
Mikhail Bruce – acadêmico do 4° semestre de Relações Internacionais da Unama.
Não é de hoje que a rota da seda (One Belt, One Road) é uma das maiores rotas comerciais do mundo. Antigamente, essa era uma série de conexões terrestres e marítimas que conectavam Oriente e a Europa. Essas rotas foram fundamentais para o crescimento e o desenvolvimento de regiões e de grandes civilizações, como Egito antigo e a Mesopotâmia.
Atualmente, a chamada nova rota da seda (Belt and Road Initiative) representa investimentos em vários setores, principalmente ligados a transporte, incluindo também, energia. A rota atual também busca aumentar seu raio de atuação e, principalmente, estreitar relações com países da América Latina, tendo em vista que a China já tem relações oficializadas com o Brasil desde 2009. Tal iniciativa foi proposta em 2013 pelo presidente Xi Jinping e tinha como principal objeto desenvolver a economia chinesa e aumentar o grau de influência. Contudo, só em 2017 que a América Latina foi oficialmente adicionada aos novos planos do governo chines a respeito da nova rota seda. No Brasil, essa relação ocorre principalmente com o setor de agricultura e pecuária, já que a China tem consideráveis participações nos números de exportações desses dois setores.
O principal ponto a ser levado em consideração, principalmente em um período pós pandemia, é que por conta do enfraquecimento de potências regionais e, principalmente, por conta da maior potência regional (Estados Unidos) não conseguir suprir a demanda que a América Latina tanto necessita, dando espaço para a nova rota da seda chinesa começar a plantar suas sementes e futuramente colher seus frutos. Não apenas isso, mas atualmente, a China só perde para os EUA também na quantidade de empréstimos para a America Latina. Contudo, mesmo com essas inúmeras vantagens, a China ainda tem algumas dificuldades em se estabelecer como uma hegemonia regional na America Latina, os principais pontos são: a falta de infraestrutura dos países latino- americanos e a influência estadunidense. Tendo muitos dos seus países com rotas terrestres desconectadas, a região ainda utiliza de modelos que podem ser considerados atrasados, sendo o principal deles as estradas, e uma carência de ferrovias. O segundo motivo foi intensificado no período da presidência de Donald Trump nos Estados unidos, sob a bandeira do “America First” e suas declarações abertamente anti-chinesas.
Com o atual desenvolvimento da China e os atuais conflitos que surgiram nas últimas décadas, e esse aumento da influência chinesa em todo o globo terrestre, com foco na América Latina, pode-se dizer que a qualquer momento esse desejo de se tornar uma potência hegemônica regional, pode levar a China, eventualmente, a vir a entrar em conflito. E, através da ideia de Realismo ofensivo de Marsheimer, podemos ver que ao mesmo tempo em que a nação chinesa busca expandir seus horizontes, ela está preparada para qualquer conflito que venha a surgir, com isso, a hegemonia seria, ademais, influenciada pelas próprias características do sistema internacional anárquico, que ‘’encoraja os Estados a buscarem(na) ‘’ (MEARSHEIMER, 2007).
Pelo realismo ofensivo de Mearsheimer, a busca de poder é a única maneira para que uma grande potência sobreviva em um ambiente anárquico, tal qual o sistema internacional (MEARSHEIMER,2013). Pode-se ver, então, que essa intensificação dos relacionamentos com a América Latina, não parte apenas de interesses econômicos, mas também, de um meio para aumentar seu poder como Estado e fazer frente com um possível adversário. Por fim, tal movimentação no cenário também estimularia outras nações a se movimentarem, e consequentemente, mexendo na balança de poder.
Portanto, conseguimos entender por olhos realistas de que mesmo tendo aumentos na sua influência e em suas relações de negócios, a China não é um país para se superestimar e que do mesmo jeito em que ela busca por negociações e aumentos nas suas parcerias pacíficas, a mesma está a ir de encontro com um grande urso norte americano que a muito tempo está hibernando, mas não sendo por isso, ao mesmo tempo em que ela intensifica seus desenvolvimentos econômicos, não esquece do setor militar.
REFERÊNCIAS
MEARSHEIMER, John. “A Tragédia da Política das Grandes Potências”. Lisboa: Gradiva, 2007.PAUTASSO, Diego et al.
A INICIATIVA DO CINTURÃO E ROTA E OS DILEMAS DA AMÉRICA LATINA. Tempo do Mundo, São Paulo, v. 1, n. 1, p. 80-100, 24 dez. 2020. Semanal.
MATOS, Tiago. Ascensão da China e o Realismo Ofensivo: visão de mearsheimer e o executivo norte- americano. Revista Perspectiva, Minas Gerais, v. 5, n. 3, p. 1-19, jun. 2019. Semanal.