Tiago Callejon Santos

Acadêmico do 6° semestre de Relações Internacionais da Unama

No cenário hodierno, o mundo está focalizando as suas atenções ao maior evento esportivo do planeta, o qual ocorre de 4 em 4 anos, integrando as principais seleções mundias à competição quadrienal (Padilla, 2022) e, pela primeira vez na história, um país do Oriente Médio teve o direito a sediar tamanha competição em seu próprio território (UOL, 2022), o país a saber é o Catar.

Como processo próprio da competição, o país anfitrião da copa possui a tradição de realizar a cerimônia de abertura da Copa jogando contra uma seleção que pertença a mesma chave do país anfitrião. O mais curioso, no entanto, é que anterior ao início da competição, o Catar já estava envolvido em muitas polêmicas envolvendo suas políticas internas e externas, que reverberariam para a Copa e para a sua própria política, como a proibição de cervejas em estádios, acusações de operários em situações análogas à escravidão, descriminação contra minorias LGBTQIA+, corrupção e violação aos direitos humanos (GE, 2022).

Outrossim, o caráter deste artigo é de informar como o Catar possui políticas e estratégias externas que são paralelas às suas políticas públicas, aonde essas políticas reverberam até mesmo em crises contemporâneas como a guerra do Iêmen. Resumidamente, a Guerra do Iêmen é um conflito de natureza civil que teve o seu início em 2014, quando rebeldes houthit apoiados pelo Irã assumiram o controle da capital do Iêmen e depuseram o então presidente Abd-Rabbu Mansour Hadi, presidente sunita apoiado pela colização liderada pela Arábia Saudita. Desde então, segundo a Organização das Nações Unidas, este conflito designa-se como a pior crise humanitária atualmente do mundo, aonde contabiliza-se cerca de 233 mil mortos decorridos do conflito desde o seu início (BBC News, 2022).

Na perspectiva deste conflito mediante ao Catar, o país possui certas tribulações e relações com determinados países àrabes integrantes do Golfo Pérsico, sobretudo Arábia Saudita, Bahrein e Emirados Árabes Unidos, pois, em 2014, estes países retiraram embaixadores do Catar sob alegações que o mesmo estaria apoiando grupos extremistas islâmicos na Síria, Iraque e no Iêmen, além de que o apoio incondicional do Catar ao Irã, o principal rival da Arábia Saudita, também se configurou como fator determinante para tal. Com efeito, a crise destas relações teve o seu estopim em 2017, quando Arábia Saudita, Bahrein, Egito, EAU e outros países do Golfo Pérsico cortaram as suas relações diplomáticas com o Catar (Gigante,2017), isolando o país no que concerne às relações econômicas, políticas e as relações de abastecimento de bens de produção, materiais e bens de consumo às estruturas internas do país.

Ademais às acusações destes países ao envolvimento do Catar com organizações terroristas,  é válido ressltar que na matéria da Guerra do Iêmen, o Catar rejeitou o “apoio incondicional à aliança militar saudita na guerra do Iêmen”  (Blaschke, 2002), o que acabou por afirmar, de maneira explícita, o seu envolvimento ao conflito e o seu apoio incondicional e de longa data ao governo xiita do Irã. Contudo, devido às crises políticas, sociais e econômicas que se decorreram dos embargos econômicos e de abastecimentos ao Catar por meio dos seus países árabes vizinhos, o país, em janeiro de 2021,  comprometeu-se a encerrar por completo o seu envolvimento na guerra do Iêmen, o qual se caracterizaria principalmente retirada de suas tropas militares à região de Ras Doumeira.

No mesmo período, a Arábia Saudita encerrou o seu bloqueio ao Catar o que acabou por permitir, ao menos em primeira ordem, uma relativa paz à região trazendo estabilidade política entre estas nações (Blaschke, 2022) após a pandemia do coronavírus e, deste modo, concebeu-se, finalmente, o estabelecimento do fim direto e indireto do Catar à crise do Iêmen, ao menos é isto que se observa nos posicionamento do país árabe em sua política externa a esta questão.

Referências:

CATAR, Mundo Educação, UOL, 2022. Disponível em: https://mundoeducacao.uol.com.br/geografia/catar.htm#:~:text=O%20Catar%20ganhou%20o%20direito,Oriente%20M%C3%A9dio%20sediar%C3%A1%20esse%20torneio.

PADILLA, Ivan. Embolo vai marcar contra o Brasil? Acompanhe os estrangeiros da Copa. Exame, 2022. Disponível em: https://exame.com/esporte/embolo-vai-marcar-contra-o-brasil-acompanhe-os-estrangeiros-da-copa/

Copa do Mundo 2022: confira cinco polêmicas do torneio no Catar. GE, Globo, 2022. Disponível em: https://ge.globo.com/futebol/copa-do-mundo/noticia/2022/11/20/copa-do-mundo-2022-confira-cinco-polemicas-do-torneio-no-catar.ghtml

A “guerra esquecida” no Iêmen: 8 anos de conflito e 700 ataques aéreos em um mês. BBC News Brasil, 2022. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/internacional-60758741

BLASCHKE, Ronny. Catar: o que o emirado busca com a Copa. Outras Palavras, Brasil, 15 de Março de 2022. Disponível em: https://outraspalavras.net/geopoliticaeguerra/catar-o-que-o-emirado-busca-com-a-copa/#:~:text=Durante%20e%20ap%C3%B3s%20a%20Primavera,saudita%20na%20guerra%20do%20I%C3%AAmen.

Os argumentos de 6 países árabes para romper com o Catar, acusado de apoiar extremistas. BBC News Brasil, 2017. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/internacional-40159150

GIGANTE, Eduardo Aguirre. A CRISE DIPLOMÁTICA ENTRE CATAR E SEUS VIZINHOS. Politize!, Brasil, 08 de Agosto de 2017 – atualizado em 18 de Novembro de 2022. Disponível em: https://www.politize.com.br/qatar-crise-diplomatica/