-nas-eleicoes-2018.html>.
BURITY, C. R. T. A influência da mídia nas Relações Internacionais: um estudo teórico a partir do conceito de Diplomacia Midiática. Contemporânea (Título não-corrente), v. 11, n. 1, 16 ago. 2013.
CARDIM’, B. L., Maria Eduarda. Brasil está com imagem negativa no exterior por conta da pandemia. Disponível em: <https://www.correiobraziliense.com.br/brasil/2020/09/4876637-brasil-esta-com-imagem-negativa-no-exterior-por-conta-da-pandemia.html>.
COELHO COSTA, J. UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS. ESCOLA DE COMUNICAÇÃO. REDES SOCIAIS E ELEIÇÕES: O uso das novas mídias em campanhas eleitorais brasileiras. [s.l: s.n.]. Disponível em: https://pantheon.ufrj.br/bitstream/11422/8605/1/JCosta.pdf
Correndo atrás de votos: o papel das redes sociais nas eleições 2022. Disponível em: <https://politica.estadao.com.br/blogs/gestao-politica-e-sociedade/correndo-atras-de-votos-o-papel-das-redes-sociais-nas-eleicoes-2022/>
PEREIRA, I. E. B.; MULLER, K. M. Diplomacia midiática e jornalismo internacional : as notícias globais no âmbito da política externa. lume.ufrgs.br, 2016.
TSE recebe mais de 500 alertas diários de fake news no segundo turno das eleições. Disponível em: <https://g1.globo.com/politica/eleicoes/2022/noticia/2022/10/20/tse-recebe-mais-de-500-alertas-diarios-de-fake-news-no-segundo-turno-das-eleicoes.ghtml>. Acesso em: 22 out. 2022.
FERREIRA, L. FAKE NEWS EM TEMPO DE ELEIÇÕES. Disponível em: <http://repositorio.aee.edu.br/bitstream/aee/16880/1/Monografia%20-%20LETICIA%20AGUIAR.pdf>. Acesso em: 20 out. 2022.