Amanda Olegário

2° semestre de Relações Internacionais

Desde os tempos da antiga União Soviética, as transferências externas de armas eram consideradas um dos principais elementos da política externa russa, com interesse político em fortalecer ou enfraquecer outros Estados (ou movimentos insurgentes) através do fornecimento de armas. Países como Cuba, Vietnã do Norte (atual Vietnã), Coreia do Norte, Moçambique e Etiópia receberam generosas doações de armamentos, acabando por elevar os custos financeiros para o Estado soviético.

Com a dissolução da URSS, a crise econômica na Rússia e a redução do financiamento público da empresa de patentes russa, a ROSPATENT, as transferências e vendas de armas tanto do país como das demais ex-repúblicas soviéticas se tornaram, em geral, como simples negócios, tornando-se desde então um comércio rentável para a Rússia. Não à toa que o Estado russo é considerado o segundo maior fornecedor de armas do mundo tendo seu custo de produção estimado em 6.5 trilhões de dólares, perdendo apenas para os EUA.

Com isso, a indústria bélica russa tornou-se altamente dependente das exportações de armas, dando menos prioridade à compra de equipamentos militares para as Forças Armadas Russas.

Para o mercado de armas do país continental, a Ásia é a região mais significativa para seus negócios desde 1992, sendo a principal área destinatária da venda de armas, especialmente a China, Índia, países do Sudeste Asiático e do Oriente Médio, como Malásia, Irã e Síria. Apesar do baixo volume de gasto no setor bélico e militar, a América Latina também é representada como parte do mercado de armas russo como forma de inserir a região dentro da promoção do complexo industrial-militar russo, criando uma cooperação político-militar e técnica. Entre 2012 e 2016, os principais compradores da América Latina foram Venezuela, Peru, Nicarágua, Brasil e México.

Outro grande mercado consumidor de armas russas são os países que têm interesse em importar grande quantidade de armas, mas que sofrem embargo dos Estados Unidos e/ou da União Europeia e/ou da ONU, como a própria China, Irã, Venezuela e Sudão.

Vale destacar também o fornecimento simultâneo de armas para países de lados opostos de conflitos, como ocorreu em 1998 com a Eritreia e a Etiópia quando os dois países entraram em guerra e a Rússia vendeu armas para ambos os lados, e da mesma forma o Estado russo vendeu armas tanto para a Coreia do Norte quanto para a Coreia do Sul, demonstrando que a Rússia tinha interesse apenas em lucrar com as vendas de armamentos, não em influenciar os conflitos.

Em suma, o pragmatismo econômico acompanha a política russa de exportações de armas e é possível perceber o predomínio econômico nas transferências de armas por meio do fornecimento para países em guerra, violações de acordos internacionais, restrições mínimas às vendas externas para não aliados e o volume baixo de doações e/ou vendas por preços abaixo do que o “mercado” impõe. Ademais, o mercado de armas russo tornou-se uma fonte segura de produtos militares para os países quem desejam adquiri-los, especialmente os que sofrem embargos, acabando por se “aproveitar” e lucrar em cima disso. Segundo o autor Rodrigo de Moraes (2011), por mais que a Rússia respeite os embargos de armas impostos pela ONU, esse tipo de embargo só poderia ser determinado pelo Conselho de Segurança da ONU do qual o Estado russo é considerado membro permanente dando a ele o direito ao veto.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

TOMÉ, Luis. Mercado de armamentos: continuidades e mutações. Observare – Janus: Metamorfoses da Violência (1914 – 2014), 2014.

FOGATTI, O. de F., ROMERA, A. S., & SILVA, F. M. da. Prospecção de Patentes sobre Marcadores de Munições de Armas de Fogo para Fins de Rastreamento e Identificação de Origem. Cadernos De Prospecção, 14(4), 1326–1342, 2021. https://doi.org/10.9771/cp.v14i4.39202.

MORAES, Rodrigo Fracalossi de. O mercado internacional de equipamentos militares: negócios e política externa. Ipea.gov.br, 2012.

DALL’AGNOL, Augusto; ZABOLOTSKY, Boris; MIELNICZUK, Fabiano. O Retorno do Urso? O Engajamento Militar Russo na América Latina: o Caso do Brasil. Disponível em <https://www.armyupress.army.mil/Journals/Edicao-Brasileira/Arquivos/Primeiro-Trimestre-2019/O-Retorno-do-Urso-O-Engajamento-Militar-Russo-na-America-Latina/&gt;. Acesso em: 26 nov. 2022.