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O grande potencial produtivo do setor agrícola africano é um tópico extremamente relevante para a dinâmica do comércio internacional. Os investimentos chineses no setor, especialmente aqueles voltados à produção de soja, têm provocado mudanças na inserção de países africanos no mercado internacional, ao mesmo tempo que demonstram a importância estratégica do continente para a China.

 Primeiramente, é importante mencionar que o Brasil, os Estados Unidos e a Argentina são os principais fornecedores de soja para o Mundo. Nos últimos anos, com o desenvolvimento da infraestrutura e o escoamento da produção através de portos na região Norte, o Brasil tem se tornado mais competitivo no mercado internacional, exportando grãos de soja a valores mais baixos (REUTERS 2022, online).

Atualmente, apesar de a China possuir uma grande produção interna de alimentos, o país é extremamente dependente da importação de produtos como soja, carne bovina e óleo vegetal, sendo o país que mais importa essas commodities. Ao todo, estima-se que mais de 80% da soja consumida no país é importada. Para a China, o suprimento de grãos de soja é extremamente importante para sua segurança alimentar, uma vez que pode ser usado tanto para o consumo da população quanto para a alimentação de animais (WORLD ECONOMIC FORUM 2022, online).

 Visando diversificar os seus parceiros comerciais, e reduzir a dependência, da importação de soja produzida nos EUA, no Brasil e na Argentina,  a China tem investido na produção de soja na África. Para os países africanos, a relação comercial com a China tem historicamente sido desfavorável, consistindo na exportação de produtos da extração mineral e a importação de manufaturados, máquinas e eletrônicos, de maior valor agregado, resultando em grandes déficits comerciais. Os investimentos chineses têm contribuído para o desenvolvimento do setor agrícola na África, que possui um grande potencial ainda não aproveitado. Além disso, o investimento na produção agrícola tem aprofundado os laços comerciais entre China e África, indo além da importação de recursos minerais (SOUTH CHINA MORNING POST 2022, online).

Países como Tanzânia, Etiópia, África do Sul, Nigéria e Zâmbia já se tornaram exportadores de soja para o mercado chinês, mesmo que em volume muito inferior ao de Brasil, EUA e Argentina. A exportação de países africanos têm sido uma atividade que tem ajudado a importar produtos chineses. Ademais, o setor agrícola na África pode crescer de 2 a 4 vezes, caso atinja a produtividade atual do Brasil (IBIDEM).

É inegável que a expansão da cooperação do Estado Chinês na África tende a suprir seus próprios interesses, demonstrando uma busca por “maximizar o ganho, reduzindo as perdas” e “otimizar suas políticas, posições e interesses” (CASTRO, 2012, p. 428). Ou seja, a China como um dos principais atores da política internacional (por ser um Estado e a segunda maior economia mundial), busca aprofundar laços e incentivos ao crescimento de países africanos, em busca de um novo vendedor competitivo no mercado de produtos que ela depende e um preço mais barato, diminuindo sua dependência de produtos brasileiros, argentinos e estadunidenses e diversificando sua rede. 

Além do mais, pode-se afirmar que esse aumento de produtividade e exportação de países africanos para a China, é de suma importância para o crescimento das dinâmicas comerciais, porém há preocupações a serem escaladas, como o manejo dessa produção dentro dos países da África, no sentido de equilíbrio entre a desenvolvimento interno e exportação. 

Além disso, em um sentido globalista, há a ideia da manutenção da exploração entre Norte-Sul (a China encontrando um novo papel como player internacional), onde o boom de especialização em tecnologia em países do Norte, diminui sua produção interna de produtos agro e dependem de países exportadores para suprir esse déficit interno, em paralelo com as dinâmicas de incentivo ao “desenvolvimento” e críticas aos seus estados ainda “não-desenvolvido e exportador de base”, mostrando as dinâmicas do sistema-mundo, os benefícios seletivos e o crescimento desigual que engrena o funcionamento do capitalismo (ARRAES; GEHRE, 2013, p. 50).

O desenvolvimento da produção de soja no continente africano tem sido uma estratégia adotada pela China para garantir o seu acesso ao produto ao mesmo tempo que reduz a dependência chinesa de importar produtos do Brasil, EUA e Argentina. Apesar de ainda não ter atingido o nível de produção necessário para competir com estes países, as nações africanas têm se beneficiado com a exportação de soja para reduzir seu déficit comercial com a China. Portanto, o cultivo de soja tem se mostrado uma excelente oportunidade para os países africanos, por se tratar do desenvolvimento de um setor com alto potencial até então pouco explorado, que pode no futuro se tornar uma grande fonte de receitas para a balança comercial de nações africanas, à medida que estas ganham espaço no mercado chinês. 

REFERÊNCIAS:

ARRAES, Virgílio; GEHRE, Thiago. Introdução ao Estudo das Relações Internacionais. São Paulo: SARAIVA, 2013.

CASTRO, Thales. Teoria das Relações Internacionais. Brasília: FUNAG, 2012. 

REUTERS. Brazil more competitive than U.S. to ship soy to China, Rumo CEO says . REUTERS, 29 set 2022. Disponível em: https://www.reuters.com/markets/commodities/brazil-more-competitive-than-us-ship-soy-china-rumo-ceo-says-2022-09-29/ Acesso em: 17 nov 2022.

SOUTH CHINA MORNING POST. China to start buying soybeans from Tanzania as it seeks new suppliers. SOUTH CHINA MORNING POST, 29 out 2022. Disponível em: https://www.scmp.com/news/china/diplomacy/article/3107445/china-start-buying-soybeans-tanzania-it-seeks-new-suppliers Acesso em: 17 nov 2022.

WORLD ECONOMIC FORUM. How has China maintained domestic food stability amid global food crises?.  WORLD ECONOMIC FORUM, 7 nov 2022. Disponível em: https://www.weforum.org/agenda/2022/11/china-domestic-food-stability-amid-global-food-crises/ Acesso em: 17 dez 2022.