Ygor Cardoso – Internacionalista formado pela UNAMA.

O futebol representa, para alguns países, um elemento chamado, soft power. Além de ser um fator de entretenimento da população, serve também para disseminar ideias, definir regimes, organizar resistências e emular conflitos, para reforçar ou até mesmo aumentar a reputação dos países, utilizando do seu soft power para demonstrar determinação e superação de seu povo.

Atualmente, o futebol assumiu um papel considerável dentro das relações internacionais, mas isso não vem de agora. O esporte começou a ser utilizado para medir e fazer propaganda dos estados, principalmente, Estados Unidos e URSS no período pós-guerra fria, e a partir da percepção da chamada governança global, onde o surgimento de diversos atores que exercem governanças específicas, compreendendo especialmente o futebol sendo como um importante mecanismo social e cultural que sofre impactos diretos dos processos de globalização.

Podendo ser utilizado como um recurso de política externa, constituindo-se um espaço interessante onde as relações internacionais têm lugar, pois existe uma variedade de contextos e significados que se pode explorar através do esporte na política mundial.

A FIFA se tornou uma potência econômica, política e jurídica, totalmente capaz de reger um bem cultural, como o futebol. A entidade utiliza o esporte como uma forma de persuasão para os interesses de fortalecimento do esporte em alguns países e os de interesses das próprias nações, pois a copa do mundo é uma pirâmide onde serão gerados benefícios para a população, aquecimento da economia e também geração de empregos, sendo arquitetados por empresas locais ou globais, de acordo com a entidade máxima do futebol mundial.

O crescimento da importância do capital asiático é capitaneado pelo investimento pesado dos chineses. A presença da China como patrocinadora da Copa faz parte de uma estratégia de longo prazo, para tornar o futebol chinês uma potência mundial. O Wanda Group, por exemplo, assinou um contrato para patrocinar o Mundial até 2030.

Os chineses chegaram para ficar, é uma realidade, a prova disto é a de que o presidente Xi Jinping manifestou desejo de sediar a Copa do Mundo, não é à toa que o aumento do patrocínio da China à FIFA, faz todo sentido, e para os próximos eventos, provavelmente, a presença será ainda mais maciça.

Desde 2015, a FIFA vive um cenário de escândalos de corrupção, com seus parceiros e patrocinadores fazendo pressão desde a prisão de sete dirigentes ligados à entidade, com isso, a FIFA teve algumas parcerias revistas e a transparência com os parceiros e patrocinadores precisou modificar várias áreas para minimizar os impactos negativos, devido a uma série de investigações e notícias, como as da CNN e ESPN.

O Qatar e a Copa do Mundo resumem as contradições que se reproduzem pelo globo, em um caso específico de um projeto de desenvolvimento nacional conveniente para alguns e fatal para outros. Espaços estão sendo gerados que assim como a forma de produzi-los são contraditórios e para muitos perversos. A Copa de 2022, segundo a BBC, o mundial reflete a segregação e a intensa exploração se refletem nos espaços construídos da cidade de Doha onde campos de trabalho, arranha-céus e estádios se multiplicam, não necessariamente no mesmo formato, mas reaplicando as funções para que foram pensados. As cidades que estão sendo desenvolvidas para os jogos e para um país em constante crescimento não são as mesmas que abrigam quem as constrói.

Segundo a própria FIFA, o seu sucesso financeiro, provém de vários fatores, sobretudo das parceiras comerciais singulares, que decorrem do interesse empresarial em reconhecer a Copa do Mundo como uma boa oportunidade propagar suas marcas por meio da transmissão televisionada, sendo este um dos grandes fatores relevantes para o êxito da FIFA.

A premissa fundamental é ter noção da maximização dos lucros e obter vantagens, win-win, pois o pilar econômico para os Estados e grandes instituições como a FIFA, optam por vias diplomáticas e o viés social-econômico, para Gilpin, a política divide os povos e a economia os une, onde todos podem ganhar. Uns mais e outros menos.

Reinaldo Gonçalves (2005) afirma que a economia tem capacidade de influenciar a política sobre atores privados ou estatais, a partir da sua autoridade e poder político-econômico. Com isso, a ascensão de atores não estatais, em especial as organizações não governamentais, no processo de formulação de políticas e na própria governança do mercado, contestam a primazia estatal e sua capacidade política e institucional na formulação de políticas para a sociedade e economia.

O próprio interesse no aumento de seleções na Copa do Mundo a partir de 2026 diz muito a respeito das políticas da entidade, e afirma que a mudança ocorreu pelo fato da política de expansão e o desejo de ver mais países atingindo o objetivo de participarem do evento.
Em meio a isto, o presidente da FIFA levou em consideração o equilíbrio, a qualidade da competição, o desenvolvimento do futebol, a infraestrutura, as projeções sobre a situação financeira e as consequências. No nível técnico, jogos ruins vão acontecer, o aumento no número de seleções é mais um erro, porém, este pode se tornar caro ao longo dos anos, causando desinteresse e estádios vazios, mesmo sendo a primeira Copa do mundo que não haverá jogos simultâneos.


Referências:

BBC Brasil – Qatar 2022: por que Copa do Mundo deste ano pode ser a mais polêmica da história –https://www.bbc.com/portuguese/geral-63659502 – acesso em: 28 de Novembro de 2022

CNN Brasil – Ampliação e expansão da Copa do Mundo – https://www.google.com/amp/s/www.cnnbrasil.com.br/esporte/copa-do-mundo-ampliacao-expansao-selecoes-participantes-joao-havelange-fifa/%3famp – acesso em: 28 de Novembro de 2022

ESPN Brasil – A Copa do Mundo com 48 seleções – https://www.espn.com.br/blogs/gustavohofman/660773_a-copa-do-mundo-com-48-selecoes-e-fruto-de-ganancia-e-politicagem – acesso em: 28 de Novembro de 2022

FIFA – All about FIFA – https://www.fifa.com/social-impact – acesso em: 28 de Novembro de 2022

GILPIN, Robert. Global Political Economy: Understanding the International Economic Order, Princeton University Press. 1987. – acesso em: 28 de Novembro de 2022


GONÇALVES, Reinaldo. Economia Política Internacional, Elsevier. 2005. – acesso em: 28 de Novembro de 2022


Nye, Jr., Joseph S. Soft Power: The Means to Success in World Politics. New York: Public Affairs. 2004 – acesso em: 28 de Novembro de 2022


NYE, Jr., Joseph S. Soft Power: The future of power. 2010 – acesso em: 28 de Novembro de 2022

VASCONCELLOS, Douglas Wanderley, Esporte, Poder e Relações Internacionais, FUNAG. 2011. – acesso em: 28 de Novembro de 2022