Ana Mel Grimath – acadêmica do 4° semestre de Relações Internacionais da Unama

A Guerra da Rússia e Ucrânia, que teve início em fevereiro de 2022, persiste até hoje. Durante todo esse período, as ofensivas foram sendo diversificadas e indo muito além de ofensivas militares. Nesse sentido, com a história é possível compreender o alto preço das guerras, tanto humanamente como economicamente, e que o melhor a se fazer é evitar ao máximo essa conjunção.

Entretanto, cada Estado detém uma política diferente e, mesmo vivendo em um sistema interdependente, em 2022 eclodiu efetivamente a Guerra entre a Rússia e a Ucrânia, que na verdade tem raízes muito profundas e um histórico de ofensivas frequentes (CNN, 2022).

A partir disso, se tem uma série de danos em escala mundial, mas principalmente continental. O maior impasse enfrentado nos últimos dias no continente europeu é a falta de gás natural. A Rússia é a principal fornecedora desse recurso para os países da região, mas em vista das sanções impostas pelos países apoiadores da Ucrânia contra a Rússia, esta utilizou dessa “arma” como resposta. Desde exigir o pagamento em rublos até justificar a diminuição da produção de gás por falta de peças produzidas no Canadá da Nord 1 (maior gasoduto da Gazprom) (EXAME, 2022).

Estas e outras justificativas estão sendo usadas pelo governo russo para impedir o fluxo de gás natural nos países europeus, o que é uma preocupação muito grande já que o inverno naquela região já está bem próximo. A suspensão impacta diretamente a vida das pessoas, a exemplo um equipamento muito utilizado pelos europeus, principalmente nessa estação do ano, são os aquecedores, mas com toda essa situação as pessoas terão que procurar outras alternativas ou até mesmo fazer sacrifícios (EXAME, 2022). A alta dos preços dos produtos nos mercados, crises sociais e políticas, desemprego, falência de empresas, desvalorização do euro e saída de investidores na região, substituição por alternativas prejudiciais ao meio ambiente (queima de carvão), todos esses aspectos são as consequências que o continente europeu tem enfrentado durante esse período.

Além disso, ainda mais preocupante é o cenário político da população, a mudança de posição dos indivíduos em relação aos participantes da guerra tem sido comum. Muitos têm passado a manifestar-se contra as sanções impostas à Rússia e a defender o argumento de que assim será possível a compra de gás normalmente de novo. Os países europeus buscam importar de outros fornecedores, mas a verdade é que mesmo com a efetivação dessa alternativa ainda assim não seria suficiente da mesma maneira que é quando a Rússia exporta esse recurso (BBC, 2022).

Ademais, ao estudar as Teorias das Relações Internacionais e autores de Economia Internacional é possível compreender esse jogo político/econômico por meio de autores referenciais. Primeiramente, é importante falar de Reinaldo Gonçalves, que desenvolveu estudos acerca do assunto em seu livro “Economia Política Internacional (2005)”, onde destaca que toda economia é política e que para além de capitais a EPI (Economia Política Internacional) trata de aspectos sociais, culturais, interestatais, etc. A EPI é entendida como a área de conhecimento cujo principal objeto de estudo é “o impacto da economia mundial de mercado sobre as relações dos Estados e as formas pelas quais os Estados procuram influenciar as forças de mercado para sua própria vantagem”. Assim é notório a compreensão da conjuntura em questão, pois dentro da Guerra, que é política, tem-se utilizado de recursos que movem a economia para defesa e/ou ataque.

É importante ressaltar também o conceito de interdependência, que ganha bastante notoriedade com os estudos de Joseph Nye e Robert Keohane. Em “Power and Interdependence (1989)” os autores pretendem construir um meio de olhar para as políticas mundiais que ajudem a entender a relação entre economia e política e padrões de cooperação internacional institucionalizada, enquanto mantém algumas premissas realistas, como: o poder e o interesse. A dependência que uns têm nos outros mostra a necessidade de cooperação contínua além da relação de poder existente ali, entretanto com o impasse da guerra isso tem se tornado inviável e as consequências são desastrosas.

Em suma, fica evidente as grandes e nefastas implicações da falta de gás natural na Europa, ainda mais com a chegada do inverno, em virtude da suspensão da exportação desse recurso por parte da Rússia que ainda persiste na guerra contra a Ucrânia. É preciso entender que essa questão é extremamente ampla e como exposto anteriormente envolve atores e aspectos diversos, mas urge a necessidade de ações que visem ao menos a minimização da conjuntura, uma vez que além de todo o jogo de interesse e poder vidas são afetadas.

Referências:

BARRÍA, Cecília. “Guerra na Ucrânia: como dependência da Europa de gás russo financia invasão”. BBC News Brasil, 2022. Disponível em Disponível em: <Guerra na Ucrânia: como dependência da Europa de gás russo financia invasão – BBC News Brasil>

CAUTI, Carlo. “O inverno está chegando na Europa e a crise energética também”. Exame, 2022. Disponível em: : <O inverno está chegando na Europa, e a crise energética também | Exame>

COOBAN, Anna.“Europa ainda não consegue viver sem exportação de energia russa”. CNN, 2022. Disponível em: <Europa ainda não consegue viver sem exportações de energia russa; entenda (cnnbrasil.com.br)>

GONÇALVES, Reinaldo. Economia Política Internacional. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005. KEOHANE, Robert. NYE, Joseph. Power and Interdependence. 2° edição. Estados Unidos: Harper Collins Publishers, 1989.