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A relação sino-brasileira tem se tornado cada vez mais importante para a economia do Brasil. Sendo assim, mudanças ocorridas na China impactam diretamente em alguns setores importantes do mercado brasileiro, seja de modo positivo ou negativo. Desse modo, faz-se necessário tratar sobre a forma como a economia chinesa e a brasileira estão interconectadas atualmente.

Segunda maior economia do mundo, a China é um país que registra US$ 218 bilhões em importações no ano de 2022. Para seu funcionamento, a economia chinesa depende da importação de insumos para sua produção, assim como de alimentos para consumo. Com isso, a venda de produtos primários para a China é extremamente lucrativa, uma vez que o país é o maior comprador do mundo de commodities como soja e carne bovina, bens produzidos em grande escala pelo Brasil (BRASIL DE FATO, 2022, online).

No âmbito comercial, a China é o maior parceiro do Brasil no mundo, representando 53% do superávit comercial brasileiro. Além disso, os chineses também realizam grandes investimentos no Brasil, especialmente no setor petrolífero e energético, incluindo na instalação de fontes renováveis de energia, totalizando o valor investido de US$ 5,9 bilhões em 2021. A participação chinesa na economia brasileira resistiu ao afastamento político brasileiro durante o governo de Bolsonaro, mas não sem dificuldades, como pode ser visto após a decisão da China de suspender temporariamente a importação de carne bovina brasileira em 2021, bem como os entraves para a instalação de tecnologia 5G no Brasil (BBC, 2022, online).

Não obstante, setores como o agronegócio brasileiro conseguiram ampliar sua participação no mercado chinês. Após a retomada das exportações de carne bovina, o Brasil firmou novos protocolos para a exportação de produtos do setor primário para a China (CNN BRASIL, 2022, online).

Apesar de altamente lucrativo, o alto volume de commodities destinados ao mercado chinês fazem com que a economia brasileira seja afetada por variações na demanda do país asiático, sendo o crescimento estável e constante da China essencial para o Brasil. A desaceleração do crescimento chinês, tem gerado discussões sobre a dependência brasileira em relação à China, porém, aprofundar a aproximação com o país também é crucial para o Brasil, tendo em vista o grande mercado consumidor e a participação dos países no BRICS.

A dinâmica da relação sino-brasileira torna-se ainda mais complexa ao considerarmos os investimentos chineses na África. Desde 2013, a China iniciou a iniciativa Belt and Road, que consiste em grandes investimentos em infraestrutura em países estratégicos. Os investimentos em países africanos buscam desenvolver regiões com alto potencial produtivo que até o momento não têm sido aproveitadas. Caso bem sucedida, a medida seria extremamente prejudicial para a balança comercial brasileira, uma vez que a China não seria mais dependente das commodities brasileiras (YOUNG, 2021, online).

Tendo isso em mente, a principal dificuldade para o Brasil tem sido ir além da exportação de bens primários para a China, e aumentar a transferência de tecnologia entre os países (BRASIL DE FATO, 2022, online).

Essa relação Brasil-China, de viés principalmente econômico, se encaixa precisamente em uma das novas discussões do mundo globalizado, a ideia de interdependência, de Robert Keohane e Joseph Nye (1997). Na conceituação dos próprios autores, Interdependência, em sua forma principal, é “definida de forma mais simples, significa dependência mútua” e conceituando-a na política mundial “refere-se a situações caracterizadas por efeitos recíprocos entre países ou entre atores de diferentes países” (Ibid, pag. 7, tradução livre). A partir da conceituação, é explicito que a interligação econômica entre Brasil e China é um exemplo prático dessa interdependência.

Sob outro viés, pode-se aliar essa relação a ideia de David Ricardo (1817, apud SARQUIS, 2011) de vantagens comparativas, onde cada país se especializa nos bens que é mais eficiente, podendo aferir ganhos e também “proporcionar outros a seus parceiros em situação de livre-comércio”, ou seja, “ o comércio induz processos de especialização que podem tornar as economias mutualmente mais eficiente, com mais alto padrão de produção e consumo” (SARQUIS, 2011, p. 32), podendo observar o intercâmbio de tecnologia e de produtos agrícolas entre os dois Estados.

Por fim, pode-se perceber que a relação sino-brasileira é essencial para ambos os países. A inserção no grande mercado consumidor chinês é indispensável para a internacionalização das empresas brasileiras, porém, o baixo valor agregado dos produtos brasileiros entrando na China tornam o Brasil suscetível a perdas consideráveis com a diminuição da demanda agregada na China. Logo, o aprofundamento da relação Brasil e China está vinculado ao aprofundamento da transferência de tecnologia entre os países.

REFERÊNCIAS:

BRASIL DE FATO. Análise | Economia chinesa recupera-se após maior surto de covid-19 desde 2020. BRASIL DE FATO, 19 jun 2022. Disponível em: https://www.brasildefato.com.br/2022/06/19/economia-chinesa-recupera-se-apos-maior-surto-de-covid-19-desde-2020 Acesso em: 11 dez 2022

BBC. Eleições 2022: o que está em jogo para a China na decisão brasileira. BBC, 1 out 2022. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-63094046 Acesso em: 11 dez 2022

CNN BRASIL. Brasil e China vão diversificar e ampliar parceria no agronegócio, diz Ministério. CNN BRASIL, 24 mai 2022. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/business/brasil-e-china-vao-diversificar-e-ampliar-parceria-no-agronegocio-diz-ministerio/ Acesso em: 11 dez 2022

KEOHANE, Robert O.; NYE, Joseph S. Power and interdependence. 1997. Sarquis, Sarquis José Buiainain. Comércio internacional e crescimento econômico no Brasil. Brasília: Fundação Alexandre de Gusmão, 2011.

YOUNG, Carlos E. De volta para o futuro: ciclos de commodities e a concorrência da soja africana no mercado chinês. O ECO, 6 jan 2021. Disponível em: https://oeco.org.br/colunas/de-volta-para-o-futuro-ciclos-de-commodities-e-a-concorrencia-da-soja-africana-no-mercado-chines/ Acesso em : 13 dez 2022